54.Antes só do que mau acompanhado(a)

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Lucas

Semanas Depois

Correspondia ao seu beijo sem vontade. Os lábios de Lívia se moviam agilmente nos meus, nunca um beijo tinha sido tão insosso, sem sentimento e sem vida antes. Eu já tinha dado beijos escassos em meninas que vi apenas em uma noite que tiveram mais emoções do que está.

Me afastei dela e tentei voltar a fazer o que estava fazendo. Bom eu ainda não tinha feito nada já que a cada rabisco no papel que eu dava uma folha era amassada e arremessada longe. Minha mente viajava para outro lugar fazendo com que toda a minha atenção fosse para outro lugar. Não especificamente um lugar. Uma pessoa. Uma mulher.

As noticias corriam rápidas e eu sabia que Melyssa agora estava vivendo com Daniel. A história parecia se repetir, como se o verbo ficar não existisse no nosso dicionário. O seguir sim, esse vinha sugerido como advérbio, só somente seguir em frente, e como da outra vez eu deveria seguir com a minha vida, mas ainda tinha Lívia e tudo o que envolveu a mentira que nos cercou por um tempo. Isso não era certo com ela, principalmente com ela que era tão boa e pura. A pessoa mais doce que encontrei em minha vida. Mesmo que ela não desconfiasse de nada eu não conseguia agir como se nada tivesse acontecido.

A "praga" que Melyssa rogou em mim se concretizou e nem precisamos fazer sexo em cada canto da casa, ela já fazia parte dali e era impossível não pensar, não vê-la, não sentir seu cheiro em cada canto que eu olhasse ou fosse. E como já era de se esperar eu amassei mais uma folha jogando-a em um canto qualquer do escritório. "Conseguiria eu usar uma arvore inteira nesse ritmo?"

― Preciso te contar uma coisa. ― minha voz saiu baixa. Lívia me olhou por cima do livro que estava lendo.

―O que foi? ― aguçou sua curiosidade.

― É uma coisa seria Lívia. ― seus olhos azuis me fulminaram em assombro e eu começava a ficar nervoso agora.

Lívia se levantou e vinha até mim, mas eu a adverti.

― Acho melhor ficar sentada. ― alertei num pedido.

E assim ela fez, voltou a se sentar como pedi. Eu sentaria a seu lado, mas eu temia que ela me agredisse depois do que eu viesse a contar, resolvi então me sentar na poltrona a sua frente.

― O que tenho para te contar não é nada legal, com certeza você vai me odiar depois disso. Promete que vai escutar tudo o que eu tenho para falar sem me interromper? ― eu não esperaria outra reação dela, eu fui um pouco até irônico ao dizer aquilo. Foi uma coisa idiota de se dizer já que eu sabia que isso que ia acontecer.

― Prometo Lucas, mas fala logo, você já está começando a me deixar nervosa.

Eu não queria que ela ficasse nervosa antes da hora. Droga! Respirei fundo soltei o ar tomando coragem, e seja o que Deus quiser.

― Você lembra-se de quando nós nos conhecemos, eu te contei que tinha aceitado o trabalho em Minas Gerais pelas boas remunerações... e também para esquecer uma pessoa? ― falei pausadamente para que ela entendesse tudo, não porque eu achava que ela fosse burra, mas eu não queria repetir nada. Queria ver apenas uma reação dela.

― Sim, claro que eu lembro. Era uma namorada sua que foi para São Paulo. ― confirmou o fato.

Naquela época eu não entrei em detalhes sobre o acontecido com ela. Não aprofundei a história, eu tinha jurado a mim mesmo de que quanto menos eu citasse o nome de Melyssa, mas rápido eu me esqueceria dela.

― Eu vou te contar realmente o que aconteceu. ― respirei fundo e ela consentiu com a cabeça.

― No dia que eu descobri que ela iria para São Paulo, nós estávamos completando um ano de namoro. ― só de lembrar doía. ― Fomos jantar e naquele dia eu ia a pedir em casamento, mas antes que eu o fizesse, ela se antecipou a me contar que iria para São Paulo. ― eu não precisava entrar em detalhes sobre tudo o que aconteceu naquela noite. ― Eu fiquei tão cego de raiva que não quis mais ouvir nada e sai do meu apartamento dizendo que não queria vê-la nunca mais na minha vida. Naquele dia eu peguei meu carro e dirigi pela cidade sem rumo nenhum, eu só quis sair e lá. ― Lívia me olhava compenetrada, seus olhos azuis meio arregalados como uma criança que ouve uma historia de terror pela primeira vez. ― Eu só queria que tudo aquilo fosse um sonho, mas não foi. ― soltei o ar levando os ombros juntos. ― No outro dia ela foi embora e uma semana depois apareceu pedindo desculpas, dizendo que poderíamos continuar juntos. Mas eu, muito mau quis ouvir o que ela tinha para falar. Eu tinha recebido a proposta de ir trabalhar em Minas uma semana antes e me agarrei aquilo naquele momento. Disse para ele que iria pra Minas e a expulsei do meu apartamento. Eu ainda estava com raiva e Minas Gerais foi o meio que encontrei de tentar esquecê-la.

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora