[MIKAYLA]
Amanheceu.
Mais um dia presos na agradável Itatiba. Um dia comum.
Despertei ao nascer-do-sol. Acompanhei a luz azulada do céu clarear de forma lenta através das portas de vidro. Não levantei da cama. Fiquei deitada em um estado insone entre o sonho e a realidade. Meu quarto estava tão silencioso que pude ouvir a manhã chegando. De repente, minha audição pareceu mais apurada.
Ouvi o mar se agitando; se eu prestasse atenção, as ondas se chocando contra as poderosas rochas; as ondas quebrando no limite da praia. Em seguida, as gaivotas.
Eu nunca havia morado no litoral, nem perto de uma praia, nunca havia escutado esses sons tão tranquilizadores. Gostei de sentir a paz que eles traziam.
Logo a paz foi embora, quando os habitantes despertaram, mas isso não interrompeu o meu interesse em escutar as animadas conversas, bocejos exagerados, cumprimentos de bom-dia. A preparação para o comércio começou: pescadores gritando; comerciantes arrumando suas barracas, levantando e abaixando a tábua levadiça que dava passagem para dentro, arrastando folhas da lona com vassouras; o barulho dos baldes pesados batendo no balcão das barracas; o tinir dos equipamentos de pesca sendo levados ao porto. Crianças corriam — eu escutava seus passos agressivos e rápidos —, gritavam e gargalhavam; suas mães davam-lhe broncas leves; senhoras batiam papo. Sons vindos debaixo da minha sacada, pelo caminho das cabanas até a vila.
E finalmente, a floresta.
Vento chacoalhava as folhas das árvores; macacos, aves, sapos e cigarras se juntaram em uma harmonia de sons altos típicos da mata; o galo do cercado cacarejou diversas vezes.
A luz que atravessava o vidro se intensificara. A claridade refletida pelo piso de madeira encerado incomodou meus olhos, mas eu ainda não queria levantar. Reclamando, virei de lado para escapar da luz, esticando meu braço direito para me esparramar em todo o colchão.
O canto das aves ficara mais alto.
Aff, será que entrou um pássaro aqui?
Quando minha mão direita pousou em algo quente e macio o assobio se interrompeu por um momento, e continuou com sua melodia pausada. Estranho. As portas estavam fechadas, nenhum bicho entraria no quarto. Eu estava alucinando. Deslizei minha mão para cima. O assobio continuou.
Mas aquilo não parecia um canto de pássaro, era mais ritmado e cantarolado. E o que eu estava tocando não parecia o colchão.
Abri os olhos.
Tawã olhou para a minha mão sobre seu peitoral bem definido nu, com ar de divertimento, depois para mim, e esboçou um sorriso pervertido.
Gritei.
Esperneei para longe dele, jogando os lençóis no chão, e quase caí da cama. Decidi me sentar. Apoiei os cotovelos nos joelhos e as mãos no rosto para recuperar o fôlego.
Tawã estava rindo.
— Bom dia, amor — disse ele entre os risos. Eu nunca o ouvira rir desse jeito antes. Tão natural e despreocupado. Uma risada sincera.
Meu rosto queimava.
— Por favor, não me diga que esteve aqui a noite toda — pedi, sem coragem de expor meu rosto. Tawã se ergueu e se sentou do meu lado.
— Por quê? — senti seu tom malicioso. — Até parece que não gostou. — Pela fresta entre meus dedos, vi-o passar a mão no abdômen, me provocando. Balancei a cabeça. Ele gargalhou.
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romance"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...