Abri os olhos para a manhã cinza, acordado pelos sons dos tiros.
Corri para a janela do galpão, espreitando por um vão entre os tapumes que cobriam o vidro quebrado.
Havia uma guerra de gangues lá fora.
De um lado, homens em carros blindados, atirando com todo tipo de armas, algumas altamente tecnológicas, que eu nunca tinha visto antes, capazes de disparar projéteis quase invisíveis.
Do outro, um grupo de pessoas a pé, escondendo os rostos com panos sujos de sangue, metralhadoras e fuzis enferrujados nas mãos. Alguns nem mesmo tinham armas, e apertavam pedras e pedaços de ferro entre seus punhos magros.
A Mão Direita e a Mão Esquerda.
Uns com a tecnologia, outros com a coragem.
Me afastei da janela, olhando pelo galpão. Nenhum sinal de Laura ou Bruno.
Onde aqueles dois imbecis se meteram numa hora dessas?!
Sem saber o que fazer, corri para as escadas. O prédio não era muito alto, e estava abandonado por completo. No andar de cima, encontrei Bruno agachado diante da janela que cobria praticamente a parede inteira, observando.
- Onde está Laura? – perguntei.
- Fique quieto.
O estouro de uma bomba sacudiu o prédio.
- Você viu Laura em algum lugar?! Ela estava comigo!
- Iago, você precisa ficar quieto agora.
- Onde ela está?!
Ele me agarrou, prendendo minha boca. Só então eu vi.
Era ela.
Ela estava amarrada, sendo levada à força para dentro de um dos blindados da Direita.
- Pegue sua arma! – gritei para ele, me soltando – Vamos descer!
Ele segurou meu braço com força.
- Nós não vamos a lugar algum.
Eu o olhei com terror. Bruno estava mudado. Ele me lembrava do rosto de Anton.
- Me solte! Eu preciso salvá-la!
- Você não pode salvá-la!
- Eu preciso tentar!
- Você vai morrer se sair lá fora!
- Eu não posso simplesmente assistir! Me solte!
Dei um soco em seu estômago. Ele se curvou para retomar o fôlego, perdendo o controle sobre mim.
Quando eu pisava para fora do cômodo, porém, ouvi o clique de uma arma sendo engatilhada.
Ah, não...
Não me diga que ele ousou fazer isso...
Virei o rosto parcialmente. Bruno apontava o cano de sua pistola para minha perna.
- Volte, Iago. É uma ordem.
Seus olhos estavam frios, mas não tão frios quanto os meus.
- Atire. – desafiei, virando para encará-lo de frente – Eu adoraria ver isso.
Ele não respondeu, sem desviar a arma.
- Está mirando no lugar errado. – eu toquei o dedo indicador no centro entre meus olhos – Você deve mirar aqui se quiser me parar. Se tiver coragem de atirar em mim, é bom me matar de uma vez. Porque, se atirar em mim e não conseguir me matar de primeira – puxei a adaga de minha cintura – eu vou te abrir ao meio, seu traidor de merda.

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O Filho da Rebelião (Completo) - Livro II - Trilogia Dantálion
Science FictionAntes de Dantálion, havia Iago. Tendo presenciado a execução cruel dos pais e carregando na pele as marcas do sofrimento, o menino precisa encontrar em si mesmo a força para decidir seu destino: fugir e esquecer o passado, ou buscar a vingança que c...