Antes de Dantálion, havia Iago.
Tendo presenciado a execução cruel dos pais e carregando na pele as marcas do sofrimento, o menino precisa encontrar em si mesmo a força para decidir seu destino: fugir e esquecer o passado, ou buscar a vingança que c...
- A cidade mais próxima fica a cem quilômetros. – Bruno apontava para alguns mapas que estavam instalados no computador do carro solar. Enquanto os painéis se encarregavam de recarregar a bateria, nós discutíamos o trajeto – É uma cidade comercial. Eles devem ter armas e comida, mas geralmente têm muita violência também.
A ideia de visitar outra cidade me assustava. Um outro sistema, sem Sacerdotes, sem Voz, sem Templo, sem Auxiliadores... Poderia existir qualquer coisa lá.
- Você precisa me prometer que não vai sair de perto de mim, e que não vai arranjar encrenca, está ouvindo, orelhudo? Estou falando sério desta vez. Eles têm revólveres e até armas mais potentes. Um deslize, e vamos acabar mortos antes que você possa saber o que te atingiu.
- Como é que vamos comprar alguma coisa, se não temos dinheiro?
Ele retorceu os lábios. Provavelmente não tinha parado para pensar nesse detalhe. Vivendo numa cidade baseada em escambo e distribuição pelo governo, dinheiro era uma necessidade com a qual não nos preocupávamos.
- Podemos trabalhar para eles. – sugeri. Parecia ser melhor do que roubar.
Ele riu com desprezo.
- Que tipo de trabalho você acha que eles terão para nós, Iago? Um carpinteiro e um agricultor?!
- Marceneiro.
- É tudo a mesma porcaria.
- Idiota.
- Imaturo.
Respiramos fundo e paramos a discussão antes que ficasse pior.
- Não é possível que não tenha nada que possamos fazer. De que jeito pessoas como nós ganham dinheiro em lugares assim?
Ele fez uma careta.
- Prefiro nem te dizer. Você é muito jovem para isso.
- Sou mais esperto do que você pensa, está bem?
- Claro. Vou fingir que acredito.
Ele coçou o pescoço.
- Podíamos tentar vender este carro... – murmurou.
- E vamos voltar andando depois?!
- Você está tão ansioso assim para voltar?!
Ele me encarou fundo nos olhos. Eu me encolhi em meu banco.
- Se conseguirmos vender por um bom preço, - Bruno retomou - podemos comprar uma moto. Não dá para dormir dentro dela, mas, pelo menos, poderíamos viajar mais rápido.
- Mais rápido?! Você quer nos matar?
- Pare de ser tonto, Iago. Ficou todo medroso de repente. O que aconteceu com o garoto do eu-não-dou-a-mínima-para-minha-vida?
Cruzei os braços.
- Vamos logo, então. Venda a porcaria que quiser, desde que me tire daqui, estou dentro. Não aguento ficar parado.
- Esse é o espírito. – ele acelerou bruscamente.
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