[MIKAYLA]
Badaladas do sino no final da manhã foram ouvidas por todo o mercado. Comerciantes e outros trabalhadores começaram a se juntar aos demais callumines para a hora do almoço.
Sentada à mesa pequena da cozinha, o prato raspado na minha frente, eu olhava pela janela, pensativa. Havia acordado cedo, não conseguira dormir tão bem por causa da fome. Quando levantei, engoli meu café da manhã em menos de um minuto. Fizera a mesma coisa com o almoço, para me nutrir ao máximo antes que Tawã me deixasse sem comida de novo.
Ele estava sentado do meu lado, com o braço sobre meus ombros, terminando sua refeição. Beth e Dori sentavam a nossa frente, de costas para a janela. Estava tão concentrada no mundo lá fora que nem notei que Beth me observava.
— Ainda está cansada, Mikayla? — perguntou ela, e mesmo assim não escutei. Tawã me cutucou.
— Hã? Quê? — perguntei.
— Beth lhe fez uma pergunta — disse-me Tawã.
— Ah, perdão, Beth. O que é?
Beth inclinou um pouco a cabeça ao me dar mais uma examinada.
— Você parece abatida. Dormiu bem à noite?
Abatida. Eu já estava cansada de ouvir coisas desse tipo.
— Ahn... Sim, não sei, acho que...
— Deve ser por causa da gravidez — comentou Dori.
O silêncio depois de sua fala foi desconfortável para mim. Olhei para Tawã, na dúvida se deveria corrigi-la. Ele fez um minúsculo movimento com os dedos para mim, dizendo que ele mesmo o faria logo depois de terminar de mastigar.
— Na verdade, Mikayla não está grávida. Foi alarme falso — disse Tawã. As duas empregadas ficaram aliviadas, mas muito confusas.
— Como vocês sabem? — perguntou Beth.
— Fomos à enfermaria ontem e Nora nos informou — respondeu Tawã. Incrível como ele já tinha a resposta na ponta da língua.
Esperei-o terminar seu almoço, e então, saímos.
Nosso principal objetivo era chegar à casa de Rosa, porém, fizemos várias pausas antes de parar lá. Tawã precisava resolver algumas coisas no armazém, na Tenda, no porto, na horta, no cercado; enfim, desviamos nosso caminho muitas vezes. Em condições normais eu teria me estressado em ter que esperá-lo, pois eu não costumava ser paciente com desvios de foco. Porém, os tempos eram outros, eu não era mais a mesma Mikayla que apressava a mãe nas lojas de roupa quando ela cogitava comprar um presente para si e se esquecia do presente do aniversariante da semana. Além disso, eu não me sentia nem um pouco animada em ter que provar um vestido estúpido de noiva. Queria adiar aquele momento o máximo possível.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romance"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...