[MIKAYLA]
Sonhei estar voando bem alto, bem próxima às nuvens, no maravilhoso céu sem fim. Extrema alegria eu sentia, estava voando, estava livre! Até o azul celestial se tornar cinza, surgir relâmpagos e trovões, e os raios começarem a me perseguir. Minha euforia foi diminuindo e sendo substituída pelo medo, medo de ser atingida. Desviar não foi o suficiente, uma chuva de raios me acertou. Gritava, e como gritava, e caía, caía e nunca conseguia chegar ao chão. Toda a sensação de liberdade se foi junto com a felicidade.
Acordei com o coração palpitando. Ouvi a natureza, ondas quebrando no litoral, folhas balançando ao vento... Meio desorientada, mexi a cabeça para saber mais sobre o lugar em que me encontrava. Esperava que tudo tivesse sido um sonho — acordar em um lugar deserto e desconhecido —, queria ver Cat e Igor me puxando para dentro do saguão do navio e dizendo que eu havia batido a cabeça, desmaiado, mas que estava tudo bem.
Isso, porém, era mentira.
Eu estava em uma praia novamente — disso eu sabia por causa do som das ondas e do cheiro de sal —, mas não o mesmo lugar em que acordara da primeira vez. A que eu estava agora tinha palmeiras balançando acima de mim. O que eu estava fazendo ali? Como fora parar nesse lugar?
Tentei me sentar.
— Não, não. Pare. — Uma voz conhecida, e não era minha. Ou eu estava alucinando de novo ou não estava sozinha. A segunda ideia me reconfortou. O dono da voz forçou minha cabeça para baixo delicadamente, tirou meu cabelo do rosto e me deu água em uma folha. — Tome isso. Beba tudo, você precisa se hidratar.
Ergui os olhos — já acostumados com a luz — para ver quem era dono daquelas mãos também e tive uma estranha surpresa. Arfei.
— Você? — cuspi parte da água e me levantei imediatamente. Cabelos dourados cintilavam à claridade e olhos verdes me fitavam. — Jack! — não consegui dizer mais nada; fui invadida por uma onda de alegria e alívio. Jack estava vivo! E estava comigo! Eu não ficaria sozinha, afinal.
Ele estava ajoelhado, debruçado em cima de mim enquanto me dava água. Seus olhos se arregalaram quando ergui meu tronco para abraçá-lo, isso o fez sentar sustentando meu peso enquanto eu sorria agradecendo a Deus por Jack estar ali comigo.
Ele não retribuiu meu abraço, parecia surpreso demais com minha reação. Só me afastou e sorriu.
— É, sou eu. Que bom que finalmente acordou.
— E-eu achei que estivesse sozinha! Fiquei desesperada. Pensei que fosse morrer e ninguém nunca acharia meu corpo! O que aconteceu, afinal? Que lugar é esse? Como viemos parar aqui? — comecei a falar tão depressa que gaguejei certas palavras. Jack segurou meus ombros tentando me conter.
— Calma, Mikayla! Sei que está curiosa, mas precisa se controlar. Eu tenho perguntas tanto quanto você — ele apontou para uma pedra grande atrás de mim, seu olhar dizia para eu me recostar. Obedeci e ele apoiou as costas no tronco da palmeira perto de mim. Ficamos quase de frente um para o outro. — Que tal fazermos assim: primeiro você conta sua história, do que se lembra, depois eu conto a minha?
Respirei fundo e concordei com a cabeça.
— Está bem. Por onde eu começo? — eu disse, pensando.
— Desde quando você caiu — sugeriu Jack.
Contei a ele tudo o que me lembrava; da tempestade, das rochas, de ter batido a cabeça e desmaiado, como o mar devia ter levado meu corpo até a praia, minha pequena expedição, e as alucinações antes de apagar. Quando terminei de contar tive uma sensação maluca. Tudo parecia ter sido um sonho. Seria difícil acreditar no contrário.
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romance"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...