Capítulo LXXIII

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Lavínia narrando...

Eu olhei o meu reflexo no espelho da escola e vi o quão pálida eu estava, tinha algo de errado comigo.

- Foi só a comida... - eu murmurei fechando os olhos, mas abri assim que ouvi a porta sendo aberta

- Você tá melhor? - Tracy perguntou preocupada me encarando - Quer ir pra casa?

- Não, tá tudo bem... - eu disse e ela me encarou como se estivesse pensando em algo

- Lavínia? - me chamou

- Hum?

- Você namorava né? - ela perguntou e eu assenti - Vocês tinham relações, como todos casais... Será que...

- Não Tracy, não existe probabilidade de ser o que você está pensando - eu disse cortando a mesma

- Você sabe que existe - ela murmurou baixinho e eu fechei os olhos negando

- Eu não estou grávida, eu me cuidei muito - eu disse irritada - Não pode ser isso, tudo bem?

- Se você tem tanta certeza assim, por que não faz um exame de sangue? - ela perguntou calma

- Porque eu sei que vai dar negativo - eu disse nervosa

- Vamos fazer, por favor - ela disse e eu concordei sabendo que ela não iria desistir e eu já sabia qual seria o resultado do exame, né?

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- Abre logo! - Tracy repetiu pela vigésima vez olhando pro exame em minhas mãos 

- Não, eu não consigo - eu disse tremendo e ela arrancou o exame da minha mão rasgando ele - Tracy!

- Eu sabia... - ela disse baixinho me fazendo ficar nervosa

- Me dá isso - eu disse pegando os papéis de sua mão e passei os olhos por toda folha, mas eu congelei quando eu li

Positivo 

- Não pode ser - eu murmurei sentindo lágrimas caírem pelo meu rosto - Não, não, não...

- Calma, vai ficar tudo bem - Tracy disse me abraçando e fazendo cafuné, na tentativa de me acalmar

- Eu to grávida, Tracy - repeti e ela assentiu me abraçando forte - Eu não quero ser mãe...

- Você já é mãe, Lavínia - ela murmurou e eu chorei, como uma criança de seis anos

- Pode me deixar sozinha um pouco? - pedi pra ela que assentiu beijando a minha testa

- Lembre-se, esse bebê não tem culpa de nada - ela repetiu e eu a encarei sem falar nada

Assim que ela saiu eu fui me olhar no espelho, como eu não percebi? Eu estava um pouco mais encorpada, eu estava emotiva e com esses enjoos... Levantei a minha blusa tendo visão da minha barriga, sem volume. 

- Eu não posso ter você, desculpa - eu sussurrei baixinho 

Peguei meu notebook e comecei a pesquisar sobre algo que eu achei que nunca pesquisaria, aborto. Eu sabia que no Canadá era legalizado e eu não quero ter essa criança, então essa é a minha única escolha. Achei uma clínica que fazia o procedimento e marquei uma consulta, daqui três dias eu não estaria com um bebê dentro de mim...

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Era hoje a minha consulta, levantei desanimada como os outros dias e fui me arrumar. Eu estava cansada, fisicamente e psicologicamente.

- Você tem certeza? - Tracy me perguntou triste 

- Tenho - eu disse confiante 

Quando eu disse pra ela sobre a ideia do aborto, ela jogou tantas coisas na minha cara e depois chorou no meu colo, dizendo que sabia que eu estava numa situação difícil, mas que mesmo assim não era motivo pra eu fazer isso.

- Você vai comigo? - perguntei pra ela que assentiu 

- Eu espero que você não se arrependa - ela murmurou sentando na minha cama e olhando pro teto - Você vai matar uma criança, alguém que não tem culpa da sua irresponsabilidade 

- Para Tracy, por favor - eu falei brava segurando o choro - Se você for ficar falando isso pra mim, prefiro ir sozinha

- Vou parar - ela disse baixo 

- Vamos? - perguntei e ela assentiu se levantando

A clínica não era tão longe assim mas mesmo assim fomos de carro.

- Olá, tenho uma consulta marcada pra agora - eu disse pra recepcionista que me olhou e sorriu 

- Nome? - perguntou 

- Lavínia Souza - eu disse e ela me olhou concordando com a cabeça 

- Pode aguardar ali - ela apontou pra uma salinha - Você já vai ser atendida..

- Tudo bem, obrigada - eu disse indo até a salinha junto com a Tracy

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- Lavínia Souza - a médica apareceu na salinha e eu levantei 

- Você vem? - perguntei pra Tracy que negou

- Não consigo - ela disse e eu a encarei triste e depois segui a médica 

- Deita na maca e levanta sua blusa - ela disse e eu assenti me deitando - Primeiro vamos fazer um check up no bebê

- É mesmo necessário? - perguntei e ela assentiu 

- Bom, o seu bebê está de sete semanas - ela disse e eu a olhei assustada, quase dois meses - Ele está saudável e agora vamos ouvir o coraçãozinho dele tá?

- Ta... - murmurei querendo que tudo aquilo passasse logo

- Aqui - ela falou e um som começou a se espalhar pela sala

Tum tum tum tum...

Eu senti algo diferente no meu coração, não sabia explicar o que era. Fiquei encantada com aquele som, como algo tão perfeito era formado dentro de mim.

- Agora já podemos começar o procedimento, tire sua roupa por favor. - ela disse se levantando e trocando as luvas - Você tem certeza do que está fazendo?

- Uhum... - eu murmurei deitando novamente na maca e fechando os olhos com força

- Certo, vamos lá - ela disse e eu pude ouvir ela mexendo em algum aparelho.

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