Um Brinde ao Novo Casal

17 0 0
                                    

[JACK]

Acordei com dores lancinantes na testa e na lateral da minha cabeça. Podia sentir o sangue pulsando nos locais como marteladas de dentro para fora. Franzi o cenho, e logo depois me arrependi de tê-lo feito pela dor que me atingiu. A ponte do meu nariz, no local entre as minhas sobrancelhas, também latejava, e eu sabia que sangrara havia um tempo pois pude sentir o sangue seco escorrido pelo meu rosto. Com um gemido, endireitei a cabeça tombada e abri olhos.

Inicialmente, não consegui ver nada além de preto. A escuridão era total. Tentei me mover para descobrir o que estava acontecendo. Não consegui. Remexi-me e sacudi-me onde eu estava. Ao que parecia eu estava sentado em uma cadeira, com o torso e os pulsos amarrados com cordas grossas. Cada um dos meus tornozelos estava atado a um pé da cadeira. Eu não conseguia me mexer.

Pisquei mais algumas vezes, até que meus olhos se adaptaram à escuridão. Não reconheci o local em que estava. Havia sacos de juta jogados, algumas portas, o chão era solo puro. Eu conseguia ver a luz da lua e das estrelas através das fendas do telhado. Ouvi alguns cacarejos baixos e roncos. Se não estivesse tão incerto, diria que esse era o... O cheiro chegou às minhas narinas para me dar a confirmação. Eu estava no celeiro do cercado dos animais.

Fitei o escuro, perdido. Minha cabeça latejava muito e, no primeiro momento, eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Então a lembrança me veio à memória. O casamento, Tina, Mikayla, Hugo, a pancada, o tiro. Ah, meu Deus... Mikayla! Já escurecera, já era noite, o casamento havia acabado. Caramba, o que foi que eu fiz?

Desesperado, comecei a puxar minhas mãos com toda a força, esquecendo as dores e o cheiro de bicho. Eu havia falhado, havia falhado! Mikayla se casara com Tawã e a culpa era toda minha. Mas que merda de cordas eram essas?! Não importava o quanto eu me contorcesse ou sacudisse, parecia impossível me livrar das amarras. Depois de alguns minutos parei de tentar. Com um suspiro alto de sentimento de derrota, recostei-me na cadeira e fitei as portas da frente do celeiro.

Como pude ser tão burro? Qualquer um teria escutado Hugo se aproximar. E mesmo que não desse tempo de reagir, qualquer um teria conseguido... sair de lá.

Bom, talvez não. A julgar pela dor da primeira pancada que eu levara, qualquer um teria ficado tonto. Mas nada disso importava. Eu estava preso em um celeiro escuro e fedorento, e não suportava a ideia de permanecer ali enquanto as coisas aconteciam lá fora. Recomecei as tentativas de me libertar, com esperanças além do limite. Cada vez que via que não fizera nenhum progresso com as cordas ficava mais nervoso e cada vez mais violento. Até que perdi o equilíbrio e a cadeira tombou para o lado, me levando junto. Bati o lado dolorido da minha cabeça no chão. O celeiro ficou distorcido e ouvi um zumbido alto dentro da minha cabeça. O encosto da cadeira, esmagando meu cotovelo com meu peso. Agora eu ferrara minhas chances de vez.

Com um suspiro longo e derrotado, fechei os olhos e tentei aceitar que falhara, que não conseguiria salvar Mikayla nem sair da ilha com ela. Eu perdera e a fizera perder também. Pelo menos eu só estava condenado à morte injustamente pelo príncipe da ilha. Tudo isso acabaria logo para mim. Mikayla estava casada com quem não amava e presa em um lugar escondido do resto do mundo, longe de sua vida normal, longe de sua família, longe de sua felicidade, e teria que conviver com tudo isso por um longo tempo. E era tudo minha culpa. Tudo porque eu não conseguira fazer uma coisa tão simples: tirar Mikayla de lá enquanto Tina distraía todos. Ela me esperara, eu tinha certeza disso. Pior, eu fizera uma promessa e não conseguira cumprir. Imaginei como ela devia ter se sentido quando não apareci, e me senti um milhão de vezes pior do que antes.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora