9. Marcella

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Durante alguns segundos, experimentei uma espécie de bloqueio mental. Ele me puxou e fez com nos sentássemos na cama. Mas em nenhum momento soltou minhas mãos.

- Você está bem? - cuspi por fim. - Se você sequer pôde me olhar depois que eu e seu irmão decidimos nos casar. Você não me acha digna da sua família!

- Isso não é verdade, Marcella. - negou ele.

Eu não queria continuar escutando, soltei minhas mãos das suas e tentei me levantar, mas as pernas não obedeceram. Meu corpo inteiro era como uma massa de rocha inerte, partida pelo raio daquelas palavras naquela maldita carta e estava a ponto de desmoronar.

Theo pegou novamente minhas mãos e as reteve em seu próprio colo para obrigar-me a olhá-lo. Estava pálido, mas parecia decidido. Eu temia tanto pela reação de papà que tremia de tal forma que até minha cabeça parecia sacudir violentamente. Mal podia respirar.

- Sei que não sou o Saulo. - concedeu ele tristemente. - E que nunca serei. Ele é meu irmão, e tão diferente de mim como... como Malu de você, mas...

Malu! Aquele nome estava começando a perseguir-me. O nome, o rosto doce de olhos azuis e cabelo loiro e suave. Malu era a própria Vênus encarnada, a boneca de porcelana, enquanto eu...

- Malu é a mulher adequada para Saulo, Marcella! - Theo disse com força, quase como se tivesse podido ler meu pensamento. - Um casamento com você não teria dado certo. Saulo não é o homem certo pra você.

Malu e Saulo? Malu havia namorado com Theo, não com Saulo. 

Minha cabeça começou a dar mais voltas. Mas eu não podia pensar neles agora. Meu foco era papà.

- Eu não quero mais falar nada disso, Theo. Tenho que ir e encarar o meu pai.

- Escute. Sei perfeitamente que você só estava se casando com Saulo por causa da doença do seu pai. Ele mesmo me contou isso antes de escrever a carta. - fecho os olhos, angustiada. - Então Malu apareceu e...

- Pelo amor de Deus, pare de falar o nome dessa mulher.

Eu não tinha raiva dela porque ela fez o Saulo desistir do casamento, mas porque eu sabia que Theo era apaixonado por ela. E, provavelmente, só estava me fazendo aquela proposta por orgulho ferido. Era a ela que ele amava.

- Está bem.

- Eu odeio o seu irmão, Theo. Isso tudo é culpa...

- Minha. - ele me interrompe. - Eu sei. Você não precisa falar. Eu sei. Fui eu quem a chamou para falar sobre Saulo e você. Fui eu quem a aconselhou que voltasse se ainda sentisse algo por meu irmão. E fui eu quem os incentivou a se verem, sempre que fosse possível, para que Saulo se desse conta do erro que cometia casando-se com você!

- Deus! - Resmungo e me deixo cair de bruços sobre a cama que existia naquele quarto em que me arrumei. Doía tanto e por tantos lugares que meu corpo inteiro tremia. Cansada. Emocionalmente esgota.

- Escute-me! - disse ele, e para minha surpresa Theo se deitou também na cama, ao meu lado, com tanta naturalidade . - Marcella... - sussurrou e com mão insegura acariciou suavemente as mechas do meu cabelo. Sua mão tremia quase imperceptivelmente. - Admito. Sinto-me culpado se quer chamar assim. Te devo uma, então, me deixa te ajudar a passar por isto. Por você. Por seu pai.

Casamento por amor? - FINALIZADOOnde histórias criam vida. Descubra agora