60.Uma mentira atrás da outra

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Mell

        A melhor coisa de se estar grávida era que nada lhe caia bem. Digo isso pelo lado cético, já que tirando o fato de se gerar uma vida, estar grávida era um saco. Os enjoos sem fim, o sono excessivo, descontrole emocional e o pior de todos o ganho de peso. Mas escolher uma roupa era impossível, tudo que uma grávida veste a faz parecer um bujão de gás encapado. Aquele era o quinto vestido que eu colocava, já que agora minha barriga de cinco meses parecia de seis e a única coisa que grávidas podiam usar para parecem mais apresentáveis eram vestidos.

― Anda Mell, eles já devem estar chegando. ― Daniel colocou a cabeça dentro do quarto, parei de me olhar no espelho apenas para vê-lo.

― Esse vestido não me deixou muito... Hum... ― pedi sua opinião.

― Está linda. ― sorriu amistosamente.

        Eu sabia que não estava linda, mas se ele dizia eu acreditei, se eu não fingisse pelo menos que acreditava eu não sairia daquele quarto. O vestido era simples, não era estampado nem nada, mas isso não alivia  em nada. Eu me sentia um forro de bujão e isso era fato. Não só nele, mas em todos os outros. Eu já tinha feito à maquiagem, o cabelo e agora só faltava colocar a sandália.

― Você me ajuda? ― sentei na cama já colocando meu pé dentro da sandália dourada.

― Com o que? ― adentrou no quarto e parou perto de mim.

― A fechar a sandália, a barriga não me deixa fazer isso mais. ― ri meio sem graça.

― Claro. ― arrastou a poltrona da penteadeira a colocou de frente para mim para que ele sentasse. Estendi um dos pés.

― Você não deveria ficar andando com isso. ― traspassou a correia fina pelo fecho, seus olhos percorrem minha panturrilha um pouco da coxa e fitaram os meus olhos. ― Pode ser perigoso, você pode  se desequilibrar e cair.

― Não é tão alto assim. ― e não era. A sandália era até plataforma justamente para me dar mais apoio aos pés.

― Fazem de tudo para ficar elegantes. ― riu de lado e pegou meu outro pé. ― Nossa, eu não sabia que você tinha uma tatuagem. ― Disse surpreso passando a mão pelas estrelinhas em meu calcanhar. Eram três, uma vermelha, uma verde e uma amarela de tamanhos intercalados.

― Fiz isso quando era adolescente. ― dei de ombros. Foi uma dor desnecessária já que hoje elas não brilhavam mais os meus olhos. ― me arrependo de tê-las feito.

― Porquê?

― Eu fiz mais para afrontar os meus pais. ― ri. ― Fui meio rebelde na adolescência. ― revirei os olhos. ― Eu pedi e eles não deixaram então eu fui lá e fiz escondido. Acho que tinha uns dezesseis anos. Meus pais me colocaram de castigo por um mês.

― Então você foi uma menina má na adolescência? ― perguntou risonho.

― Não má. Eu sempre fui racional tinha medo de fazer as coisas por ter medo das consequências, mas essa foi a coisa mais errada que fiz na minha adolescência. ― Expliquei. ― Eu acho.

― E por que fez estrelinhas?

― Eu achei elas bonitinhas na época. ― olhei para as mesmas. A campainha tocou e olhamos para a porta, acho que deduzindo o mesmo.

― Chegaram. ― terminou fechar a sandália e me ajudou a levantar.

        Daniel e não soltou mais, descemos as escadas de mãos dadas. Ele estava com medo mesmo que eu caísse com o salto? Maria já abria aporta quando descíamos.

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora