Débora narrando ⭐
Devia ser a décima vez que eu ligava para o Felipe, para saber se estava tudo bem com a Mel. A professora dela não pôde ir, e eu não tinha opções de com quem deixar ela. Ele foi a melhor opção.
No final do meu expediente, Joana avisou que havia alguém aqui que queria me ver, mas ela não disse quem. Mesmo assim, autorizei a entrada, se fosse alguém que eu não iria querer ver Joana me diria quem era - ou não. A porta se abriu, e me surpreendi ao ver Luara parada me encarando.— Eu sei que você ainda está brava comigo. Mas eu preciso de uma amiga, e você é a única que talvez me entenda — disse um pouco sem jeito.
— Lu, eu exagerei, tenho que admitir isso — confessei. — Entra, e conversa comigo.
Ela sorriu e fechou a porta. Caminhou até a cadeira e sentou, ela mexeu na bolsa por alguns instantes e tirou uma sacola preta que havia algo dentro, respirou fundo e colocou em cima da minha.
— Eu preciso da sua ajuda com isso — disse um pouco nervosa.
— E o que exatamente é isso? — Perguntei confusa.
Ela empurrou a sacola em minha direção, entendi que fosse para pega-la. Assim fiz, abri a mesma e deparei-me com dois testes de gravidez. Minha reação não foi como ela esperava, senti minha respiração falhar, meu coração ficou acelerado. Fechei meus olhos e por alguns instantes voltei ao dia que eu estava usando um desses, lembrei que não foi um dia fácil, mas a Luara estava lá do meu lado, enquanto eu chorava ela me abraçava e dizia que estaria do meu lado sempre, que eu nunca estaria sozinha. E realmente ela não me deixou sozinha.
— Você está... Está... — gaguejei, eu não conseguia sequer terminar a frase.
— Eu não sei. Mas eu não queria fazer isso sozinha, então pensei... — Ela estalava os dedos. Acho que seu nervoso deixou meu estado catatônico passar despercebido. — Déb...
— Oi, é... Claro. Tem um banheiro aqui, você pode usa-lo, eu te espero aqui — falei, entregando os testes.
Ela assentiu, pegou os testes da minha mão e foi em direção ao banheiro. Metade de mim queria muito que minha amiga fosse feliz, mas a outra metade egoísta não queria que ela estivesse grávida. O que estava me atormentando é que a metade egoísta estava vencendo.
Cinco minutos depois Luara saiu do banheiro segurando os dois testes, pela sua feição eu não consegui identificar qual fora o resultado.— Então... — Falei um pouco ansiosa.
— Não foi dessa vez — deu um sorriso fraco e deixou os testes em cima da mesa.
Alívio. Eu senti alívio. Mas o pior foi o sentimento de culpa que eu senti por estar aliviada. Não era algo que eu poderia controlar.
— Você é nova, Luara — resolvi conforta-la. — Vai ter muitas oportunidades ainda. Não precisa levar a situação como algo ruim.
— Eu sei. Mas é que... Eu vi o Arthur com a Mel sabe?! Ele olhava para ela de um jeito, que eu pensei que ele queria ser pai, e... Por um momento achei que pudesse fazer isso — disse com certo desânimo. — Mas, eu não sei se eu realmente estava pronta para ser mãe. Foi melhor assim.
— Ser mãe é complicado, você sabe tudo que eu tive que abrir mão. Eu amo minha filha, mas é complicado. Relacionamento de vocês está no início. — Me mexi um pouco desconfortável. — Dê tempo ao tempo.
— Obrigado, eu sabia que você me entenderia e me diria a coisa certa — disse sorrindo.
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— Eu não fiz nada de errado. Fomos dar uma volta, e voltamos cedo para casa. — primeira coisa que Felipe disse quando coloquei os pés dentro de casa.
— Hum. Cadê a Mel? — perguntei jogando as chaves na mesa de centro.
— “To” aqui mamãe. — ela apareceu na sala, abraçada com sua fiel boneca.
Abaixei e beijei a testa da mesma. Ela depositou um beijo na minha bochecha. Verifiquei minha filha para ter certeza que estava tudo bem com ela, nunca se sabe né?! Mas por incrível que pareça, Felipe havia passado vinte quatro horas sem fazer nenhuma burrice, acho que isso já era um grande avanço.
— Você não sai não? — Perguntou mudando de canal.
— Eu não sou mais adolescente. Ao contrário de você, tenho responsabilidades como, por exemplo, uma filha. — Respondi indo para meu quarto.
— Que vidinha chata essa sua, ein? Como aquele seu namorado te aguenta? Ah! Esqueci ele é outro mala.
Peguei um de meus sapatos, voltei á sala e joguei no mesmo. Ele foi mais rápido e se desviou rindo.
— Idiota!
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Sabe quando você acha que deve ficar em casa? Podemos chamar isso de intuição ruim, era isso que eu estava sentindo. Mas eu não poderia simplesmente ligar para meu chefe e dizer que eu não poderia ir trabalhar porque estava sentindo que eu não deveria sair de casa. Eu iria receber no mínimo uma carta de demissão, sem nenhuma recomendação. Na minha situação última coisa que posso ficar, é desempregada.
Quando cheguei ao prédio senti meu celular vibrar, e era uma mensagem da Joana dizendo que não iria trabalhar, pois estava com uma gripe forte. Como eu disse, não iria ser um dia bom. Assim que o elevador abriu e eu saí, havia algumas pessoas entrando, sorri, e dei um bom dia simpático. Eu não tenho muitas amizades aqui, tirando a Joana, eu só converso com o resto do pessoal quando assunto era sobre trabalho. Eles deviam achar que eu era um nojo de antipática.
Trabalhei em alguns projetos no computador, usando AutoCAD. Estava concentrada quando minha porta foi aberta sem aviso. Olhei para porta no mesmo instante, e minha surpresa foi tomada por desgosto no momento que vi o Ricardo parado dentro do meu escritório, ele já havia fechado a porta.— Posso te ajudar em alguma coisa? — Perguntei encarando-o.
Ele abriu um sorriso cínico, e seus olhos vieram parar na parte exposta das minhas pernas. Minha não saia não era curta, mas o safado conseguia ver malicia em tudo, não precisava nem abrir a boca, só com aquele olhar nojento dele dava para perceber que os pensamentos dele eram impróprios.
— Claro! Você sempre pode me ajudar. — Colocou suas mãos em sua calça social preta, e deu alguns passos se aproximando da minha mesa.
— Você poderia ser rápido? Estou quase na minha hora de almoço.
Ele continuou me encarando, e eu estava começando a ficar nervosa. Levantei pegando minha bolsa, mas assim que tentei passar por ele, ficou em minha frente me impedindo de prosseguir.
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Sempre foi você
Подростковая литература+15 | Por um deslize, a vida de Débora mudou de um jeito irreversível. Obrigando-a mudar seus objetivos, dando outro caminho para suas preocupações. Após anos, quando finalmente ela está conseguindo colocar sua vida nos eixos, algo acontece perturba...