Capítulo XXXI

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Lavínia narrando...

Encostei minha cabeça na janela e fiquei quieta, eu observava cada coisa durante o caminho, famílias felizes, pessoas saindo de festas com os amigos, casais felizes por todo lado e pessoas nem tão felizes assim. Olhei pro Gui que estava com a cabeça baixa e super pensativo, durante o caminho todo não trocamos uma palavra, na minha mente só passava o porque dele ter feito isso tudo? Eu sei, o menino queria me obrigar a fazer algo que eu não queria, mas ele quase matou o menino na frente de todos e além disso quase me machucou também.

''Chegamos no seu destino'', eu ouvi isso e simplesmente abri a porta do carro e sai, fiquei olhando pro céu enquanto o Gui pagava o Uber e em seguida ele caminhou até a porta e com toda calma do mundo abrindo a mesma.

- Vou tomar banho... - ele murmurou baixo e eu balancei a cabeça positivamente 

Fui procurar a caixinha de emergência pra cuidar dos machucados que ele fez em sua mão de tanto bater no menino. Achei no armário do banheiro e depois fui pro seu quarto, enquanto ele tomava banho eu peguei meu celular e fiquei mexendo nas minhas redes sociais até ouvir o barulho da porta abrindo.

Olhei pra frente e ele estava ali, com uma toalha enrolada na cintura e algumas gotinhas de água pelo seu peitoral.

- Eu peguei a caixa de primeiros socorros pra poder cuidar disso ai - eu falei apontando pra sua mão e o mesmo assentiu e sentou na cama

Fui até ele e senti seu cheiro de longe, percebi que o mesmo estava tenso, mas com meu toque ele se aliviou, sorri comigo mesma. Comecei a cuidar das suas feridas e eu sentia seu olhar sobre mim.

- Me desculpa - ele disse baixo e com aquela voz rouca 

- Tá tudo bem - eu disse sem olhar pro mesmo

- Não tá não, eu quase te machuquei e mostrei o monstro que eu sou - Suspirou - Mas quando aquele idiota disse que iria te obrigar a beijar ele eu fiquei tão furioso que não consegui me segurar.

- Guilherme, tá tudo bem cara - eu disse ainda sem o olhar - Você não me machucou, só exagerou um pouco

- Não é que eu exagerei, quando eu vi ele agindo daquela forma eu lembrei... - respirou fundo - Esquece..

- Dá pra você desabafar comigo uma vez na vida? - eu disse olhando pro mesmo - As vezes, a melhor coisa é por pra fora o que você sente aqui - falei tocando meu dedo indicador no seu peito nu

- Pra mim não é fácil desabafar - ele disse fechando os olhos - Eu nunca tive ninguém pra fazer isso

- Agora tem - eu disse e cheguei mais perto do mesmo deixando um beijo no seu lábio

- Tudo bem... - ele disse respirando pesado - Quando eu tinha 8 anos, eu morava com a minha mãe e meu pai. Eles nunca tiveram uma relação boa sabe? Só estavam juntos por minha causa, muitas vezes eu via minha mãe triste e eu me sentia culpado por isso, várias vezes eu falava pra ela pra gente ir pra bem longe do meu pai, mas ela dizia que não podia e eu não entendia o porque. Muitas vezes o meu pai trazia mulheres pra cá e ficava com elas na frente da minha mãe, e a mesma não podia dizer nada, se não ela apanhava. - ele disse fechando os olhos com força e eu peguei na sua mão e apertei com força incentivando o mesmo a continuar - Até que um dia eu tinha acabado de chegar da escola e tava subindo pro meu quarto, quando passei na frente do escritório do meu pai, eu ouvi a minha mãe dizendo que era pra ele deixar a gente ir embora, afinal, meu pai não me amava e não amava a minha mãe. Mas ao invés dele deixar a gente ir embora, ele bateu nela e eu tava olhando pela fresta e não fiz nada, eu deixei meu pai bater na minha mãe e não fiz absolutamente nada Lavínia. Depois dele bater nela até ela ficar desacordada, ele a estuprou e eu não fiz nada pra proteger a pessoa que eu mais amo na vida. - Quando ele disse isso eu fiquei sem reação, ele achava que a culpa era dele, pelo simples fato de não ter feito nada, mas ele era um criança indefesa não tinha o que fazer. - Então quando eu vi aquele cara dizendo que ia te obrigar a beijar ele, eu fiquei com muita raiva. Porque eu não pude defender a minha mãe, mas ali, naquela hora, eu podia te defender e vou defender sempre que for preciso. - ele disse finalizando e eu vi uma lágrima cair dos seus olhos e o mesmo limpou rápido.

- Gui... - eu não sabia o que dizer pra confortar o mesmo, então, apenas o abracei com força.

- Me perdoa... - ele disse e eu coloquei meu dedo no seu lábio

- Shii... Tá tudo bem meu amor - eu disse abraçando o mesmo - Obrigada por me contar

- Nunca tive ninguém pra fazer isso, então guardo as coisas pra mim e muitas vezes machuca - ele disse me olhando

- Agora você tem eu - eu disse passando minha mão pelo seu rosto - E vou estar sempre aqui pra você

- Obrigado por tudo mesmo - ele disse - Vou me vestir agora

- Posso pegar uma blusa? - perguntei e ele concordou - Vou tomar banho

Quando senti a água caindo sobre mim, foi como se tivesse tirando um peso das minhas costas. Fechei os olhos relaxando, mas do nada lágrimas começaram a cair pelo meu rosto sem parar. Depois de muito tempo chorando, sai do banho e em seguida vesti minha calcinha e a blusa do Guilherme.

Sai do quarto e ele estava ali deitado de bruços, tão calmo mas muito tenso. Fui até a cama e deitei do seu lado, comecei a fazer cafuné no mesmo que virou pra mim.

- Obrigado por ser assim - ele disse

- Assim como? - perguntei

- Perfeita - ele disse e eu sorri dando um selinho no mesmo 

Virei de lado pra tentar dormir, senti o mesmo me puxando mais pra perto dele. Fechei os olhos tentando dormir mas eu estava sem sono. Fiquei um tempão tentando dormir, mas não conseguia por nada.

- Gui? - murmurei baixinho 

- Hum? - ele perguntou

- Posso perguntar uma coisa? - me virei pro mesmo deixando nossos rostos colado

- Pode - ele disse de olhos fechados 

- Cade a sua mãe? - eu perguntei e ele me olhou

- Ela mora no Canadá - ele disse e eu acabei lembrando que meu pai mora lá também

- Hum, e o seu pai? E porque você não mora com ela? - perguntei curiosa e o mesmo riu

- Curiosa - ele disse - Meu pai mora aqui no Brasil mesmo, e eu não moro com a minha mãe pois quem tem minha guarda é o meu pai, ele pagou pra ter minha guarda.

- Posso perguntar mais uma coisa? - ele assentiu sorrindo - Você vê ele?

- Sim, mas não conversamos e eu só sinto nojo dele - ele disse meio bravo

- Entendi, só mais uma coisa - eu disse rindo - Você não sente saudades dela?

- Muita, ela até queria morar comigo mas eu sei o quão feliz ela tá lá - ele disse e eu sorri - Agora vamos dormir

- É que eu to sem sono - eu disse fazendo bico

- Oh meu Deus - ele disse colando a mão na minha cabeça começando a fazer cafuné - Tenta dormir agora

- Tá bom, boa noite - eu disse dando um selinho no mesmo que sorriu

- Boa noite Lav - ele disse baixinho

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Me empolguei um pouco e fiz um capítulo enorme, me desculpem <3

A praia do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora