PARTE 3 - ILHA LUPI
[JACK]
Nuvens pesadas e cinzas escondiam a lua e as estrelas da noite. A escuridão era completa. Estávamos havia bastante tempo velejando, e, fazendo uma bela estimativa, já devia passar das 22h. Duas horas no mar. Havia muito tempo que não conseguíamos mais ver a ilha. Devíamos estar a quilômetros de distância agora. O vento soprava forte na vela, produzindo um som de farfalhar. A única coisa que me guiava era a bússola em minhas mãos.
O barco era muito simples. Continha apenas a polpa, a proa, um único mastro no meio, e o compartimento inferior — onde ficavam as redes de dormir e o nosso estoque de comida. Mais nada, nem uma sala de capitão embaixo da polpa, nem canhões; uma decepção para quem esperava um design de navio pirata. Mas até que dava pro gasto.
Mikayla acendia uma lamparina que achara no compartimento inferior enquanto falava. Eu a observava colocar a lamparina acesa no chão da proa — a parte da frente do barco — feliz por ela não ter me abandonado. Entretanto, quanto mais ela me contava sobre o que acontecera na cabana, mais eu dava lugar ao nervosismo.
— Foi aí que Tina apareceu — disse Mikayla, voltando à polpa para ficar ao meu lado —, tipo, do nada! Foi muito assustador.
— Aí você correu para a praia — concluí. — Mas como atraiu tantos guardas?
— Ah, eu acabei caindo na frente deles. Pensei que tivesse conseguido despistá-los, mas um deles tocou o sino do castelo.
— Hum...
Tentei não pensar no que Mikayla acabara de me contar, ou pelo menos, não demonstrar, mas meu rosto entregava meu incômodo. Mikayla me observava atentamente, esperando alguma reação. Depois de longos segundos, ela finalmente falou:
— Está bravo comigo? Quero dizer, o que aconteceu na cabana...
— Eu avisei você — falei, com mais seriedade do que pretendia. Eu começava a ficar com raiva. Mikayla parou ao ouvir meu tom. — Eu avisei e você não me escutou. Droga, Mikayla! — Bati no timão e Mikayla se assustou. — E se ele tivesse conseguido o que queria? Ou pior, e se Tina tivesse conseguido o que queria? Você poderia estar morta agora, sabia?
A raiva me consumia. Apertei meus dedos em volta do timão com força.
— Não acredito que Tawã colocou as mãos em você. Não acredito que você o beijou!
Balancei a cabeça negativamente, Mikayla continuava quieta. Virei o rosto para olhá-la. Ela se encolhera encostada à borda do barco e não olhava para mim, seus olhos estavam arrependidos e envergonhados mirados no chão. Num instante senti pena. Respirei fundo e me acalmei. Ela sabia que tinha sido tola, e eu não podia ficar jogando as coisas na cara dela daquele jeito, não era justo. Suspirei e tentei falar num tom mais doce.
— Não importa mais. O que importa é que você... parou e veio me encontrar. Conseguimos fugir por pouco, mas está tudo bem.
Mikayla ergueu o olhar, assentiu e me deu um sorrisinho. Enquanto eu retomava minha atenção para a bússola, ela caminhou até o timão e pousou sua mão na minha. Sacudi a cabeça uma vez para tirar o cabelo dos olhos — algo que eu fazia frequentemente sem notar — e esperei-a falar.
— Desculpa — disse ela. — Eu sei que não devia ter ido até lá. Desculpa por ter sido teimosa. Eu quase estraguei tudo.
— Vamos esquecer isso, ok? — Voltei a olhar o mar. — Já estamos bem longe daquele imbecil. E se os céus conspirarem ao nosso favor, logo estaremos em casa.
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romance"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...