Rabiscos e Borrões

12 0 0
                                    

[JACK]

A parede da cela estava quase toda coberta de desenhos. Rabiscos negros para todo lado, alguns borrões, manchas de encontro à parede de pedra atrás da cama de ferro. Meu plano estava quase completo. Minha rota de fuga.

Nossa rota de fuga.

O subsolo se encontrava tranquilo nessa tarde quente. Não tranquilo de quieto, pois dava para ouvir os sons agitados da mata pela janelinha gradeada. Tranquilo de calmo. Não era o turno de Rob e o outro carcereiro não aparecera depois do almoço. Então, eu estava sozinho. Sem roncos, sem conversas irritantes, sem olhares curiosos para a minha obra de arte na parede, sem constante vigilância, minha estadia era bem mais aturável e eu conseguia pensar melhor. É claro que eu sabia que não estava totalmente sozinho, tinha conhecimento da presença do guarda do lado de fora da porta. Mas ele não me incomodava estando no andar de cima.

Deitado confortavelmente sobre o colchão fino e duro, eu fazia mais rabiscos. Quase todos os meus hematomas já haviam sumido, a não ser por poucos que ainda estavam esverdeados. Meu corpo não doía mais como antes, eu não estava sentindo fome nem sede, e meu rosto parecia estar voltando ao normal. Sem mais essas preocupações e a distração com as dores, era o dia ideal para eu me concentrar unicamente no plano.

Durante cerca de três ou mais dias — desde a noite do meu encarceramento — eu vinha pensando e pensando em inúmeras formas infalíveis de escapar. Sempre me perdia e não completava a linha de raciocínio. Por sorte, consegui convencer Rob a me arranjar um pedaço de carvão das lareiras do castelo. Rapidamente comecei a riscar a parede. Fiz um mapa imenso da ilha, tracei linhas e mais linhas representando nossa trajetória. Escrevi nomes, observações, mantimentos. Tanta coisa que quase transformara o cinza da parede em preto. Os borrões e manchas representavam minhas tentativas de apagar um pensamento falho feito com o carvão.

Se alguém desconfiava do que eu estava tramando? Acho que não.

Rob sempre mantinha os olhinhos curiosos e semicerrados fixos em mim, mas era muito bobo para perceber alguma coisa. Devia me achar maluco ou algo do tipo. Já o segundo cara, careca, que raramente aparecia para substituir Rob, sabia que eu não era burro nem nada. Tampouco louco. Ele deveria desconfiar de alguma coisa, pois também era esperto, mas ignorava qualquer chance de sucesso de minha parte caso eu estivesse planejando fugir. E mesmo que um dos dois se importasse com o que eu estava fazendo, minhas anotações eram tão confusas que nunca os deixaria entender do que se tratava. Mesmo que tentassem. Tanto é que quando me perguntavam sobre ("O que você está fazendo?" "O que é isso?"), eu respondia:

— Só passando o tempo.

— Estou tentando encontrar uma solução para a doença mental de Tawã.

— Minha lista de compras.

— Estou representando a trajetória dessa mosca na parede. Não tenho mais nada pra fazer.

— Desenhando símbolos satânicos para invocar o Diabo e pedir para matar todos vocês antes de me libertar.

Ok, essa última é brincadeira.

Mentira, eu usara essa desculpa para assustar Rob em uma madrugada. Se você quer saber, funcionou muito bem.

Por mais estúpidas que fossem minhas respostas, eles não gastavam tempo me interrogando. Porque eu tentava não demonstrar que estava concentrado; sempre deitado, assobiando, ou andando despreocupadamente, às vezes até cantarolando solos de guitarra, evitando unir a sobrancelhas e mantendo a expressão serena. Assim, fazendo-os acreditar que, para mim, eu não estava fazendo nada relevante, eles também acreditavam que não precisavam dar muita importância.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora