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ITÁLIA, SICÍLIA

VALENTINA MONTANARI 

(NOVE ANOS ATRÁS)

Máfia

Uma palavra tão pequena mas que significa muita coisa.

Eu já ouvi tantos sentimentos em relação a ela que agora, para mim, existe muito deles. Mas os principais sempre serão; ódio, medo, sangue, poder, e por último e o mais desesperador, amor. E por mais estranho que o último seja, talvez seja o mais verdadeiro. Porque é nele que vemos a verdadeira face de cada criminoso. Porque todo mundo tem um ponto fraco. Sempre. E eu sei disso porque nasci na máfia e irei morrer nela. Já aceitei isso.

Eu sei tudo de ruim que me cerca, afinal, meu pai sempre fez questão de me deixar envolvida nesse mundo. De todas as formas. E isso deixa minha mãe louca, porque tudo que ela não queria está acontecendo. E eu até entendo todo esse desespero dela. Ela já perdeu um filho para esse mundo e tem medo de perder mais um. Só que isso é inevitável.

Meu irmão morreu por culpa da minha infantilidade. Somente porque eu fui rude com Andrew Schneider, um garoto mimado que se acha demais.

Mesmo meus pais dizendo que eu não fui culpada por nada, na verdade, eu sei que fui e nada vai me fazer mudar de ideia.
E justamente por isso, desde a morte do meu irmão, meu pai perdeu seu herdeiro e por esse motivo ele aos poucos está me introduzindo nesse mundo e no fundo, bem no fundo, eu gosto disso. 

E é por isso que meus pais estão neste momento discutindo sobre a minha vida e eu não estou lá. Apenas porque eles me tratam como alguém normal, sendo que eu não sou. E eles sabem disso.

Eu sou filha do chefe da maior organização criminosa e eu tenho esse legado. E eu sei que ele vai ser meu, agora ou daqui a alguns anos. Eu sei disso e o pior, isso me deixa desesperada.

Respiro fundo e olho mais uma vez para o meu celular, mais precisamente para a foto que eu tenho salva na nuvem. 

Essa foto mexe comigo de todas as maneiras possíveis.

Eu e Petrus a alguns anos atrás. Nós éramos amigos e eu sempre fui apaixonada por ele, e só um cego não via. Mas também, eu era apenas uma criança tola, não que eu ainda não seja, mas eu sempre quis estar perto dele e ele foi embora, me deixando sem explicações. Se ele estivesse aqui, ele me daria apoio. E principalmente, me ajudaria a resolver toda essa bagunça que está na minha cabeça.

Sou tirada dos meus pensamentos ao ouvir um barulho vindo da porta do escritório do meu pai e rapidamente fecho a foto.

Logo em seguida vejo minha mãe saindo e passando por mim muito puta, tão puta ao ponto de nem falar comigo. 

Acho que as coisas ficaram feias entre eles.

Me levanto, indo diretamente para a cozinha, porque quando estou nervosa, a única coisa que me acalma é a comida.

Vejo um bolo de chocolate posto na mesa e o ataco rapidamente. Marie fez pensando em mim, com certeza.

Enquanto como e esqueço por alguns segundos tudo que me cerca, escuto passos vindo da parte lateral da cozinha. 

Me viro rapidamente para olhar quem é. E não me surpreendo ao ver que é Pierre.

— Como sempre comendo né ruivinha? — pergunta, se sentando ao meu lado na mesa. 

— Só isso me acalma, você sabe... — digo, pegando outro pedaço. 

— Como eu sei... Queria te chamar para um passeio antes de você voltar a estudar. — ele diz, olhando fixamente para minha boca e isso me incomoda. 

Qualquer pessoa sã sabe que ele tem interesse em mim. Menos os meus pais, claro.

Mastigo bem lentamente olhando para ele. Preciso pensar em uma resposta que não o machuque. 

— Então... A gente pode ver isso. — digo, me levantando da mesa — Eu vou sair agora com a Alina, quando voltar eu te procuro, pode ser? 

Ele sorri e acena confirmando.

Saio da cozinha sem olhar para trás.

Nós fomos criados juntos e eu o considero apenas como amigo. Nada mais que isso. 

Atualmente ele trabalha na segurança da minha casa e pelo o que sei, ele é um dos melhores. Meu pai confia nele por causa de seu pai que foi um dos seus homens de confiança. Mas paro de pensar sobre isso e me arrumo para sair. Mesmo não querendo. Porque é um porre sair com Alina, ela é fútil demais e isso me irrita, mas eu amo ela, então faço algumas coisas que não gosto e nem concordo por ela. 

Assim que estou pronta, saio de casa em direção ao meu carro, e assim que entro vejo pelo retrovisor meu pai me olhando pela janela de seu escritório e logo atrás de mim, me seguindo, dois Suvs pretos.

(...)

Depois uma longa tarde no shopping com Alina, assim que chego em casa, ao entrar, vejo dois caros desconhecidos estacionados na porta. 

Estranho, deve ser algum dos associados que veio para alguma reunião com meu pai.

Estaciono, pego minhas sacolas e corro pra dentro de casa, a noite de hoje em Sicília vai ser fria. Muito.

Ao chegar na porta me deparo com vozes conversando em harmonia, e uma em especial me faz congelar no lugar, conheço muito bem essa voz rouca, que já me fez ter muitos sonhos com ela sussurrando em meu ouvido, com certeza só pode ser coisa da minha cabeça. 

Abro a porta da sala discretamente e eu confirmo o que eu ouvi. 

É ele. 

Petrus Forchhammer. 

Fico travada no lugar quando me dou conta que ele está olhando diretamente para mim. 

— Olha ela aí... Demorou demais minha filha, Petrus e Adam estavam loucos pra te reencontrarem, deu sorte de ainda conseguir vê-los. Estavam indo embora, mas os convenci a ficar. 

Minha mãe fala sem parar, olhando para mim, mas não consigo focar no que ela diz, porque ele está aqui, bem na minha frente, exalando poder e masculinidade. 

— Hmm...Que bom vê-lo de volta Petrus, ou devo chamá-lo de Sr Forchhammer? — pergunto, exalando sarcasmo na voz.

Estou feliz de poder olhar nesses lindos olhos novamente, mas estou triste pela forma como ele se foi.

Ele continua me encarando com um olhar que não sei definir, mas arriscaria dizer que transmitia divertimento, com certeza. 

— Olá, Piccola, pode me chamar como quiser... — diz, se aproximando. 

E ao sentir seu perfume tão de perto, percebo que provavelmente tudo irá começar a mudar a partir de agora. E eu não sei se isso é um bom sinal.

FRAGILE | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora