Inquisidor

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A primeira coisa que ele viu, obviamente, foi a nove em minhas mãos.

- Olá, garoto, você está sozinho?

"Nunca diga a ninguém que está sozinho."

- Estou.

- Onde estão seus pais?

"Diga que voltamos logo."

- Eu não sei.

- O que é isso em sua mão?

"Atire no meio do peito."

Eu não atirei. Nem respondi. Idiota!

Ele se abaixou e pegou minha mão, forçando meu braço para me impedir de usar a arma. Eu não lutei, nem reagi. Deixei que ele a tirasse de mim.

Idiota!

- Você sabe que isto veio de fora da cidade, não sabe? - ele girava a arma, analisando-a - Como você conseguiu isto? Foi seu pai quem te deu?

"Corra!"

Minhas pernas congelaram. Minha mente congelou.

Ele sorriu, percebendo minha insegurança, e estendeu a mão livre para pegar a minha. Alguns minutos depois, estávamos eu e o Auxiliador da Justiça atravessando a floresta em direção ao centro. Eu estava com fome, assustado e sozinho. Em outras condições, teria certamente escapado dele.

Existem erros que são irreparáveis. O meu foi aquele.

- Seus pais costumam sair bastante à noite, Iago?

Inquisidor.

Inquisidor era uma palavra que meu pai tinha me ensinado. Significava uma pessoa que faz perguntas demais sobre a vida dos outros. "Você sabe o que fazer se encontrar um Inquisidor, filho?".

Sim, eu sei o que fazer, pai. Devo caminhar tranquilamente com ele pela floresta, respondendo às suas perguntas.

Claro que nada que eu respondesse ou deixasse de responder mudaria alguma coisa. Ele já sabia de tudo. Ele já sabia que meus pais eram Surdos, já sabia que estavam capturados, já sabia que tinham conexões fora da cidade. Ele já tinha vencido o jogo.

O que ele não sabia, porém, era justamente o motivo pelo qual tinha ido me buscar.     

     

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O Filho da Rebelião (Completo) - Livro II - Trilogia DantálionOnde histórias criam vida. Descubra agora