Uma semana depois...

27 1 0
                                    

[MIKAYLA]

Uma semana se passou desde o nosso primeiro dia no processo avaliativo da ilha. Durante esse tempo, Jack trabalhou como pescador, caçador, cuidador de animais, e hoje estava vendendo cocos no mercado. Eu começara como faxineira, depois fui promovida à empregada, ajudante de bibliotecária, agricultora, e nessa manhã fora à escolinha entreter as crianças da ilha.

Agora eu voltava ao mercado pela estradinha de terra, sorrindo e cumprimentando de volta cada habitante que passava por mim. Meu relacionamento com os callumines melhorara muito desde meu primeiro dia na vila. As crianças me chamavam para brincar, os adolescentes puxavam papo comigo — mais os garotos —, e os adultos conviviam comigo amigavelmente, como se eu já fosse um deles. Não tinham mais medo de mim e não me tratavam mais com indiferença. Só algumas garotas da minha idade — eu notara — não iam muito com a minha cara, mas, desde que começassem a me aceitar na tribo, tudo bem.

Parei diante de uma das barracas, onde Jack vendia cocos com um chapéu muito engraçado.

— Estou com sede, Jack — gritei em meio a agitação do povo. Era hora do almoço, a hora em que o mercado ficava mais cheio.

Jack se virou para mim e girou um coco pequeno nas mãos.

— Bom dia para você também, Mikayla — disse ele e eu ri.

— Bom dia — respondi, e segurei a saia do meu vestido, fingindo um rápida reverência —, agora me passe o coco.

Jack riu e balançou a cabeça, estalando a língua enquanto pegava um facão para abrir o coco.

— Então, como foi lá com as crianças? — perguntou.

— Não foi tão ruim. Acho que até consegui fazê-las gostarem de mim.

— Você não precisa se esforçar para conseguir a simpatia de crianças, Mikayla. Elas gostam de você naturalmente — disse ele, enquanto investia o facão na casca do coco. — Mas enfim, o que você fez?

— Contei histórias. Do mundo lá fora. Acredita que nenhuma delas sabe o que é um computador?

— Também já esquecemos o que é — ele sorriu e me entregou o coco. Beberiquei a água e entreguei uma nota para ele.

— Não vai almoçar?

— Daqui a pouco. Tenho que esperar Flip chegar para eu poder sair.

Felipe era o dono velhinho da barraca, mas todos os chamavam de "Flip" porque era o som que fazia quando seu nome era pronunciado de forma rápida.

— Ok, eu te espero.

Apoiei-me na bancada, ao mesmo tempo em que Yohan se posicionava ao meu lado com sua gangue. Yohan era o garoto que gritara elogios para mim na nossa primeira noite na fogueira. Depois daquela noite, tive a estranha impressão de que a maioria dos garotos da minha idade começou a me cantar por lá, e Yohan era o pior de todos.

— Sereia, sereia — disse ele ao se aproximar, era o apelido carinhoso que adotara para mim. — E aí, já tem par para o baile?

Jack sempre revirava os olhos quando um desses meninos se aproximava de mim, e sinceramente, às vezes eu também sentia vontade de fazer isso. A tribo estava organizando um grande baile para dali a alguns dias para festejar o aniversário de vinte anos do príncipe Tawã. A ilha toda compareceria, porém, cada um precisava de um par para dançar a valsa.

Não vi outra escolha a não ser dizer a verdade a Yohan.

— Na verdade, não. Por quê?

— Seria uma honra tê-la como par.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora