[JACK]
— Príncipe Tawã, onde os garotos vão dormir? — perguntou Cory quando Tawã chegou ao castelo. Eu e Mikayla esperávamos no sofá.
— Podem colocá-los nos quartos.
— Quartos, senhor? — os dois fizeram cara de dúvida e surpresa.
— É. Ou vocês acham que vamos arrumar uma casa a esta hora da noite?
— Achei que tudo já estivesse combinado... — disse Daniel.
— E está. Podem ir dormir, eu os levo até lá.
Cory e Daniel subiram. Então Tawã chamou suas duas empregadas de confiança, ambas magrinhas com cabelos grisalhos, aparentando ter entre quarenta e cinquenta anos. Elas nos deram pijamas — os primeiros que recebíamos desde que chegáramos à vila — e eu e Mikayla fomos nos trocar. Como era verão e fazia muito calor, nossas roupas eram frescas — shorts e camisetas. Quando terminamos, nos dirigimos ao corredor central do segundo andar, onde Tawã nos aguardava em frente às duas portas da direita.
— Jack, você vai ficar com este aqui — disse ele, apontando para a primeira porta. — Mikayla, você pode dormir no quarto ao lado — Mikayla assentiu. — Bom, fiquem à vontade, eu vou para a cama. Não saiam do castelo, há guardas do lado de fora se for o caso, não andem por aí e... Só durmam.
Eu e Mikayla assentimos. Tawã já se dirigia para o fim do corredor quando parou e voltou.
— Ah, só mais uma coisa. Amanhã vocês não precisam trabalhar. Boa noite.
— Boa noite — respondemos educadamente enquanto Tawã saía igual a um zumbi para seu quarto. Assim que a porta se fechava, olhei para Mikayla — que já abria a porta do seu quarto — e percebi sua expressão ainda desapontada.
— Tem certeza de que consegue dormir? — perguntei. Ela parou e olhou para mim.
— Claro. Não se preocupe comigo, vá deitar.
— Tudo bem, eu vou. Boa noite.
— Boa noite.
Meu quarto era muito grande, tipo dez vezes o tamanho da minha antiga cela, eu diria. Não tinha banheiro como Mikayla disse que tinha no quarto de Tawã, mas isso era o de menos. Tinha uma cama de casal! O quarto em si era muito aconchegante, por causa dos detalhes de madeira, as cores claras, as lamparinas, a mobília rústica. Tudo parecia me acolher. Ainda tinha duas portas de vidro no fundo do quarto, com longas cortinas creme, que levava a uma sacada. Permiti-me um sorriso.
Para quem dormira em uma cela todas as noites, achei esse lugar um luxo!
Joguei-me na cama e soltei um gemido de prazer. Tanto tempo dormindo naquele colchão duro, e agora eu estava sobre um dos mais macios, que todos na ilha se matariam para experimentar.
Pensando em tudo o que passáramos quando chegáramos à vila, todos os olhares ignorantes, toda aquela pressão, aquela exclusão; tudo, enfim, dera resultado. Conseguíramos o mais difícil e podíamos desfrutar da nossa glória agora.
Essa noite, dormiríamos como reis.
Acordei na madrugada, suando e arfando. Demorei um pouco para descobrir o que me fizera despertar desse jeito, até que me lembrei de que sonhara com minha mãe. O barco, o grito dela em meio à tempestade, seu desespero para voltar à superfície, ela afundando, desacordada, cada vez mais para a escuridão. Apoiei a cabeça nas mãos.
Que doideira.
Fazia muito tempo que eu não tinha sonhos assim. Fazia muito tempo que eu nem pensava na minha mãe. Foi estranho, depois de tanto tempo, meu inconsciente ter se lembrado dela.
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romance"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...