Capítulo 8

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Débora narrando ⭐

Entramos na casa, tive que ficar mandando Luara e Joana calarem a boca. Mas elas ainda achavam que estavam na boate, então começaram a cantar e dançar feito duas loucas. Olhei para escada, deixei as duas piradas no andar de baixo e fui à procura da minha filha. Estava com saudade da minha pequena, eu precisava vê-la naquele momento.
Comecei abrindo todas as portas, até abrir uma e na realidade eu queria nunca ter aberto aquela porta. Mel estava deitada na cama, com a mão na boca do jeito que ela ficava todas as noites, só que invés de segurar a minha mão, ela estava segurando a mão do Arthur. Ele dormia todo torto na cadeira, tenho certeza que ela pediu para ele cantar. Por que isso está acontecendo? Senti meus olhos marejarem. O álcool no meu sangue não estava ajudando em nada em manter minha estabilidade emocional.

Meu estômago embrulhou, e uma tontura me atingiu. Droga! Esse é o efeito de beber além do limite, olhei e avistei um banheiro dentro do quarto, corri até o mesmo e me abaixei ao lado do vaso, colocando tudo que estava em meu estômago para fora. Senti alguém juntando meu cabelo, para que eu vomitasse sem que ele fosse parar dentro do vaso junto com meu almoço.

— Acho que alguém bebeu além da conta — a voz rouca e grossa ecoou pelo meus ouvidos.

— Eu sou uma péssima mãe. Deixei minha filha com um estranho, para ficar enchendo a cara. — choraminguei passando a mão na minha boca e me arrastando até encostar na parede ao lado do vaso.

— Ei! Para com isso. Nós nos divertimos, ela é uma boa garota. — disse agachado na minha frente.

Então feito uma louca comecei a chorar, quando dei por mim deixei escapar soluços da minha garganta. Inicialmente ele me encarou assustado sem saber muito o quê fazer. Mas logo tomou uma atitude, senti seu corpo se aproximar e seu braço passar envolta do meu ombro, em um ato insano deixei minha cabeça cair em seu ombro, e respirei fundo sentindo seu perfume. Era o mesmo. Depois de cinco anos, era o mesmo perfume. Por que eu lembrava até do perfume dele, e ele sequer se lembrava de mim? Seus dedos começaram se movimentar, acariciando meu braço, meus olhos foram lentamente fechando até que apaguei.

Meu mundo girava quando abri os olhos naquela manhã. Eu nunca mais iria ingerir nenhum tipo de bebida alcoólica. Eu sei que todo mundo que está de ressaca diz isso, mas só dura até a próxima bebedeira. Mas eu, Débora Ferraz, estava falando sério.

Sentei na cama me sentindo completamente tonta e enjoada. Abri meus olhos devagar, e encontrei o quarto completamente escuro, não tinha menor ideia de que horas eram e por alguns segundos eu não sabia nem onde eu estava exatamente. Mas infelizmente eu me lembrei de onde estava também me lembrei da noite passada. Eu chorando no banheiro... Arthur me abraçando. Que vergonha! Eu definitivamente iria ficar longe de bebidas.

— Bom dia. — Olhei para porta de onde veio à voz. Arthur estava encostado no batente da porta segurando um copo d'água e algo na outra mão. — Trouxe isso para você, vai ajudar a você a não ter uma dor de cabeça infernal.

Eu senti meu rosto queimar. Constrangida não chegava nem perto do meu estado. Desviei os olhos e puxei o edredom que cobria minhas pernas nuas. Pera aí, nuas? Levantei o edredom e notei que só estava vestida com uma camisa masculina que pelo perfume com certeza era dele e minha calcinha que sinceramente não tapava muita coisa. Olhei para ele com um certo desespero, eu não me lembro de nada depois que eu apaguei. Será que eu acordei e... Ai meu Deus!

— Seu vestido estava sujo de vômito. Não consegui achar nada nas coisas da Luara — explicou provavelmente vendo minha cara de interrogação. — As duas ainda estão dormindo. Mel já está acordada, estamos cozinhando.

Nada do que ele disse tirou da minha cabeça que ele me viu seminua.

— Você... Trocou minha roupa?

— Sim — ele franziu a testa e se remexeu desconfortável. — Mas eu juro que não olhei nada, só queria te deixar confortável para dormir.

A situação não era nada confortável. Era bem menos para mim. Ele percebeu meu desconforto e resolveu não falar nadar, só se aproximou e me deu o copo com água e um comprimido, mostrou onde tinhas umas roupas que eu poderia vestir e saiu do quarto fechando a porta.

As roupas que o Arthur deixou para que eu vestisse, era um short curto, quando digo que era curto, é porque era curto mesmo e uma blusa que deixava minha barriga de fora.

Provavelmente essas roupas eram da Luara, que era um número a menos que eu. Eu estava simplesmente ridícula. Mas ou era aquilo, ou era a camisa dele e minha calcinha.
Assim que abri a porta do quarto, coloquei apenas a cabeça para fora verificando se havia alguém no corredor. Vibrei internamente por ver o corredor vazio. Eu sei que uma hora ou outra, todos me veriam com essas roupas ridículas, mas quanto mais tarde melhor. Comecei caminhar pelo corredor descalça, e um pouco zonza.

O Advil que eu tomei não havia começado a fazer efeito ainda, mas esperava de coração que não demorasse.
Quando comecei a descer as escadas, ouvi a risada da Mel enquanto o Arthur falava alguma coisa, não deu para entender, a voz dele era rouca e falou baixo. Respirei fundo e tornei a descer. Cheguei à cozinha, e senti novamente aquele aperto no coração. Sabe o quê é você fantasiar uma coisa durante anos da sua vida? E quando essa coisa acontece de forma surpreendente você simplesmente não pode fazer nada, porque eu sei que alguém sairia magoada nessa história e sinceramente minha amiga não merece isso. Na realidade eu também não mereço, isso é tudo culpa dele. Tudo culpa dele.

— Cadê a Luara? Você precisa controlar essa sua namorada Arthur. — Um cara moreno, alto e com certeza lindo, entrou pela porta principal dizendo.

Arthur estava tão distraído fazendo cookies com a Mel, que não havia reparado minha presença. Ainda bem né?! Porque eu estava feito uma idiota parada encarando eles. Mas assim que ele ouviu a voz do cara que eu não tenho à menor ideia de quem era ele se virou e infelizmente — ou felizmente — me notou. Enquanto ele secava as mãos em um pano de prato, seus olhos desceram para minhas pernas, e tudo então pareceu em câmera lenta, quando seus olhos chegaram aos meus depois de checar todo meu corpo, senti um arrepio atravessar meu corpo.

— Que merda você está fazendo cara? — o cara disse passando ao meu lado e vendo Arthur todo sujo de farinha de trigo.

— Mamãe! — Mel gritou assim que me viu.

Ela correu em minha direção, e eu me agachei deixando que ela passasse os bracinhos envolta do meu pescoço. A situação ainda era bizarra, Arthur sequer tinha aberto a boca, ele ainda me encarava e agora o cara encarava nós dois.

— Desculpa! Essa é a Débora, e essa pequena é a filha dela, Mel. — Arthur disse finalmente. — Esse é meu empresário Diogo. Ela é amiga da Luara.

Diogo suspirou de alívio. Não entendi o motivo. Será que ele achou que eu e o Arthur tínhamos alguma coisa?

— Desculpa gata! Eu passei voado, e nem falei com você — disse e me lançou um sorriso. Retribui. — Na realidade eu achei que o Arthur havia enlouquecido e... Deixa para lá. Eu viajei nos meus pensamentos.

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