Pescador

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[JACK]

Assisti ao crepúsculo no horizonte pintar o céu de rosa e laranja. Enfim, nosso primeiro dia de trabalho chegara ao fim. Saí do mar carregando a rede cheia de peixes pequenininhos em direção à barraca de pesca do porto.

Quando chegara ali pela manhã ficara absurdamente encantado com a praia. Era limpa e larga, rodeada por palmeiras. Havia uma grande casa de madeira — que os habitantes chamavam de Tenda — entre a mata e a areia; um armazém enorme no fim da orla, onde guardavam os produtos importados; e uma barraca pequena no início da areia onde pegávamos equipamentos de pesca. Mas a grande beleza desse lugar eram os barcos estacionados entre os píeres. Pequenos, feitos de madeira, parecidos com antigos navios piratas com aqueles mastros altos e as velas esfarrapadas. Porém, por mais simples que fossem, eram extremamente bem feitos para um grupo de náufragos com tão poucos recursos.

Uma moça loira de cabelos ondulados arregalou os olhos quando me aproximei com a rede cheia de peixes. Mais pescadores enrolavam suas linhas nas varas de pescar e se preparavam para irem embora. Todos tinham entre quinze e vinte e cinco anos. A única mulher na praia estava à minha frente, esperando meu pedido.

— Preciso de um balde — eu disse, e a moça me deu um para que eu despejasse os peixes dentro dele. Entreguei a rede para ela e caminhei para fora da praia com o balde na mão. Não pude deixar de perceber os olhares dos outros pescadores em mim.

O fato era que me observaram o dia inteiro, todos pareciam saber quem eu era. Ou a ilha era pequena demais para as notícias se espalharem rápido, ou todos ali já se conheciam e notavam quando um estranho aparecia. Ou ambos. Só sei que me senti incomodado, um peixe fora d'água. Eu sempre fora discreto, não gostava de atrair olhares desnecessários, e não sabia por quanto tempo mais suportaria ser julgado pelos de todo mundo dessa tribo.

Pelo menos parecia que o príncipe Tawã gostara de mim. Quando Hugo e Cory me levaram à praia de manhã não cansaram de repetir o que eu tinha que fazer e como eu deveria me comportar. Então, observei os outros pescadores e os imitei, apenas seguindo o fluxo. Mas preferi pescar com o graveto no início, o que acabou atraindo a atenção de Tawã — que também trabalhava na praia não sei por quê.

Ele conversou comigo, me perguntou de onde eu tirara a ideia de simplesmente espetar os peixes ao invés de prendê-los em uma rede, como tinha conseguido água e comida nos primeiros dias de naufrágio, coisas assim. Eu o fiz rir sem querer e ele pareceu simpatizar comigo — mesmo eu ainda não indo com a cara dele. Os guardas se divertiram ouvindo nossa conversa e rapidamente um grupo de pessoas curiosas começaram a escutar também. Tudo porque eu arrancara uma risada de Tawã. Com isso, Cory me disse que eu já ganhara alguns pontos. Fiquei surpreso por ter sido tão fácil.

Passei pela Tenda e me encontrei com os guardas que estavam responsáveis por mim agora. Holly e Daniel me acompanharam. Explicaram-me o que era a Tenda, mas disseram que eu não preci-

sava de notas, pois o castelo me daria o necessário até que essa fase de avaliação terminasse.

Chegamos ao mercado e eu fui até a barraca de frutos do mar, onde um homem velho assumia.

— Ei, novato, o que trouxe para nós?

Olhei sério para o coroa pela entonação de "novato" e coloquei o balde em cima da bancada sem dizer nada.

— Uau! Você pegou uma boa quantidade, meu jovem. Isto dará para hoje à noite, obrigad...

Afastei-me antes que ele pudesse concluir a frase, depois virei-me para Holly e perguntei:

— O que adianta entregar os peixes à noite se estarão estragados pela manhã?

— Tudo o que entregamos ao mercado é o suficiente para o resto do dia. Temos cuidado para que nunca sobre nada, já que não temos geladeiras para conservar os alimentos. Seus peixes serão o suficiente para o jantar.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora