65. A difícil tarefa de dizer adeus.

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Mell

― Eu acho que não é uma boa idéia você não ir Mell, aquele lugar não é ambiente para uma mulher no seu estado. ― Daniel andava atrás de mim, me repreendendo a todo o momento.

― Não estou doente. ― repeti indignada e até com um pouco de raiva. Eu odiava que as pessoas vissem minha gravidez como uma doença. ― Você deveria ir também, afinal, Lucas era ou pelo menos vocês já foram amigo. ― sugeri colocando a bolsa no ombro e saindo do quarto.

― Não gosto de enterros. ― bufou. Fazia uma carranca, os braços cruzados na frente do peito.

― Essa é só mais uma desculpa para você não ir. ― dei de ombros. Descendendo a escada, pegando a chave do carro no aparador e saindo. Ouvir ladainhas do Daniel só iria me atrasar ainda mais.

Lucas tinha os olhos inchados e avermelhados de tanto chorar. O nariz também avermelhado e fungava sem parar como se sofresse de coriza. Os cabelos desgrenhados e o rosto totalmente abatido, pálido e cansado. Mas esses eram os sintomas do luto.

Eu ainda não tinha me aproximado dele, ele ainda não tinha nem me visto. Estava junto a mãe, a cabeça encostada no ombro da mesma. Usava um terno acinzentado, um dos braços circundava a cintura da mãe a abraçando e a outra mão dentro do bolso da calça.

O lugar estava tomado por um silêncio absoluto, só se ouvia a voz do pastor no vasto campo coberto de lapides a todo redor. Seu trabalho ali era de dizer palavras reconfortantes para todos, que prestavam sua última homenagem à Marcela.

O pai de Lucas estava em um canto mais desolado, abatido. Me aproximei primeiro dele que estava mais próximo de mim.

― Oh Mell! ― sua voz num choramingo me saudou. ― Não está sendo fácil, por mais que se espere que isso vá acontecer, quando acontece é tão triste! ― soluçou e eu o abracei para tentar reconforta-lo. ― Que bom que veio, Marcela gostava tanto de você. ― apertou meus ombros com gentileza me soltando.

― Eu sei Paulo. ― as lagrimas começaram a vir aos meus olhos. ― Eu também gostava muito dela. Vou ir lá falar com o Lucas e a Clarisse.

Me afastei, passando por alguns e falando com outros que conhecia.

― Mell. ― Lucas disse assim que me viu. Levantou o rosto e logo Clarisse também olhou pra mim.

― Oi. ― forcei um riso.

Clarisse me abraçou meio desajeitada e depois Lucas.

― Obrigado por ter vindo. ― sussurrou a voz grossa e áspera pelo choro no meu ouvido.

O abracei, envolvendo meus braços em volta de sua cintura e percebi que ele estava um pouco mais magro e assim permaneci. Fiquei atenta ouvindo o dizer do pastor.

O corpo de Marcela, já havia sido enterrado e todos já tinham saído, mas Lucas permanecia imóvel e eu juntamente com ele.

― Vamos. ― puxei-o de leve com o braço. ― Pense que agora ela não está sentindo mais dor e estar em um lugar bem melhor que o nosso. ― minhas palavras eram encorajadoras.

― Eu sei. ― respirou fundo e soltou o ar. ― Mas é tão difícil dizer adeus. Eu não consigo acreditar que ela se foi.

Era horrível vê-lo sofrendo daquela maneira, meu coração se apertava a cada soluço que ele dava.

― Melhor irmos mesmo, esse ambiente não é para uma grávida. ― forçou o riso e começamos a andar abraçados.

― Está falando igual ao Daniel. ― fiz uma careta da qual ele não viu.

― Só queremos o seu bem. ― me apertou um pouco com o braço que envolvia meus ombros.

― Às vezes acho que vocês me tratam como um bebê. ― levantei meu rosto para fitar o seu. Em seus lábios havia um sorriso tímido, quase imperceptível.

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora