Capítulo 50

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Arthur narrando ⚡

Minha filha sequer queria olhar na minha cara, isso doeu um bocado. Mas ela estava na razão dela, o idiota da história fui eu. Eu precisava consertar as coisas e iria precisar de calma e paciência, com as duas. Eu só precisava delas comigo, não me interessava mais nada e se eu tivesse que passar o resto da minha vida reconquistando a confiança dela, era isso que eu iria fazer.

— Você já almoçou? — Débora perguntou.

— Não, mas você não precisa se incomodar. A senhorita tem que repousar, só isso.

Ela fez uma careta e se sentou ao meu lado no sofá. Quer dizer, não tão ao meu lado assim. A Mel estava sentada no chão com olhos vidrados na televisão, ela agia como se eu nem existisse.

— Ah! Vou fazer algo para comer, eu também estou com fome — disse por fim e se levantou.

Queria impedi-la, mas ela era teimosa demais e eu não estava com moral, então resolvi ficar quieto. Fiquei olhando minha filha vendo desenho e me senti a pessoa mais burra do mundo por ter ido embora sem ao menos dizer a ela que eu voltaria. Sentei ao seu lado no chão e ela me olhou de canto de olho.

— Mel, papai precisa conversar com você…

— Eu estou muito triste. Você foi embora um monte de dia e fez a mamãe chorar um monte — disse magoada.

— Eu sei filha. Papai fez burrada porque ele estava muito triste, papai perdeu a mamãe dele e doeu sabe? — respirei fundo e ela ficou me olhando com aqueles olhinhos curiosos. — Então eu viajei, eu achei que ficando sozinho a dor ia sarar mais rápido. Mas papai ficou com tanta saudade de vocês que só piorou, eu amo tanto vocês.

— Está doendo ainda? — eu assenti.

— Onde? Aqui? — ela colocou o dedinho no meu peito. Eu assenti de novo.

Tudo que ela fez foi se inclinar e dar um beijo onde ela achava que era meu coração. Mas o ato em si fez meus olhos se encherem de lágrimas, eu estava virando uma moça nesse assunto de chorar.

— Vai sarar, tudo bem? Eu e a mamãe a gente faz sarar. Mas promete que não vai viajar de novo?

— Prometo meu amor.

— De dedinho? — ela ergueu o dedo mindinho. Cruzei meu dedo mindinho com o dela.

— De dedinho. Você me perdoa?

— Perdoou papai, mas não deixa a mamãe triste de novo.

Sorri e abri os braços, ela jogou os bracinhos no meu pescoço e me abraçou. Aonde eu estava com a cabeça quando achei que ficaria melhor longe delas? Eu estava louco, só pode.

Débora narrando

Chorei tanto ouvindo a conversa do Arthur com a Mel que eu acho que desidratei. Eles ficaram brincando e vendo filme o resto da tarde, não me intrometi muito, eles precisavam desse tempo só deles.

Quando a noite chegou, Arthur foi embora pouco antes do Felipe chegar. Meu irmão estava com raiva dele, não só por minha causa, mas também por causa da Olívia. Soube pela Luara o que aconteceu no hospital o soco que Arthur recebeu, Felipe não era do tipo agressivo, a não ser que você mexesse com as pessoas que ele amava. Luara chegou falando pelos cotovelos, ela estava gostando da faculdade, ouvi tudo com toda atenção do mundo. Depois o Igor me ligou para saber como eu estava, conversarmos um pouco e ele disse que iria aceitar a oferta, fiquei feliz por ele.

A semana seguiu tranquila… Quer dizer não tão tranquila. Não para meu coração. Arthur vinha aqui todos os dias, mesmo que não ficasse muito tempo. Todas as manhãs um moço entregava um buquê de flores na minha casa e sempre vinha acompanhado de uma frase. Arthur não falava nada a respeito, mas óbvio que era ele. Ele realmente estava tentando me reconquistar. Eu já tinha sete buquês pela casa e olha que só foi uma semana, daqui a pouco minha casa iria estar parecendo uma floricultura. Mas eu não podia negar o sorriso bobo que morava no meu rosto toda vez que o entregador tocava a campainha.

•••

Era o oitava dia, oitavo buquê, oitava frase.

“E então, eu te olhei. E te olhei de longe e percebi que a vida estava sorrindo pra mim. Eu te olhei e percebi que o meu futuro já havia nome, sobrenome e até endereço. Você.”

— Mamãe recebe flores todo dia — Mel comentou com a Arthur assim que ele passou pelo portão.

— Sério?! Ela merece, ela é uma mulher muito especial.
Ele me olhou e me deu um sorriso de canto.

•••

Nono dia, nono buquê, nona frase:
“Eu te amo, e devia dizer todo dia, meu mundo tem um jeito todo seu. Não me imagino envelhecer sem você, eu te amo e te escolhi pra viver.”

Décimo dia e nada, isso mesmo, nada. Já eram mais de cinco horas da tarde e nem sinal de flores e muito menos do Arthur. Eu estava mal acostumada. Era hora de buscar a Mel na escola, assim fui fazer. Caminhei até a escolinha da Mel, assim que ela me viu saiu correndo e me abraçou.

— Como foi a escola hoje? — perguntei segurando sua mãozinha.

— Foi legal, a gente pintou cartazes — disse animada.

— Percebi — falei olhando a camisa dela que um dia havia sido branca.

— Você recebeu que flor hoje?

— Hoje não teve — falei, ela me olhou carinha de “ué”.

Ela foi saltitando até chegar na nossa rua, de longe pude ver um carro parado no meu portão, era ele. Reprimi a vontade de sorrir que nem uma idiota, quando estávamos nos aproximando ele saiu do carro e Mel largou minha mão e saiu correndo em direção á ele.

— O que aconteceu com sua roupa? — ele perguntou olhando a blusa da Mel.

— A gente pintou cartazes hoje na escola.

— Oi — ele disse me encarando.

— Oi — respondi.

Mel começou contar do seu dia animado, enquanto isso entramos em casa. Arthur ficou na sala enquanto fui dar um banho na Mel.

— Eu tô com sono — disse coçando os olhinhos.

— Mas se você dormir agora, de noite vai ficar sem sono — falei e a terminei de vestir.

— Mamãe… — choramingou.

— Tudo bem — me rendi.

Eu não pegava mais ela no colo, estava muito pesadinha e eu não podia com peso. Quando chegamos no seu quarto ela se jogou na cama, peguei o edredom e coloquei em cima dela.

— Você não está com fome não?

— Não mamãe, eu comi na escola. — disse e fechou os olhos.

Sorri e beijei sua testa.

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