50.Conversas

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Lucas

― Bom dia, bom dia, Bom dia!

Cumprimentei a todos que vi enquanto passava pelo saguão da recepção. Alguns me responderam de volta, outros não como já era de se esperar. Mas eu não me importei com isso, eu estava tão feliz que a infelicidade dos outro não me abalava em nada. A vida era curta de mais para se preocupar com pouca coisa, as pessoas não viam isso e quando iam dar por si, já estavam velhas ou doentes.

― Bom dia Emily. ― Ela era a minha mais nova secretária, e acho que passaria de temporária a fixa. Eu duvidava muito que Lívia iria querer permanecer em seu cargo depois de tudo o que aconteceu. ― Lindo dia hoje não?

― Sim senhor, Lucas. ― sorriu. ― Vejo que o senhor acordou de bom-humor hoje.

― Eu sou um cara mau-humorado? ― me virei para olhá-la curioso. Ela estava apenas uma semana aqui e eu acho que não tinha dado indícios de mau-humor, mas fiquei curioso para saber. Depois de saber que eu ia ser pai tudo na minha vida ficou mais alegre, eu sempre quis ser pai e esse sonho estava se realizando agora.

― Não... senhor Lucas. ― se embolou com as palavras nervosa. ― É que hoje o senhor está sorridente só isso. ― enrubesceu e sorriu envergonhada.

― Não precisa ficar nervosa Emily, foi só uma pergunta. ― disse para tranquiliza-la. ― E pode me chamar de Lucas, nada de Sr. Lucas. Não sou tão velho pra isso. ― entrei em minha sala.

Por um minuto fiquei pensando em Melyssa e no bebê e me preocupei com o que será que ela estivesse fazendo por lá. Suas férias já tinham acabado e ela não poderia se esforçar muito por causa do bebê. Ela me disse que ela ia conversar e pedir um afastamento, mas será que eles permitiriam? Isso me perturbava muito.

Eu ainda não tinha contado a ninguém sobre a gravidez de Mell, nem mesmo para os meus pais. Nós tínhamos concordado em esconder isso por um tempo até que eu resolvesse meu problema com Lívia, e agora isso mais do que nunca não poderia se estender muito já que logo a barriga dela começaria a crescer e as pessoas notariam logo.

― Lucas a dona Lívia está na linha posso passar a ligação? ― Emily apareceu na porta, se ela tinha batido eu não tinha escutado, só quando ouvi sua voz que acordei do meu devaneio.

Foi só pensar ou mencionar o nome de Lívia que ela parecia ouvir e me ligava, isso começava a ficar estranho.

― Pode sim.

― Lucas? ― a voz de Lívia era indecisa.

― Oi Lili.

― Ai meu amor que saudades, como você está?

― Bem. ― na verdade muito bem, mas eu não diria isso. ― E você?

― Com muita saudades de você, mas estou sobrevivendo. ― fez uma voz fatídica.

Eu sabia que ela não continuaria com tanta saudades assim de mim depois que terminássemos e soubesse de toda a verdade. Droga eu tinha que ter contado isso logo, essa mentira já tinha se tornado um iceberg.

― Amor volto no domingo, minha mãe já está melhor. ― falou alegre.

― Domingo? ― hoje era sexta-feira. Meu prazo era curto. ― Mas já? ― perguntei um pouco aflito.

"Não era isso que você queria Lucas?". "Que ela voltasse para que vocês acertassem as coisas?" Era só que domingo era depois de amanhã e em pensar que eu teria que encarar Lívia de frente e contar toda a verdade, meu corpo já se arrepiava com a reação dela sobre tudo isso. Era diferente quando você era pego traindo uma pessoa. Talvez essa opção fosse mais fácil, mas infelizmente eu não era um homem desse tipo.

― Sim algum problema?

― Claro que não Lili. ― pigarreie ao falar.

O único problema era que eu não saberia como encara-la de frente.

― Parece que você não ficou muito satisfeito em saber que estou voltando. ― sua voz era triste.

― Claro que fiquei Lili. ― forcei um riso. ― Foi só impressão sua.

Eu tinha me acomodado com a partida dela para Minas Gerais, eu já tinha até a esquecido na verdade, como se já tivéssemos tido a conversa e agora eu estava seguindo a minha vida com Mell sem nenhum problema.

― Então Domingo você me pega no aeroporto?

― Claro.

― O que está acontecendo Lucas? ― sua voz transparecia irritação.

― Como assim?

― Não sei me diz você. ― resmungou. ― está quase me respondendo com palavras monossilábicas.

― Não estou Lívia é impressão sua.

― Você quer me contar algo?

Eu tinha algo pra contar, mas não por telefone.

― Quando você chegar conversamos.

― Por que não podemos conversar agora? ― sua voz saiu quase como um grito.

― Agora não. Preciso desligar Lívia tenho muito trabalho aqui. ― queria logo acabar com aquele assunto.

― Tudo bem, beijo te amo.

Eu nada respondi. Agora eu estava ansioso, nervoso e ao mesmo tempo que queria resolver tudo com Lívia, ao mesmo tempo não queria vê-la realmente para ter essa conversa. Fiquei um bom tempo fitando o nada.

― Lucas a dona Melyssa está na linha posso passar a ligação?

Saber que meu me ligava trouxe o meu bom-humor de volta. Eu estava sem falar com Melyssa desde domingo passado e hoje já era sexta-feira.

― Amor! ― disse assim que coloquei o telefone no ouvido. Eu precisava ouvir sua voz. Saber como ela estava. ― Como você está? E o nosso bebê?

― Estamos bem. ― sua voz era fraca.

― Aconteceu alguma coisa Mell?

― Não por quê?

― Sua voz está estranha.

― Só estou cansada.

― Você vem amanhã não é?

― Sim. Você me encontra no meu apartamento amanhã?

― Claro meu amor, estou morrendo de saudades e estou preocupado com você e o bebê. Eles aceitaram seu afastamento por um tempo?

― Sim.

― Isso é ótimo. ― suspirei aliviado, pelo menos isso já estava resolvido.

― Preciso desligar não posso ficar muito tempo no telefone, manhã a noite vai até meu apartamento precisamos conversar beijos e saiba que te amo.

― Eu também meu amor.

E desligou. Aquela breve conversa com ela já tinha feito eu me sentir bem melhor.

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora