FRAGILE | ✓

trinta

ITÁLIA, SICÍLIA

VALENTINA MONTANARI

QUATRO ANOS ATRÁS.

O ar frio da Itália me faz ter boas lembranças e ao mesmo tempo dolorosas.

Foi aqui que toda nossa história aconteceu. E foi aqui que ela terminou.

Ao entrar no jardim da casa de meus pais, as lembranças vem com tudo.

Lembranças do dia do meu casamento, dia esse que deveria ser o mais feliz da minha vida. Se transformou no pior. No mais trágico.

Fico me perguntando se em algum momento essa dor insuportável vai diminuir, e se finalmente tudo vai começar a dar certo na minha vida.

Quando entro na sala de estar, tudo parece está diferente.

Mas não é o local e sim eu.

Eu estou diferente.

Não sou a mesma de 1 ano atrás.

Vou direto para meu quarto tomar um banho.

Depois de pronta, sigo direto para o quarto de meus pais e o que vejo me faz parar.

Meu pai totalmente debilitado. Pálido. Seus olhos sem brilho algum. Cheio de equipamentos ligados ao seu corpo.

E mais uma vez, vejo que realmente tudo de ruim só acontece comigo. Meu pai não pode morrer.

- Filha... Vem aqui... - Meu pai me chama com a voz arrastada. Quando chego mais perto, meus olhos se enchem de lágrimas.

- Estou feliz... D-ee te ver... - ele continua se forçando a falar.

Tudo que não consigo imaginar é como ele ficou doente assim, ele parecia tão bem de saúde quando fui embora e agora está assim, desse jeito.

- Eu não tenho muito tempo mais... Quero que me prometa algo...

- Pode falar babbo...

- Me prometa que independente de qualquer coisa você vai tentar ser feliz... Por... Fa-aavor... - ele diz, olhando dentro de meus olhos. - E... Que vai procurar alguém pra te ajudar no que for preciso... Alguém de confiança. Confio em ti pra isso. Você precisa... Descobrir quem... É o traidor. Me... Prometa.

Sinto que seus olhos estão longe, muito longe daqui.

- Babbo... Eu não sei... - falo tentando conter as lágrimas.

- Só... Me prometa filha... - ele me pede e eu claramente não poderia não prometer.

Mesmo que não prometesse, tudo será passado para mim.

- Eu prometo. Vou cuidar de tudo por aqui. Mas ser feliz... Vai ser algo impossível, minha felicidade foi embora a 1 ano atrás... - digo dando um beijo em sua testa.

Ele me olha forçando um sorriso, mas logo isso se some e vejo quando as máquinas começam a apitar avisando que algo está errado.

A enfermeira que estava com ele no quarto antes de eu entrar volta correndo e eu não consigo sair do quarto enquanto vejo meu pai morrer na minha frente. Meu herói.

As lágrimas caem por meus olhos sem parar e só consigo pensar que tudo na minha vida só vem piorando.

Eu devo ter feito algo de muito ruim para ter uma vida cheia de perdas assim.

Então ali, diante dos olhos sem vida de meu pai, eu prometo para mim mesma que a partir de agora eu terei uma vida infernal, mas pelo motivo certo.

Agora eu sou oficialmente o capo da cosa nostra e ninguém me derrubará, porque eu nasci no sangue e morrerei no sangue.

×××

Nossa vida é tão rápida, que as coisas acontecem sem você perceber, a um ano atrás eu estava feliz, sendo amada e meu pai estava aqui, vivo e bem.

Hoje eu estou sofrendo, totalmente rasgada por dentro e tudo que os abutres que vieram ao enterro de meu pai falam é sobre o novo capo.

Com certeza eles estão achando que eu vou abrir mão de meu poder e deixar para algum deles comandarem, mas estão muito enganados.

Eu serei o novo capo e assim, vou ter todo acesso que preciso para caçar o rato de esgoto que matou Petrus e quando eu o encontrar, até o diabo vai sentir pena dele.

Eu vou matá-lo e torturá-lo até ele implorar pela morte.

Vou fazê-lo sofrer da mesma forma que Petrus sofreu.

Irei o destruir da mesma forma que me destruiu.

Sorrio com meu pensamento.

Não vejo a hora de começar a caçada.