68.Mais essa dor eu não aguentaria.

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Lucas

Lívia olhava para Mell, como se visse uma aberração em sua frente, sua expressão era puro assombro. Os olhos arregalados, a boca entre aberta, os punhos cerrados e dava passos para trás como se isso fosse a fazer fugir da situação a qual se encontrava. Definitivamente ela não sabia o que fazer, aquilo tinha fugido do seu controle e a pegado completamente de surpresa.

Mell, grunhia e chorava, olhava para mim desesperada e em seus olhos ela me pedia socorro. Tudo que eu queria era ajuda-la, mas amarrado eu não podia fazer nada.

― Lívia, você tem que levar ela para um hospital rápido. ―gritei numa ordem.

Ela olhou para mim como se tivesse sido despertada de um transe.

― Eu... não posso...― sua voz saiu tremula.

Me debati na cadeira tentando me soltar usando todas as forças que eu tinha, não que eu não tivesse tentado antes, mas agora as circunstâncias eram mais desesperadoras, Mell precisava de mim.

Meus pulsos doíam, eu sentia, mas a dor não importava agora. Forcei um pouco mais a corda e senti ela se afrouxar um pouco, fui forçando mais e mais até conseguir livrar uma das mãos e depois a outra. Desamarrei os pés e me levantei apressado.

― Cadê a chave do carro Lívia? ― ela se assustou quando me viu de pé a seu lado, não tinha percebido que eu tinha conseguido me soltar.

― O que você pensa que está fazendo? ― eu já tinha começado a desamarrar Melyssa, primeiro as mãos e depois a boca.

― A chave Lívia! ― gritei olhando para ela furioso. ― essa sua brincadeira boba já acabou. Você pode ter certeza que eu vou até a delegacia...

― Aiiii... ― Mell gritou e agarrou meu pulso com força, a respiração ritmada, respirando pelo nariz e saindo pela boca.

― Vai ficar tudo bem. ― disse carinhosamente passando a mão no seu rosto ensanguentado, ela estava fraca e cansada. ― Eu vou te tirar daqui.

Ela forçou um riso. Eu ia tira-la dali de qualquer maneira.

― Vocês não vão sair daqui. ― Lívia gritou, parecia ter voltado a si. Tinha a mesma expressão debochada e obscura de antes.

― Essa palhaçada já acabou Lívia. ― me virei para ela determinado.

― Não, ainda não. ― apontou a arma que escondia atrás das costas para mim.

Aquilo não me surpreendeu, na verdade nem me amedrontou mais.

― Eu acho que você não é tão capaz assim. ― andei até ela e posicionei a arma no meu peito. Aquilo era um desafio. ― Vamos Lívia, se vai me matar anda logo. ― gritei e ela se assustou. O sorriso em seus lábios sumiu e seus olhos se arregalaram. ― Isso não me mete mais medo. ―? olhei de jeito insignificante para a arma em sua mão.

Suas mãos não eram mais firmas, ela tremia. Seus olhos se encheram de lagrima e não demorou muito para ela começara a chorar. Eu tive certeza de que depois disso ela não faria mais nada.

― A chave do seu carro. ― estendi a mão e esperei.

Ela olhou para sua bolsa que estava em uma mesa e eu já tinha entendo tudo. A peguei jogando tudo no chão e logo encontrei a chave que na verdade era a do meu carro. Filha da mãe ainda tinha me roubado. Olhei-a com desprezo.

Eu pedi a Deus para que não estivéssemos tão longe da cidade e consequentemente do hospital.

― Não vai dar tempo Lucas. ― Mell disse com dificuldade quando a peguei no colo. ― Eu... já sinto ele vindo.... grrrrr.... ― seus grunhidos pareciam urros.

― Estamos muito longe da cidade Lívia? ― perguntei desesperado.

Não tive resposta, olhei para trás e Lívia já tinha sumido. Ótimo a safada tinha fugido, eu não esperava menos.

― Você acha mesmo que não vai dar tempo? ― a sentei de novo onde estava. No sofá velho.

Ela apenas balançou a cabeça negativamente. Os olhos estavam fechados fortemente como se estivesse em uma briga interna.

― Você tem que me ajudar Lucas, eu preciso salvar a vida do meu filho. ― pediu num sussurro.

Eu estava fazendo o que podia, mas eu sabia qual ajuda ela estava querendo dizer. Mas tinha apenas um detalhe, eu não era médico. Mas seus olhos me diziam isso.

― Eu não posso fazer isso Mell.

― Sim... você pode. ― apertou minha mão com toda sua força.― por... favor... eu imploro.

― Tudo bem, mas eu não sei como fazer isso.

― Nos filmes não parece ser tão difícil. ― riu de lado.

Nos filmes tudo era uma baita mentira, não disse isso a ela naquele momento. Eu sabia que ela tinha dito aquilo para me encorajar. Olhando por esse lado, e no estado em que estávamos, nossas vidas pareciam um filme. O sequestro, e agora Mell tendo o bebê e eu tendo que fazer o parto, eu nunca quis ser um obstetra, mas teria que me tornar um agora.

Ela tinha razão, o bebê já estava vindo. "O que eu faço?" "O que eu faço?" Perguntei ao subconsciente.

― Faz força Mell. ― pedi lembrando que era assim que diziam nos filmes.

Ela gritou de todas as formas possíveis, cansada pálida e fraca. Faltava pouco, mas eu tinha medo de que, Mell não conseguisse, várias vezes eu pensei que ela fosse desmaiar, mas ela parecia buscar forças dentro de si e continuar.

― Falta pouco. ― minha voz saiu vibrante. ― só mais um pouquinho.

E a criança estava nos meus braços. Não chorava, mas queria abrir os olhinhos, o coraçãozinho eu podia sentira na palma da minha mão, irradiava vida.

― Bem-vindo pequeno. ― disse emocionado. Era tão pequeno e lindo. ― ele é lindo Mell, seu filho é lindo!

Eu sorria abobalhado, levantei os olhos para olhá-la, mas seus olhos estavam fechados.

― Mell? ― chamei. ― Melyssa? ― gritei, mas não tive resposta. Ela estava inconsciente.

Coloquei a mão em seu peito, seus batimentos eram fracos. Senti um arrepio e medo, ela não podia estar morrendo, não agora, não depois de tudo o que passou aqui, não sem ter visto pelo menos o filho. Os nãos eram infinitos, mas a cada batida seu coração ficava mais fraco e eu sabia que a perderia para sempre.

Se Melyssa morresse, essa dor eu não aguentaria.

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora