Inferno

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[MIKAYLA]

Quarto dia escondidos na caverna. Mais de um mês desaparecidos no mar.

Jack estava frustrado e eu só piorava as coisas discutindo com ele. A comida tinha acabado e ele queria que eu ficasse com o último gole de água. Apesar da sede, eu não achava justo ficar com todo o resto.

— Mikayla, você precisa mais do que eu.

— Quem disse? Já resolvemos o problema do corte, eu não morri!

— Você teve febre noite passada. Deve estar desidratada.

Era verdade. Quem achou que o corte na cintura não me traria mais problemas?

— Beba — disse Jack, já cansado da minha teimosia. — Vou buscar mais, mesmo, posso beber a água do lago.

— Você está pensando em sair!?

— Nem vem, Mikayla. Você já me impediu o máximo que pôde. Mas agora precisamos de mais suprimentos. Não pense que o Maná do Deserto vai aparecer na nossa frente.

Respirei fundo. Ele tinha razão. Se fosse só pela comida ele não precisaria ir, mas a água também tinha acabado e não sobreviveríamos muito tempo sem ela. Eu só não queria que ele fosse. Tinha medo do que poderia acontecer a ele.

— Lembra-se do que eu lhe contei? — Jack ergueu meu queixo. — Sobre os Lupis? Eles não vão me machucar, vão até me proteger. Não vou correr tanto perigo.

— E quanto aos callumines? Eles estão em maior número.

— Eu sei. Mas eles também não querem me matar. Se me pegarem posso usar isso ao me favor.

Ele sorriu. Parecia nem se preocupar com o que estava acontecendo lá fora. Ou talvez só o fez para me tranquilizar.

— Vou com você — eu disse, no momento em que ele se levantou.

— Jamais. Não do jeito que você está.

— Você não me deixaria nem se eu estivesse novinha em folha — rebati. Jack riu.

— Que bom que você sabe.

Ele pegou um galão enquanto eu esvaziava a água do outro com relutância. Não posso negar que foi um alívio molhar minha garganta. Assim que terminei, levantei-me com dificuldade e fui entregar-lhe o galão vazio. Jack afastara um pouco as samambaias e analisava a selva, com os olhos cuidadosos e estreitos, alertas a qualquer sinal de movimento. Quando se certificou de que era seguro, colocou os dois galões do lado de fora. Eu tirei a camiseta dele que estava comigo, voltando a ficar somente de biquíni e expondo o horrendo corte suturado na minha cintura. Mas a essas alturas, eu nem me importava mais com isso.

— Promete não ser pego e voltar o mais rápido possível? — eu disse, oferecendo-lhe a camiseta. Jack sorriu ao se lembrar da frase.

— "Custe o que custar?" — zombou, depois pegou a blusa da minha mão e falou sério. — Prometo.

O sol da manhã invadiu a caverna, iluminando o corpo dele enquanto vestia a camiseta, ressaltando seus músculos de que tanto se gabava, mesmo que um pouco afetados pela magreza dos últimos dias, e seus pelos dourados. Só o deixava mais bonito. Ele fez menção de sair, mas voltou para uma última coisa.

— Antes de eu ir, pode me dar uma coisa? — perguntou suavemente, quase num sussurro, me olhando com a passividade que seus olhos me passavam. Tão próximo que eu podia sentir sua respiração em meu rosto, nossos peitos quase se tocando.

Eu concordei sem nem prestar atenção na pergunta.

Então Jack segurou delicadamente o meu rosto e me beijou.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora