três

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ITÁLIA, SICÍLIA

PETRUS FORCHHAMMER

NOVE ANOS ATRÁS.

Desde criança eu sempre soube que em algum momento eu estaria no lugar de meu pai, e quando os treinamentos começaram, eu tinha apenas 10 anos, ainda muito pequeno, ainda eram leves, mas depois dos 12 tudo piorou, veio a primeira morte, o que não me fez sentir algum remorso pelo cara, um estrupador de mulheres e que tinha roubado meu pai, foi o alvo.

O torturei durante 3 dias, e me divertir pra caralho com isso, nunca entendi como depois de fazer isso eu conseguia ir até ela e me divertir. Talvez o fato de ela me acalmar e sempre deixar minha essência de criança viva.

Por isso, desde que pisei na Itália, depois de 5 anos fora, sem querer vim e mostrar no que me tornei a ela, sempre evitei mostrar meu lado sombrio, não sei como ela reagiria ao saber tudo o que fiz e principalmente como me olharia, então, sempre evitei ao máximo voltar, mas infelizmente Maurizio é meu chefe, e se ele me dar uma ordem, tenho que obedecer, porque mesmo eu sendo capo, ele está acima.

Ele pediu minha ajuda com uma nova negociação com a máfia brasileira, então não pude negar.

Quando cheguei aqui, com meu irmão junto a mim, o que não acho ruim, só temos um ao outro, então, é nós dois por nós sempre. Confio minha vida a ele e sei que ele pensa exatamente o mesmo.

Daqui de onde estou, em nosso apartamento no centro da cidade, olhando para a cidade fria, vendo várias vidas passando por ali sem nem fazer ideia do que os cerca.

O submundo é algo inevitável, que está em todos os locais, às vezes escondido, sem ninguém sequer perceber, mas é um fato.

O grande exemplo é Maurizio, para o povo de Sicília ele é um cara socialmente bom, dono de uma empresa de vinhos e um ótimo prefeito, mas para o submundo, todos o conhecem como mão de ferro, um cara que assumiu o poder aos 16 anos, frio e calculista, sem escrúpulos e pena de ninguém, tendo algum tipo de emoção e sentimentos apenas com sua família.

Mas todos o viram fraquejar quando Caleb morreu, naquele momento eu entendi que ele era humano. Valentina e dona Stefana estavam péssimas também, e eu queria ter ido falar com ela naquele momento, mas preferi manter distância, ela nem faz ideia que eu vim ao enterro, mas eu estava aqui, o tempo todo, a apoiando sempre.

- Irmão, tava olhando o orçamento que o dono do prédio ofereceu para nos vender, posso dizer que é uma proposta muito boa, está abaixo do valor e está localizado em uma das melhores partes da cidade...

Meu irmão entra atrapalhando meus pensamentos, me informando sobre alguma coisa da empresa, mas não estou afim de prestar a atenção nisso, estou sem foco para alguma coisa depois do que aconteceu no quarto com Valentina.

- Cara, não tô com cabeça para olhar orçamentos agora, o que você resolver pra mim está ótimo, você sabe, confio em você no comando da empresa. - ele ri, e joga os papéis em cima de uma mesinha vindo em minha direção.

- O que aconteceu entre você e a ruiva lá em cima que deixou você assim? - ele me pergunta, com o seu ar de riso.

Não sei se devo contar, não foi nada demais, ela ainda é muito jovem e provavelmente Maurizio jamais deixaria eu me aproximar dela, mesmo confiando em mim, como ele diz.

- Eu não sei explicar, mas ver Valentina hoje... Mexeu comigo de uma maneira que é até difícil de descrever. E eu não gosto disso. Não gosto do que senti.

- Isso não me surpreende... Não estou aqui para te julgar, no fundo sempre soube que você e ela eram próximos demais, mesmo depois dos treinamentos, cansado, você queria ir até ela, brincar, só para fazê-la sorrir, mano, isso tem um significado muito grande, uma simples palavra que fode tudo. Paixão. Você está apaixonado por ela, e não é de agora. E antes que você pense em qualquer coisa lembre-se que o pai dela jamais vai permitir alguém perto, pelo menos não até o momento em que ela tiver que se casar, ele a protege desse mundo com um escudo, ele com certeza não permitirá que você chegue perto dela. Mas se você tiver afim de lutar, estou aqui pra te apoiar sempre. Você sabe. - ele diz, apertando meu ombro - Tenho umas coisas pra resolver fora da cidade provavelmente só volto amanhã. Cuidado para onde seus pensamentos vão te levar.

Logo em seguida sai, e eu fico refletindo no que ele disse.

Paixão.

Maurizio Montanari, meu chefe.

Lutar por ela.

São tantos pensamentos conflitantes. Não sei se encarar a fúria de Maurizio é para mim. O respeito como capo e também como um tio, não quero deixá-lo desapontado comigo.

Mas a vontade de encarar tudo isso que estou sentindo é grande demais. De ter ela para mim, porque se tem algo que eu percebi é que ela me corresponde.

Mas a grande dúvida é: será que ela me aceitaria do jeito que estou hoje? Com sangue de mais pessoas do que posso contar nos dedos, tráfico de drogas, e tudo que a máfia oferece? Logo ela que sempre deixou claro que era contra a violência? Provavelmente não.

Pego meu copo de whisky e o encho novamente, essa noite será longa, muito longa.

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