setenta e nove

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ITÁLIA, PALERMO

VALENTINA MONTANARI

ALGUM TEMPO DEPOIS.

"Diga que me ama na minha cara
Eu preciso disso mais do que o seu abraço
Apenas diga que você me quer, é tudo o que importa
O coração está se machucando com seus erros..."

Jesse Ware | Say you love me.

Respira.

Expira.

Respira.

Expira.

Fazendo esse mantra olho mais uma vez pra o teto do meu escritório cansada.

Meu relacionamento com Petrus está quase perfeito. Sim, quase.

Tudo estaria incrível se ele se lembrasse da nossa história, mas nada acontece. E eu juro que tento ter paciência. De verdade, mas não dá.

As vezes eu me sinto uma escrota por pensar assim, mas quando eu olho pra ele sinto que ele se esforça ao máximo, mas falta algo.

Ele nunca me disse desde que voltou que me amava e isso dói. Porque tudo que eu preciso é ouvir isso dele.

E mais uma vez eu me sinto horrível por ser tão dependente disso.

Não consigo me concentrar no trabalho, nem em nada. Por causa dele e o pior, ele nem sabe disso.

Me levanto com a decisão de ir pra casa, porque quando estou perto dele, mesmo não tendo o que eu quero ouvir, pelo menos tenho ele.

Saio indo em direção a saída do meu escritório, mas dou de cara com Derek.

— A senhora vai embora? — ele me pergunta, como se não fosse óbvio.

— Sim, por que? — o respondo, fechando a porta.

— Nos tínhamos uma reunião com os associados... — realmente estou cansada disso.

— Cancela! Estou com uma dor de cabeça insuportável, não poderei ficar. — escuto seus passos vindo atrás de mim.

— Mas senhora... — Não deixo ele terminar, me viro rapidamente para trás, o que faz nós dois esbarrarmos um no outro.

Uma situação estranha.

— Sem mais, e por favor, me deixa em paz só por hoje. Tchau. — saio, sem olhar pra trás.

Continuo fazendo o mesmo mantra até chegar no carro, eu vou surtar, não é possível.

Eu tinha certeza que agora tudo ia ser perfeito, mas estava totalmente enganada.

O caminho até meu apartamento não é longo, sei que Petrus não está lá porque provavelmente deve está administrando a nova sede da empresa dele, que foi transferida pra cá.

Vou direto para meu quarto tirando toda a roupa e indo para o banheiro.

Por que é tudo tão difícil?

Por que?

Afundo na banheira pensando como tudo é difícil.

Eu vejo que ele tenta sempre me agradar e se lembrar da nossa história.

Fizemos viagens, repassamos alguns acontecimentos importantes mas absolutamente nada acontece.

É como se eu não fosse importante o suficiente para ele se lembrar de nós.

Volto a superfície e me deparo com seus olhos fixos em mim.

Tão lindo.

Você está bem? — ele me pergunta, se abaixando até ficar na minha altura na banheira.

Olho dentro de seus olhos azuis cristais, ele parece está perdido e isso me machuca.

— Sim... Por que?

— Derek me disse que você cancelou uma reunião muito importante porque estava com dor de cabeça... Vim ficar com você. — ele diz, passando a mão em meu rosto.

— Ele é muito intrometido, não deveria ter te pertubado assim. — falo, me levantando da banheira sem aviso prévio, o que faz pingar um pouco de água no terno caríssimo dele.

Seus olhos correm por todo o meu corpo e depois fixa em meu rosto novamente.

— Desculpa por isso — digo com cara de inocente. Ele me olha com um sorriso sacana.

— Tudo bem amore... Vou pegar uma toalha pra você. — ele diz saindo e tirando seu terno.

Respiro fundo e saio da banheira ao mesmo tempo que ele entra com uma toalha em mãos. Ele fica atrás de mim e me enrola com ela.

O toque através do tecido me faz estremecer.

Nossos olhos se encontram no espelho e quando eu olho pra o casal ali faz meus olhos se encherem de lágrimas.

Ele me abraça mais forte ainda olhando fixamente pra mim.

— Me diz o que está acontecendo... Por favor. — ele pergunta, próximo ao meu ouvido. O que me faz se arrepiar inteira.

Esse homem é tudo que eu sempre quis.

Ele é tudo que eu tive e estou tendo a chance de ter novamente.

Mas falta algo.

Solto um sorriso fraco e me viro ficando de frente pra ele.

— Você quer mesmo saber? — pergunto, passando a mão em seu rosto.

Ele acena que sim.

— O que você sente por mim? De verdade? — O seu aperto em minha cintura diminui e eu não gosto disso.

— Eu... É difícil falar sobre isso. — ele diz, se afastando mais ainda.

— Como difícil? É disso que eu estou falando, nós dois estamos diferentes... — falo, passando a mão em meus olhos, não vou chorar agora. — Você nem se quer sabe se me ama, cansei Petrus. — saio do banheiro o deixando lá sozinho.

Assim que vou ao closet, visto uma camisola para dormir e estranho a demora dele de sair do banheiro.

Resolvo ir ver se ele está lá ou se saiu sem eu ver.

Assim que entro, me deparo com ele caído no chão e mais uma vez, entro em desespero.

Vou até ele e coloco sua cabeça no meu colo, não consigo segurar as lágrimas que descem sem parar agora.

Pego seu celular em seu bolso e ligo para o médico da família. Assim que ele atende, explico o que aconteceu e ele me avisa que está vindo logo.

Quando desligo a ligação fico olhando para seu rosto desacordado. Eu sou uma idiota, isso sim.

Olho para o teto, pedindo ajuda a alguém lá em cima. Eu não posso perdê-lo.

Que ele esteja bem.

Que ele esteja bem.

Que ele esteja bem.

Fico repetindo isso na minha cabeça até finalmente o médico chegar para examiná-lo.

Eu não deveria ter batido de frente com ele sobre nada disso.

Que droga!

FRAGILE | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora