Trato Feito

Capítulo 22

Um facho de luz foi o responsável pelo despertar indesejado. Holger resmungou baixinho quando a luz que passava pela fresta da cortina o atingiu em cheio no rosto, mas não se mexeu. E também não podia, se o fizesse acordaria Catherine, que o envolvia com um dos braços e respirava diretamente em sua nuca. Ela tinha feito show em Stuttgart na noite anterior e os dois estavam na casa dele.

Apenas os dois.

Catherine não quis nem mesmo comer na noite anterior, apenas chegou e se enfiou sob os edredons da cama de Holger e dormiu, o que fazia com que ele agradecesse aos céus e a todas as divindades existentes, afinal, quanto menos as coisas entre eles avançassem, melhor.

Holger tinha ido apenas aos shows em Munique e Stuttgart, os treinamentos e jogos não permitiram que ele ficasse afastado da cidade, então aquela era a primeira vez que Catherine e Holger se viam em vinte dias e ainda naquele dia, Catherine embarcaria para Zurique. Provavelmente ficariam sem se ver até o julgamento, se fosse marcado para antes das festas de fim de ano, já que Holger estava recuperado e o treinador tinha deixado claro que ele é o titular absoluto e Catherine estava em turnê.

Desde a ida ao escritório de Samantha, Holger vinha pensando em tudo, mas ainda não sabia definir com exatidão o que sentia por Catherine, sabia que não era nada relacionado a estar apaixonado, nem de longe se assemelhava ao que sentira por Natascha desde o começo. Holger imaginava que tudo só tinha se tornado aquela confusão por terem colorido a amizade, se tivessem mantido o script, não estariam com os pés e as mãos enfiados na lama.

As coisas tinham saído do plano original, mas nada entre os dois parecia gostar de seguir roteiros, essa era apenas mais um desvio de rota a acrescentar nessa lista.

E apesar de saber e sentir que é necessário conversar e impor limites – dessa vez de verdade! – no que quer que seja isso que estão fazendo, Holger não quer se precipitar e acabar falando as palavras erradas e afastar Catherine, ainda que o contrato tivesse dias contados e que, porventura, pudesse acabar nessa conversa, ele queria que ainda fossem amigos. Queria ficar perto de Catherine. Ela era uma companhia que valia a pena.

- Em que você está pensando? – Catherine resmungou em seu ouvido e Holger se sobressaltou.

- Nada. – mentiu.

- Podia pensar em fechar a cortina, por favor. – Catherine falou com a voz ainda era rouca de quem tinha acabado de acordar, e Holger sabia que se virasse, ela estaria com os olhos fechados e se preparando para voltar a dormir.

- Então me solta que eu vou. – respondeu num tom baixo e ela afrouxou o abraço.

Levantou-se e fechou a cortina, escurecendo o quarto completamente e ouviu Catherine soltar um resmungo satisfeito.

- Volta logo, tá frio. – o resmungo pidão de Catherine soou irresistível e Holger soltou uma risada pelo nariz antes de ir até a cama e se deitar, dessa vez de frente para ela, que tratou de agarrá-lo sob os edredons e se aninhar de forma confortável. – Quentinho.

- Eu sou bem quente, você sabe.

- E caladinho também. – Catherine respondeu e Holger apenas a abraçou mais apertado, esperando também ser conduzido para o mesmo sono que ela tinha retomado.

-x-

O insistente e estridente do celular de Catherine foi o responsável por acordar o casal e aquela quantidade de toques denunciava que Leonard era o responsável pela chamada. E o aparelho nem estava perto da cama, obrigando Catherine a se levantar para procurá-lo pelo cômodo escuro.

Demorou alguns segundos que, devido ao toque alto e insistente, pareceram bem mais demorados do que realmente foram. Catherine sentou-se no chão, encostando as costas na cama, de olhos fechados e atendeu a chamada.