Princesa Desencantada

Enchergando Sinais Nas Coisas

Acordei no domingo parecendo uma mendiga, estava descabelada e com a cara toda preta, pelo fato deu não ter tirado minha maquiagem ontem antes de dormir. Tirei minha roupa e entrei debaixo da água gelada, tinha que despertar um pouco, fiz minhas higinenes e sai do banheiro enrolada em minha toalha. Fui ao meu closet e mim vesti.

Look Joana

Fiz um coque em meu cabelo, passei meu hidratante e desce pra pra cozinha. Não avia ninguém na sala, ao entrar na cozinha mim deparo com Mona tomando café e mexendo no celular. Tomei o mesmo e desligue.

- Eu odeio gente que come mexendo no celular- coloco o celular dela em meu bolso. Ela revira os olhos.

- Bom dia- ela sorri de lado.

- Bom dia- comprimentei ela- Quem fez o café?- coloquei um pouco de suco no meu copo.

- A tia Mila, ela foi embora agora cedo e deixou tudo pronto- diz ela se referindo a minha mãe. Assenti começando a comer

Assim que terminamos o café, Mona lavou as louças e foi pra seu apartamento. Naquele dia eu ia fazer o cabelo, pois em breve ia reencontrar um pessoal que estudou comigo no ensino médio. Conto nos dedos de quantos deles eu gosto: até agora foi zero dedo. Eles provavelmente vão querer que eu fale sobre o dia em que fui abandonada no altar, como se essa tivesse sido a única coisa que aconteceu na minha vida nos últimos anos. Quando eu já estava saindo de casa, uma joaninha voou na minha cara. Até hoje me pergunto por que esses insetos e animais em geral existem. Mas, ei! E se for um sinal? O que quer dizer quando uma joaninha pousa em você? Entrei no Google e procurei: "Joaninha bateu no meio da minha cara, o que isso quer dizer?" Eu nunca vi tantas explicações pra uma única coisa. Tinha explicação pra quando a joaninha pousa na mão, pousa no dedo, mas não tinha nada de joaninha na cara. Aí achei uma que dizia que a quantidade de pintinhas que a joaninha tem representa o monte de dinheiro que eu receberia em breve. Puta que pariu! Eu só vi que era uma joaninha, não parei pra analisar pintinhas. Eu tinha cabelo marcado pras 10:30 e já eram 9:57! Será que ia me atrasar se fosse procurar aquele inseto nojento? Eu não enxergo absolutamente nada com os olhos que Deus me deu. Já com a lente que eu mim dei, enxergo um pouco melhor. Eu ia procurar aquela joaninha e dar um fora dali.

- Cadê essa puta?

Imagine um sol escaldante. Imagine uma mulher ruiva. Agora imagine um bebê de tubo de ensaio. Viu? Você imaginou tudo que eu mandei. Talvez não o bebê de tubo de ensaio porque nem eu sei o que é isso. Mas já tenho um domínio sobre você. Adoro me sentir poderosa! Minutos se passaram desde que comecei a procurar a joaninha maldita. Algo na minha mente dizia "Joana, a joaninha tava apenas voando e por acaso ela bateu no seu lindo rosto". Mas algo dizia "Uma joaninha pode indicar para mais fortuna". O QUÊ QUE ACONTECEU COM MIGO? Eu tava achando que uma coisa aleatória tinha significado profundo. Comecei a xingar o universo de todos os nomes possíveis. Achei injusto eu não encontrar aquele insetinho minúsculo que me agrediu. Durante os xingamentos só vi uma mulher gritando: "Filha, saí de perto dela, vem pra cá"! Não só eu, mas as pessoas tavam achando que eu estava maluca. Levantei a cabeça pro céu e disse "Universo, se você é de verdade, me dê um sinal". Abaixei a cabeça e lá estava só sinal... fechado, inclusive. Fiquei esperando aquela desgraça abrir. Cheguei no salão e todas as mulheres tavam conversando sobre horóscopo. Eu tenho 20 anos na cara e sou bem grandinha pra esse tipo de coisa. As pessoas ficam loucas querendo fazer meu mapa astral, mas a única coisa que eu quero elas me façam é o favor de parar. Acredita que elas prevêem com quem vão se dar bem ou não? Meu mapa astral deve ser do buraco quente porque nenhumas delas se dá bem comigo. Mas não é problema meu, afinal, sou maravilhosa. Já elas, nem tanto. Comecei a fazer a hidratação e quando olhei pro vidro do salão tinha uma sujeira. Que porcas! Nem o vidro limpam direito. Mas logo do lado da sujeira tinha uma joaninha! "Ah, Joana, não acredito!" Sim! Eu devo ter ficado uns dez minutos abservando aquela joaninha perambulando pelo vidro, sem voar, quietinha na dela. Eu tava doida pra levantar daquela cadeira e contar as pintinhas dela, mas a mulher que tava fazendo meu cabelo não parava de conversar. Peguei o braço dela, comecei a apertar com minha unha e falei:

- Termina essa porra agora!

Ela me olhou com o olhão arregalado, bem assustada, e logo em seguida continuou o trabalho. Então, ela me levanta da cadeira puxando pelo meu cabelo e disse:

- A próxima vez que tu enfiar a unha em mim, tu vai sair daqui careca, sua folgada.

Rimos. Era só brincadeira. A Claudinha e eu já nos conhecemos há muitos anos. Duvido que alguém falaria assim comigo de verdade porque eu tô sempre preparada pro meu primeiro homicídio. Reboquei ela de porrada e voltamos ao precedimento. Aquela lerda demorou além do esperado pra terminar meu cabelo, mas pra minha felicidade a rapariga da joaninha ainda tava no vidro. Levantei depressa, peguei a bolsa e fui me aproximando lentamente dela. Como eu morro de medo de animais, fui ao Google de novo pra saber qual seria a melhor abordagem: "Como se aproximar de uma joaninha sem pegar doença". O celular escorregou da minha mão e caiu com a tela virada pro chão. Tremi, fiquei nervosa e aflita porque era um iPhone. Quando virei o telefone pra ver se tinha rachado, tava aberta aquela página sobre o que significa quando a joaninha pousa em você. Hmmmmm... Isso é armação do universo! Fui ler de novo e descobri que as pintinhas informam a quantidade de dinheiro, mas, dependendo da mão em que a joaninha pousa, eu posso ganhar ou perder essa quantia. Mas aquela vaca tinha pousado no lado direito da minha cara... Será que isso ainda significa que eu ia ganhar? Não sei, só sei que tinha que pegar aquele bicho com a mão direita pra ganhar. Fui tentar, mas assim que encostei ela voou na minha cara de novo. Foda-se aquela merda... Eu só queria saber quantas pintinhas ela tinha. Peguei meu celular, abre a câmera e tirei uma foto da joaninha na minha cara. Quando dei zoom, descobri que ela só tinha seis pintinhas. O que eu vou fazer com seis reais? Foi aí que ela voou pra minha mão esquerda. NÃO! Isso não pode estar acontecendo! Assim eu vou perder seis reais! Ah, mas não vou, não! Dei um tapão e matei a joaninha. Eu, hein? Fica subindo em mim e ainda quer mim tirar dinheiro? Saí fora! QUE ARREPENDIMENTO! Eu sou durona, mas quase morri de remorso. Deitei na cama e fique pensando que talvez ela tivesse família. Eu sou mesmo um monstro. Pelo menos um mostro bonito de rosto. Sempre fico muito pensativa antes de dormir e sempre acabo ficando chateada por alguma coisa que eu mesma inventei. Liguei a TV e coloquei na minha Netflix, chega de estresse por hoje.