As duas motos já estavam apontadas na direção do horizonte. Suas placas de metal refletiam a luz com tanta intensidade que poderiam substituir o sol caso ele resolvesse deixar nosso sistema deprimente e partir para uma nova vida em algum lugar mais agradável.
Quando Bruno me falou sobre motocicletas, eu imaginei que fosse algo bastante perigoso. Observando-as na minha frente, percebi que perigoso era um adjetivo muito suave para definir o que aquelas coisas realmente eram.
Eram veículos mais velozes que carros, e sem metade da proteção metálica de um. Sem portas. Sem cinto de segurança. Sem vidros. Somente um veículo absurdamente potente e seu corpo, seu frágil corpo que poderia voar por dezenas de metros caso algo desse errado.
E como se não bastasse, ainda havia o pequeno detalhe de quem estava no controle das duas máquinas assassinas...
Em uma delas estava Bruno. Na outra, Laura. E eu permanecia indeciso a respeito de em qual deveria subir, segurando nas mãos a mochila com todos os nossos pertences, que não eram muito numerosos.
Os dois me observavam com expectativa.
Apertei os dentes. Não tem um jeito fácil de sair de uma situação dessas.
- Então... Bruno... Você já dirigiu uma moto antes?
- A palavra é pilotar. E já, já pilotei. Uma vez... Faz alguns anos...
Certamente não era a opção mais segura.
Virei para Laura. Ela me lançou um sorriso cínico, mostrando todos os dentes e girando o acelerador com brutalidade para soltar um rugido medonho.
Ótimo.
Respirei fundo e acabei me juntando a Bruno. Ele podia não ser experiente, mas com certeza era menos louco que a garota. E eu não estava com nenhuma vontade de passar as próximas horas preso num veículo com uma pessoa capaz de quebrar meus dedos sem hesitar.
Ela riu.
- Medroso.
Eu fiz um gesto obsceno.
- Tome. Coloque isto. – Bruno me estendeu o único capacete que tínhamos.
- Você está na frente, você é quem deveria usar.
- Não discuta comigo. Coloque logo essa merda. De nós três, você é o cérebro que vale mais. Ninguém quer ver seus miolos estourados no asfalto.
Foi um pouco difícil colocar o capacete com as mãos tremendo.
Aquela coisa com rodas parecia um desastre prestes a acontecer.
- Segure firme. – ele disse, puxando minhas mãos ao redor de sua cintura.
- Que gracinha. – Laura riu atrás de nós.
Ela acelerou primeiro, seu motor rosnando como um monstro. Em um minuto, já era difícil ver a pequena silhueta correndo pela estrada. Eu nunca tinha visto algo se mover com tanta velocidade. Nem mesmo acreditava que fosse possível.
Apertei os olhos com força.
- Iago...
- O que foi?
- Você vai me sufocar assim.
- Desculpe.
Relaxei um pouco os braços.
Nós disparamos, quase tão rápidos quanto nossas armas, deixando para trás o lar que havia nos visto crescer.
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O Filho da Rebelião (Completo) - Livro II - Trilogia Dantálion
Science FictionAntes de Dantálion, havia Iago. Tendo presenciado a execução cruel dos pais e carregando na pele as marcas do sofrimento, o menino precisa encontrar em si mesmo a força para decidir seu destino: fugir e esquecer o passado, ou buscar a vingança que c...