Capítulo 49

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Débora narrando ⭐

Acordei e me deparei com pouca claridade entrando através de uma brecha da cortina. Levantei minha mão livre e passei pelos olhos. Ontem eu tive um sonho… Foi tão verdadeiro.

Arthur estava aqui, ele estava chorando e principalmente ele estava bem. Passei meus olhos pelo o quarto e senti meu coração bater descompassadamente quando o vi dormindo todo torto na poltrona ao meu lado. Então foi real? Ele realmente estava aqui? Ele está bem mesmo?

Ele se mexeu na poltrona e acho que ele estava acordando. Não consegui desviar os olhos dele, Arthur se mexeu mais e resmungou algo levando a mão no pescoço. Devia estar dolorido pela forma que ele estava dormindo. Continuei em silêncio observando seus movimentos, de repente ele virou o rosto e me encarou. Se levantou rapidamente e parou em pé ao lado da cama.

— Ei! Bom dia. Como você está se sentindo? — perguntou me analisando.

— Onde você estava? — ignorei o que ele disse. Eu precisava saber.

Ele desviou os olhos e segurou minha mão.

— Podemos conversar depois? Eu vou responder todas as perguntas que você quiser. Mas agora só preciso saber como você está se sentindo.

— Eu estou bem — puxei minha mão colando no meu colo. — Chama uma enfermeira, por favor. Quero ir embora daqui.

Ele assentiu e saiu do quarto em seguida. Eu estava feliz que ele estava de volta e bem, pelo menos aparentemente, mas eu estava magoada. Seria sempre assim? Ele teria um problema e iria sumir? Meu coração não iria aguentar essas atitudes dele, não mesmo.

Menos de cinco minutos ele voltou com uma enfermeira. Ela sorriu e se aproximou.

— Está se sentindo melhor? — perguntou colocando o aparelho de pressão no meu braço.

— Sim — respondi de forma simples.

Ela fez alguns exames e por fim disse que estava tudo bem, mas que eu precisava me alimentar melhor. Não era só por mim, mas também pela minha bebê. Uns vinte minutos depois o médico me deu alta e eu dei graças a Deus. Não aguentava mais ficar naquele hospital. Arthur estava quieto no canto, só observava tudo. Era melhor assim, não estava afim de conversar ainda.

— Vamos tirar essa camisola ridícula e vamos embora? — Luara disse entrando no quarto segurando uma bolsa que deveria ter minhas roupas.

Uma hora depois eu estava chegando em casa, eu vim no carro do Luara. Felipe ficou cuidando da Mel, ele deve ter levado ela para escola. Luara estacionou seu carro na porta da minha casa, Arthur estacionou o seu logo atrás. Sim, ele veio nos seguindo.
Luara abriu o portão, peguei minhas coisas e entrei em casa. Deixei minha bolsa no sofá e fui até a cozinha tomar um pouco d’água.

— Bom, eu preciso resolver umas coisas. Mais tarde eu volto. — Luara gritou da sala.

Eu sabia o que ela estava fazendo. A encarei fuzilando-a e ela mexeu os lábios dizendo: eu te amo.
Ouvi o portão batendo e eu sabia que o Arthur estava parado na sala. Terminei de tomar minha água e voltei para a sala.

— Se você quiser que eu vá embora eu...

— Não. Eu não quero que você vá. — disse me sentando no sofá. — Mas eu também não quero que você fique, é contraditório.

— Eu entendo. — disse se sentando ao meu lado, ele apoiou o cotovelo nos joelhos e ficou encarando o chão.

— Eu fiquei com medo de que tivesse acontecido alguma coisa com você… Então, você aparece aqui bem e a única coisa que consigo pensar é que você não me procurou porque não quis.

— Débora… — ele começou a dizer e me encarou.

— Onde você estava? — o interrompi.

— Na casa de praia, eu a comprei. — ele respondeu.

— Você sabia que eu estava lá e você veio para o Brasil. Foi isso?

— Só me entende, eu…

— Você estava passando por um momento difícil. Eu já ouvi isso.

Ele me olhou de um jeito machucado? Eu sei que ele perdeu a mãe dele, mas eu estava ao lado dele, tudo que eu queria era ser o porto seguro dele e a única coisa que ele fez foi me afastar e sumir. Ele não tinha o direito de estar machucado, não comigo.

— Acho melhor você ir. Preciso descansar — falei, não era uma mentira de fato.

— Eu… Eu queria ver a Mel.

— Você ficou meses sem a ver. Você vai conseguir ficar mais um dia.

Ele me olhou como se eu tivesse dado um tapa na cara dele. Depois de uns segundos ele assentiu, levantou-se do sofá, se inclinou sobre mim e beijou minha testa, fechei meus olhos ao sentir o toque do seus lábios na minha pele. Em seguida ele saiu pela porta e eu senti meu rosto molhar. Gravidez me deixava tão sensível, isso era uma droga.

Ele havia voltado. Ele estava ali.
Por que eu não estava explodindo de felicidade?

Porque ele me deixou de novo. Porque doeu ele não me querer por perto. Porque o medo dele ir embora de novo estava presente e talvez permanecesse sempre comigo. Porque ele estava tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Porque eu quero dar um tapa na cara dele e depois dar um beijo naquela boca linda.

O médico havia me dado uns dias em casa, Luara agora decidiu que ia ser uma pessoa responsável e eu dei meu total apoio. Ela se inscreveu no curso de Jornalismo e como a turma já havia iniciado as aulas ela estava um pouco atrasada.

— Estou indo! — gritou saindo pela porta.

Mel hoje não teve aula por falta de luz na escolinha, então ficou pentelhando o dia inteiro. Ela ainda não sabia que o Arthur estava de volta, sinceramente não sei qual seria a reação dela.

— Mamãe, vamos ver o filme do Bob esponja? — Mel se aproximou já segurando o DVD.

— Vamos garotinha…

Levantei do sofá e fui ligando o aparelho, quando a campainha tocou, enfiei o DVD no aparelho e fui atender o portão. Quando abri me deparei com o Arthur segurando monte de sacola.

— Oi — o cumprimentei.

— Eu sei que você não deve estar querendo muito olhar para minha cara, mas o médico disse que você precisava se alimentar melhor, então perguntei a ele o que você tinha que comer, aí comprei. Se precisar de outras coisas você pode me falar e…

— Você perguntou ao médico sobre minha alimentação? — eu havia gostado disso. Dele se preocupando e cuidando de mim.

— Sim. Na realidade pedi para ele fazer uma lista das coisas que você precisava comer. Aliás, como você está hoje?

Fiquei o encarando por alguns segundos, senti vontade de pular no pescoço dele e enche-lo de beijos. Mas uma vozinha atrás de mim me trouxe para realidade.

— Quem é, mamãe? — Mel botou a cabecinha para fora do portão e encarou o Arthur.

Ele ficou olhando-a, colocou as sacolas no chão e se agachou. Tudo que a Mel fez foi se agarrar na minha perna como se a vida dela dependesse daquilo. Eu vi nos olhos dele que aquilo doeu nele, mas eram só consequências dos atos dele.

— Entra, os vizinhos já estão olhando. — comentei.

Arthur assentiu ele se levantou pegando as sacolas de volta e entrando logo depois de mim.

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