Capítulo 35

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- Nós precisamos conversar. – Holger disse sério.

A ruga da testa estava lá, os lábios comprimidos e os olhos sérios. Catherine sentiu-se ainda mais nervosa, até brincaria falando um "oi pra você também" antes de soltar uma indireta ácida falando "precisamos mesmo, você mal tem falado comigo há mais de um mês e eu tenho muitas coisas pra contar" e começaria a falar desenfreadamente todas as coisas que queria contar sobre as experiências na África, mas fazendo uma leitura rápida dos sinais que ele entregava estava claro que era um assunto sério.

- Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu. – Holger suspirou. – E eu não sei como falar.

- Holger... O que aconteceu? – Catherine perguntou preocupada e se ajeitou na cama.

Holger voltou a suspirar e a olhou pela tela do celular, tentando reunir coragem para falar o que queria e não se distraísse com nada, nem desistisse ao ver os olhos brilhantes, curiosos e tão bonitos de Catherine que lhe olhavam de forma preocupada.

- Eu não tenho muito o que fazer quando chego da fisioterapia, você sabe, então eu estava revendo "How I Met Your Mother" e cheguei naquele episódio em que a Victoria foge do próprio casamento e o Ted encontra o Klaus na estação de trem, você sabe de qual estou falando, o Klaus fala que a Victoria é wunderbar, mas não é sua lebenslangerschicksalsschatz e eu q...

- Não. – Catherine o interrompeu. – Você não vai terminar comigo usando "How I Met Your Mother".

- Cat, eu q...

- Nós somos adultos demais pra esse tipo de coisa, Holger, então termine usando razões adultas, por favor. Diz que o contrato perdeu a razão, que você só suportou ficar perto de mim por interesse, mas não fala que eu sou beinaheleidenschaftsgegenstand e não lebenslangerschicksalsschatz. Eu detesto essa série, você sabe disso, e é muito doloroso ouvir que eu sou o quase e não o que você quer.

- Cat, me esc...

- Espero que você se recupere logo, que as coisas certas aconteçam pra você e que sua vida seja longa, próspera e feliz, Holger. De verdade.

- Cat, por f... – Holger começou a falar, mas Catherine desligou antes que ele completasse.

- É como diz a música, eu não posso te fazer me amar se você não me ama, Badstuber. – Catherine murmurou encarando o teto branquíssimo do quarto.

Como só viajaria no final do dia, tinha boas horas de descanso antes de partir para Pretória. Catherine tinha se apresentado na noite anterior em um show lindo e emocionante em Cape Town.

E tinha cantado a nova música escrita pra ele.

Love is Easy.

Mas nem tanto, aparentemente.

Catherine teve um insight do que poderia fazer para passar o tempo e evitar estar perto de pessoas que não queria ver ou conviver no momento, no caso, Leonard. Pegou seu caderno de composições, ironicamente dado por Holger, uma caneta, um boné na mala, óculos de sol e abriu a porta do quarto, encontrando Bob parado.

- Preciso que você me leve a um lugar. Agora. E nós temos de sair escondidos, tanto do Leonard quanto das pessoas lá fora. – Catherine pediu e Bob sorriu travesso.

- O que você está aprontando?

- Só preciso sair daqui. – Catherine suspirou triste. – E vou fazer isso com ou sem sua ajuda.

- Lugar aberto?

- Não faço ideia, só quero sair daqui, por favor.

- Então vamos. – Bob apontou e os dois começaram a caminhar pelo corredor que os levaria ao elevador. – Vai precisar beber?

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