À Prova de Tudo

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[JACK]

Mikayla despertou meia hora depois.

Eu a havia carregado para dentro da caverna depois que desmaiara. Estava sangrando muito. Tive que desabotoar seu vestido para conter um pouco do sangramento do corte em seu quadril. Minhas mãos pressionavam um pano marrom na ferida. Eu sabia que não era a melhor solução. Apesar de não sangrar mais tanto quanto antes, ainda sangrava, Mikayla continuava perdendo muito sangue. Tínhamos que fazer alguma coisa, e rápido.

Ela estava sentada, encostada na parede de pedra, quando suas pálpebras tremeram. Depois de gemer e sacudir um pouco a cabeça, elas finalmente se abriram. Ela olhou para mim e pareceu tranquila, até se lembrar do corte. Um grunhido dolorido escapou por entre seus dentes enquanto apertava minha mão contra a ferida.

— Ei, consegue me ouvir? — encarei-a esperançoso. Temia que ela desmaiasse de novo.

— Me diga que não sangra tanto quanto dói — pediu, em meio a uma careta de dor. Eu não precisava analisar o corte para saber a resposta, mas não sabia ao certo se deveria contar. — Foi muito feio, não foi? — Ela me olhou nos olhos. — Jack.

— Foi. E... parece que foi bem fundo também — eu disse, desviando os olhos.

Mikayla segurou minhas mãos, fez careta quando viu que estavam cobertas de sangue, e afastou-as delicadamente para ver o corte. Ela gemeu ao ver o estado em que se encontrava e, sem nojo algum, apertou a pele. Depois de examinar, ela disse o que eu nunca pensara que fosse dizer:

— Pegue aquela caixa, tem agulha e linha dentro. Vai precisar de pontos.

— Tem certeza disso? — perguntei, mesmo sabendo que ela estava certa.

— Rápido — gemeu ela. Obedeci e abri a caixa. Mikayla pegou a agulha e a linha e ofereceu-as para mim. — Você vai fazer isso.

— Eu sei, e vou tentar. O que me preocupa é você.

— Não tenho outra escolha — ela voltou a se recostar e fechou os olhos. — Estou perdendo muito sangue.

— E se você não conseguir suportar a dor?

Ela abriu os olhos e me encarou.

— Eu preciso suportar. Não vou deixar ele me vencer desse jeito.

Não perguntei a quem ela se referia, mesmo estando curioso. Mikayla tinha os olhos tristes e suplicantes, era difícil eu me importar com qualquer outra coisa nesse momento. Ela tirou o vestido dos ombros com dificuldade aparente, mas não me deixou ajudá-la. Deitou-se no chão, torceu o tecido e segurou-o com força perto da boca.

— Comece logo.

Peguei o pano, mas ele já estava encharcado de sangue. Então desamarrei a faixa do meu braço e usei-a para secar o sangue do corte antes de começar. Assim, passei a linha na agulha torta. Eu nunca tinha feito uma sutura na vida, nem assistido a muitas. Quando caí feio de skate aos doze anos, acompanhei o médico dar pontos na minha perna, e vira o procedimento em filmes também.

Pouco conhecimento, mas tinha que servir. Agora a vida de Mikayla estava praticamente nas mi-

nhas mãos.

Ela mordeu o vestido torcido, apertando-o com força também, e me esperou. Eu respirei fundo.

Quando furei sua pele e comecei a costurá-la, Mikayla gritou. Um grito agoniante que foi abafado pelo vestido. Pensei que eu fosse parar pela dor que esse grito me transmitiu, mas continuei passando a agulha e a linha na pele dela. Mantive-me focado. Cada vez que eu a espetava ela gritava, tentava se conter algumas vezes, mas a dor parecia ser tanta que não conseguia. A respiração dela acelerou conforme eu avançava, e lágrimas começaram a escorrer pelos lados do rosto.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora