Letargia

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Algum tempo se passou. Talvez um ano, talvez mais. Eu não sabia exatamente qual era minha idade, nem sequer lembrava quando era meu aniversário. As coisas pequenas perdem o sentido quando perdemos nosso próprio sentido. Por isso talvez eu nem mesmo me lembre muito bem de como passei aquele período.

Eu me entreguei à letargia, desligando minha consciência e minha memória. Não pensar era meu hábito, e eu poderia passar horas completamente imóvel, olhando para o vazio, sem uma atividade sequer em meus neurônios.

Bruno estava sempre presente, e me servia como objeto de distração, me abstraindo de mim mesmo. Eu mergulhava em conversas superficiais e estúpidas, ocupando meu tempo com qualquer assunto que me fizesse esquecer a realidade. Jogávamos cartas, xadrez e outros jogos compulsivamente, minha personalidade e sentimentos sendo absorvidos pelo mundo externo. E eu seguia assim, arrastando os meses, ou deixando que eles me arrastassem, sem nenhuma novidade, e sem nenhuma expectativa. Era como estar morto, dopado pela droga que meus próprios olhos sintetizavam ao observar o mundo com indiferença e desprezo.

Eu e aquele garoto não pudemos, porém, deixar de desenvolver uma grande amizade conforme crescíamos. Mesmo estando ausente de espírito, ele insistia em me tratar como um membro de sua família. Nossa enorme família de dois... Ou de um e meio, se considerarmos que eu quase existia.

Mas era óbvio que as coisas não poderiam continuar assim por muito mais.    

    

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O Filho da Rebelião (Completo) - Livro II - Trilogia DantálionOnde histórias criam vida. Descubra agora