Capítulo 39

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Débora narrando

Sabe quando você parece estar vivendo dentro de um livro? Onde inicialmente as coisas dão errado, mas no final você vê aquele preto e branco da sua vida de repente se colorir e tudo começar a fazer sentido. Eu estava me sentindo assim.

Eu amava mais o Arthur a cada dia que passava, nossos momentos juntos não se resumiam mais em algumas horas. Eu não precisava ficar tentando adivinhar o que havia acontecido com ele ou onde ele estava, se eu quisesse saber todas essas coisas era só ligar para ele e ouvir sua voz. O amor ás vezes machuca isso é verdade, mas quando ele é realmente verdadeiro no final olhamos para trás sem arrependimento algum e temos certeza que apesar de todas as coisas ruins, tudo valeu a pena.

— No que o senhor está pensando? — perguntei sentando em seu colo, enquanto ele estava sentado na espreguiçadeira que ficava na varanda do seu quarto.

— Em algumas coisas... — disse passando o braço em volta do meu corpo, e enfiando o rosto na curvatura do meu pescoço.

— Na conversa que você quer ter comigo? — murmurei e passei o braço pelo seu pescoço.

Ele andava pensativo demais e desde que ele disse que precisava ter uma conversa séria comigo, eu não sosseguei mais.

— Sim, na conversa que temos que ter. — soltou um suspiro.

Ele afastou o rosto e me encarou.

— O que foi Arthur? Você está me deixando nervosa.

Se ajeitou na cadeira e segurou minha mão entrelaçando nossos dedos. Arthur ficou encarando as mesmas.

— Quando vim para o Brasil, eu não tinha noção das coisas que iriam acontecer aqui. Minha vida era a mesmice de sempre, eu só precisava ficar uns meses aqui, participar dos campeonatos, fazer umas entrevistas e essas coisas. Mas aí, você e a Mel apareceram... — ele deu uma pausa e eu senti meu coração apertar. — Eu adiei tudo isso, por que... Quer dizer na realidade eu até esqueci, até que o Diogo veio conversar comigo, sobre o mundial. Minha ficha caiu que eu tenho que voltar.

Ele continuou alisando meus dedos, sem me encarar. Soltei um suspiro, na realidade, eu também não estava pensando sobre isso. Estava bom demais para ser verdade.

— Quando? Quer dizer... Você vai ficar aqui até quando? — perguntei baixo.

— Final de semana que vem.

— Quê? Já?

— Sim, na semana seguinte eu preciso estar lá. Tem uma festa com os patrocinadores, eu tenho que comparecer. — ele ficou em silêncio por alguns segundos e eu estava meio desligada ainda. — Você e a Mel se tornaram as coisas mais importante da minha vida... Mas, eu batalhei minha vida inteira por isso...

— Eu não sou egoísta a esse ponto, eu nunca pediria para você desistir da sua carreira só para ficar.

— Isso faz eu me sentir mal, porque eu estou com uns pensamentos egoístas pra caralho. Eu quero que vocês venham comigo... — eu ia começa a falar, mas ele finalmente me encarou e fez sinal para eu esperar. — Eu posso cuidar de vocês, você sabe que eu posso e... — nem o deixei terminar de dizer.

Levantei do seu colo, mesmo ele tentando me segurar.

— Arthur desde que eu engravidei, eu ouvi todos ao meu redor dizendo que eu não conseguiria realizar nada na vida. Eu consegui, eu finalmente consegui minha independência. Você sugere que eu largue tudo aqui e viva dependendo de você? Viver na sua sombra? Essa não sou eu Arthur. Não mesmo.

— Débora… Eu… Não quero… Quer dizer, eu não posso perder vocês de novo. — Arthur se levantou ficando na minha frente, ele segurou meu queixo e me fez encara-lo. — Garota você tem noção do quanto eu amo você? Eu vou ficar maluco só de pensar em ficar longe de vocês...

Eu estava começando a querer chorar, minha garganta estava com um nó e ele me dizendo essas coisas não estava me ajudando.

— Eu sei Arthur. E sinceramente? Eu não quero ficar longe de você também, quer dizer nós não queremos. Mas eu não estou disposta a abrir mão da minha vida, ir para outro país e viver na incerteza.

— Incerteza Débora? Sério que estou ouvindo isso?

Tarde demais, minhas lágrimas já estavam descendo pelas minhas bochechas.

— Você já foi embora uma vez. — dei de ombros e ele me olhou incrédulo.

— Eu já disse que estava passando por uma fase difícil...

— E se você passar por outra fase difícil? Eu devo fazer o quê? Pegar a Mel e vim embora novamente?

Ele ainda estava me olhando sem acreditar no que eu estava dizendo, nem eu acreditei que eu disse aquilo, mas agora já era tarde demais.

Meu domingo terminou um desastre, Arthur nos trouxe para casa, mas ele veio o caminho todo em silêncio. Ele estava magoado, com razão, eu falei coisas da boca para fora. Quer dizer...

Não tão da boca para fora assim, eu me sentia insegura sim com essa situação toda, era tudo mais fácil aqui, eu tinha família, meus amigos e era minha zona de conforto. Por mais que eu o amasse, as coisas poderiam não dá certo. O que eu faria? Iria arrumar minha mala e voltar para recomeçar?

Não, eu não quero isso, não mesmo. Eu disse palavras duras, eu sei. Mas ele precisava me entender.

— Você vai entrar? — perguntei baixo, tirando o cinto.

— Não. Melhor não, já ouvi coisas demais por hoje. É melhor você esfriar a cabeça e depois a gente conversa. — disse sério.

— Arthur...

Eu ia começar pedir desculpas, mas olhei para trás e os olhinhos curiosos da Mel estavam presos em nós dois.

Ele soltou suspirou e apertou o volante. Eu entendi que não adiantava falar nada naquele momento, como ele disse era melhor conversarmos depois. Abri a porta do carro, saí e fui para parte de trás pegar a Mel e sua mochila. Coloquei-a no chão e a pedi que esperasse um pouco. Dei a volta no carro e fui até sua janela, ele não me olhou continuou com seus olhos fixos em qualquer coisa que não fosse eu. Me inclinei sobre a janela.

— Desculpa... — quase sussurrei. — Eu sei o que você está pensando, mas eu não disse aquilo...

— Não Débora, você disse exatamente o que você quis dizer. Você não disse aquilo porque estava com raiva, afinal nem isso você estava, frustrada talvez.

— Eu disse aquelas coisas da boca para fora. Não fica com raiva de mim...

— Não estou com raiva, estou chateado é diferente e talvez com raiva de mim. Mas aqui não é hora e nem lugar para conversarmos sobre isso.

—Tudo bem. — disse e levantei meu corpo.

— Papai, você se esqueceu de me dar um  beijo antes de ir embora. — Mel disse aparecendo do meu lado com os braços cruzados.

Arthur abriu um sorriso, e abriu a porta do carro.

— Desculpa minha princesa, papai estava pensando demais. Desculpa ok? — disse se abaixando em sua frente.

— Sim, mas tem que prometer que nunca mais vai fazer isso. — disse em um tom bravo, ele riu.

— Prometo pequena.

Ela passou os bracinhos em volta do pescoço dele e beijou seu rosto. Arthur abraçou-a e depositou um beijo em sua testa.

Devido àquela cena passou pela minha cabeça: como a Mel ficaria se o Arthur fosse embora? Ele não iria deixar de ser pai dela e eu nem proibiria eles de ser ver. Mas, ele estaria em outro país. Como eu ia tirar essa alegria dela logo depois dela ter?

Quando dei por mim, Mel estava agarrada na minha perna e Arthur estava ligando o carro e indo embora sem se despedir.

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