sessenta e dois

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ITÁLIA, PALERMO

VALENTINA MONTANARI

ATUALMENTE.

Olho pela milésima vez a chuva caindo lá fora, e eu sinceramente não sei mais o que fazer. Estou surtando sem informação alguma.

Faz mais de 11 horas que eu falei com Adam e até agora não tive nenhum retorno. Já dava pra ele ter chegado aqui a algumas horas.

E eu odeio esperar. Eu odeio ficar sem respostas. Eu simplesmente odeio o mundo, ou melhor, a minha vida.

Cada merda que veio acontecendo foi levando a outra.

Primeiro, a morte de Petrus, que me deixou totalmente fora de mim.

Segundo, a morte de meu pai, que me transformou no capo da cosa nostra.

Terceiro, o meu casamento com Giovani Vitali, o maior filho da puta da história. E no final de tudo, foi o culpado por toda desgraça na minha vida. E eu irei matá-lo.

E com certeza, agora, será a última coisa que irei fazer na vida.

A ideia de finalmente poder fazer o que eu estava em mente desde o início me deixa feliz. Porque eu finalmente poderei reencontra-lo. Se isso realmente existir.

Já passei muito tempo por aqui, já passei muito tempo sem ele.

Saio de perto da janela voltando a minha mesa para olhar se meu celular tem alguma nova mensagem. Nada.

Não tenho notícias de Adam nem do Vitali. E isso me preocupa.

Resolvo sair daqui de dentro, se eu ficar aqui mais um minuto eu vou enlouquecer, e o melhor é só fazer isso quando eu estiver frente a frente com o Vitali. Esse pensamento me faz sorrir. Não vejo a hora de finalmente poder por um fim na vida dele.

Ao entrar no elevador desço até o térreo para ir para casa. Observo um burburinho entre algumas dançarinas do clube. Resolvo ir olhar o que está acontecendo.

— Posso saber por que as senhoritas não estão trabalhando? — pergunto claramente irritada. Eu odeio ver elas fazendo corpo mole. Não estão aqui de graça. Nem obrigadas. Elas se viram na minha direção com umas caras assombradas. — Então? Estou esperando uma resposta! — falo chegando mais perto.

— É... Senhora... Já estamos voltando ao trabalho. — Uma delas fala, mas sinceramente não entendo essa cara delas.

Deve ser medo, só pode.

— Acho bom... Da próxima vez, estão na rua. Todas. — falo e as deixo para trás.

Quando estou me aproximando do meu carro vejo Derek vir em minha direção correndo.

— Senhora... — ele me chama me fazendo parar.

— Agora não Derek! Estou cansada, preciso ir pra casa tomar um banho — falo seguindo em direção ao carro, mas ele me alcança.

— A senhora precisa ver isso agora! — ele diz pegando em meu braço. O puxo rapidamente de suas mãos.

— Nunca mais ouse encostar em mim Derek! Da próxima vez você irá perder seu braço. — falo realmente estressada.

Ele acha que só porque dei uma liberdadizinha a ele, pode fazer o que quiser.

— Desculpe senhora... Mas olhe isso. — ele fala me dando seu tablet. Na verdade, praticamente esfregando em meu rosto.

— Ver o que Derek? — pergunto pegando o aparelho.

E com aquela imagem eu paraliso. Totalmente.

É claro que é mentira. Não tem como ser real. Na verdade, é impossível.

Eu fico olhando fixamente para aquela imagem sem acreditar. Adam e alguém totalmente igual a ele.

Mesmo corpo.

Mesmo rosto.

Tudo exatamente igual.

E eu ainda não consigo acreditar.

Não pode ser.

Não é real.

— Isso é montagem! — falo entregando o aparelho para Derek.

— Senhora... Não é. Eu também não acreditei de início, mas eu acabei de ligar para o hotel onde o senhor Forchhammer está hospedado e me informaram que ele pediu outro quarto... Para Petrus Forchhammer... — ele diz e simplesmente não escuto mais nada.

Eu fui ao velório dele.

Eu chorei por ele. 

Eu me transformei nisso por ele.

O Adam deve ter uma boa explicação para isso. Ele tem que ter.

Deixo Derek para trás entrando em meu carro e pedindo aos seguranças para seguirem em direção ao hotel onde estão hospedados.

É mentira.

Ele morreu.

Eu vi isso, eu assisti ao vídeo de sua tortura.

Eu vi seu corpo totalmente desfigurado.

Eu vi a aliança de noivado próxima ao seu corpo.

Tudo exatamente igual.

Não é possível que tudo foi armação e eu não percebi. Não é possível.

Vejo o carro andando pelas ruas e eu só consigo pensar que se for verdade, minha vida vai dá um giro de 360° graus.

O meu Petrus vivo.

Acho que essa seria a melhor notícia que teria na vida.

Isso me faria mudar tudo.

Me faria querer viver.

Eu sempre sonhei com isso. Sempre imaginei poder tê-lo ao meu lado mais uma vez. Poder tocar seus lábios. Sentir seu corpo. É tudo que eu sempre quis. E se for verdade, eu farei tudo isso. E finalmente poderei ser feliz.

Realmente o ditado que depois da tempestade vem a calmaria é verdade, acho que as coisas vão começar a dar certo novamente pra mim.

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