Antes de Dantálion, havia Iago.
Tendo presenciado a execução cruel dos pais e carregando na pele as marcas do sofrimento, o menino precisa encontrar em si mesmo a força para decidir seu destino: fugir e esquecer o passado, ou buscar a vingança que c...
Quatro horas sacolejando sobre estradas quebradas, sentindo o vento zunir através de mim, foram suficientes para que eu perdesse o medo daquele acidente de duas rodas.
A sensação de viajar era boa. Eu gostava de observar a mudança na paisagem, e gostava de saber que estava sentindo na pele um pouco do tamanho do mundo, este mundo enorme em que vivíamos, e que jamais poderíamos conhecer por completo. Era isto que queriam dizer quando falavam do sentimento do mundo: a imensidão e a beleza que atraem, sensação paradisíaca constantemente manchada e assombrada pelo terror da guerra. A guerra é um pesadelo que se vive de olhos abertos, e não acaba quando os fechamos. E eu sabia que ela estava lá, atrás de cada rochedo e cada prédio, esperando.
Sobre a moto, eu e Bruno éramos livres. Podíamos ter mudado a rota e ir para qualquer lugar. E por várias vezes essa ideia passou em minha cabeça. Por que não virar e ir para longe? Por que não deixar para trás a nossa cidade, do mesmo jeito que deixávamos agora a Capital? Seríamos livres, e eu poderia esquecer para sempre o que já havia passado...
Mas eu já deveria saber como as coisas realmente funcionavam. Eu era livre apenas de corpo, porque minha mente estaria eternamente aprisionada. Anton morava em minha mente, assim como meus pais, assim como os Surdos, e assim como toda aquela cidade. Eu poderia correr para onde quisesse, mas jamais poderia escapar deles. Jamais poderia escapar de mim mesmo.
Você não pode fugir daquilo que está dentro de você, Iago.
A liberdade é uma grande ilusão.
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