[MIKAYLA]
Enquanto tomava uma ducha deliciosa para remover o cloro da piscina do corpo, me peguei sorrindo. Bruno havia me tirado do sério naquela tarde e eu estava soltando labaredas por causa dele. Ainda havia as imagens de Caterina cheia de risos para cima de Giba — meu suposto espião — que também me frustravam. Mas me peguei sorrindo.
Seria por causa de Jack? Tá legal que aquele garoto era incrivelmente atrevido e debochado, mas eu acabara gostando de passar a tarde com ele. Estranho, não é? Mais estranho ainda foi que, depois da minha briga com Bruno, a conversa de Jack na noite passada começava a fazer sentido, e isso me incomodava. As palavras ricocheteavam na minha cabeça o tempo todo ("Você o ama, Mikayla?" "Vale mesmo a pena continuar presa a esse garoto?"), repassando e repassando várias vezes aquele estranho diálogo entre nós. Minha consciência às vezes conseguia ser mais irritante do que o próprio Jack. Eu precisava esfriar a cabeça de alguma forma.
Havia um tempo livre até o jantar. Cat ainda não estava no quarto, eu estava sozinha e não tinha nada para fazer durante o intervalo. Torci o nariz para a cama. Eu não queria ficar no quarto. Não. Ficar sozinha sem fazer nada só abriria uma brecha para meus pensamentos me consumirem. Precisava me entreter com alguma coisa.
Decidi dar uma volta pelo navio, não tivera tempo de andar por ele ainda, e explorar cada canto dessa máquina navegadora manteria minha mente ocupada — mais em não me perder do que com Bruno e os aborrecimentos —, e isso já bastava. Quando abri a porta da cabine dei de cara com Caterina e Giba rindo pelo corredor. Giba me viu primeiro e se conteve; seguindo seu olhar, Cat parou de rir assim que virou a cabeça. Dei um meio sorriso falso e acenei para eles. Cat se despediu educadamente de Giba — educado demais —, senti minhas mãos se fecharem em punhos e tive que resistir à tentação de revirar os olhos para a cena. Assim que ele deu as costas e ela se aproximou de mim, agarrei seu braço e puxei-a para dentro.
— Caterina!
— Ai! Quê que é isso? Achei que estivesse feliz por eu ter feito uma amizade.
— Estou feliz que você tenha feito, mas pode parar com isso!
Cat se sentou em sua cama, esfregando a área rosa do braço onde eu a tinha puxado, e me olhou confusa.
— Por quê?
— Conversei com Bruno hoje por Skype.
— E...?
— Descobri que ele fez de novo.
Somente pelo meu olhar Caterina entendeu o que eu queria dizer. Seu rosto se contorceu em uma careta indignada.
— Não me diga que tem alguém vigiando você. Aqui no navio?
Suspirei e assenti.
— É um dos gêmeos.
— O quê? Como você sabe?
— Pela cara que Bruno fez quando perguntei. É óbvio, Cat. Quem mais seria?
— Você está se precipitando, Mikayla. Talvez nem seja o Giba.
— Talvez. Mas você pode ficar longe dele até eu ter certeza?
Cat me lançou um olhar incrédulo.
— Hã? Pirou? Acabei de ser chutada pelo meu namorado e em pouquíssimo tempo encontrei um gato que pode me consolar. Acha que vou desperdiçar uma oportunidade dessas só por causa da sua briguinha com Bruno?
— Já parou pra pensar que ele só pode estar flertando com você para ficar mais perto de mim? — rebati, impaciente. Caterina perdeu a fala. Em vez de dizer alguma coisa, suspirou. — É o tipo de coisa que um espião de Bruno faria.
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romance"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...