Passeio com o príncipe!

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[MIKAYLA]

— Mikayla, Jack disse que você é rockeira que nem ele. O que é isso? — perguntou o garotinho moreno, irmão de Yohan.

Na manhã seguinte eu estava na escolinha, mais uma vez contando às crianças puras — assim chamadas todas as nascidas em Itatiba — sobre o continente e esclarecendo suas dúvidas. Elas não sabiam de nada mesmo, mas às vezes isso parecia ótimo. Se um dia elas vissem o tipo de coisa que os humanos andam fazendo com o mundo e com as pessoas elas ficariam traumatizadas. Sorri para o pequeno Yan e respondi:

— Rockeiros são aqueles que gostam de Rock. É um estilo musical bem popular no continente, que canaliza e expõe todas as emoções do artista, sua raiva, angústia, alegria, amor, e usam guitarras com baterias e tudo o mais...

— O que é uma guitarra? — perguntou uma menininha de lacinho rosa-escuro no cabelo.

— Oh, vocês não sabem? Bom — olhei ao redor e vi um violão em um suporte no canto da sala, fui até ele e o ergui para mostrar aos alunos —, é um instrumento musical quase igual a um violão, só que é elétrico e tem mais formas de fazer um som.

Eles ficaram empolgados com a palavra "elétrico", pois na ilha não havia nenhuma eletricidade, tudo era resolvido com fogo, mas já tinham ouvido falar do poder dela. Toquei as seis cordas velhas do violão e o som que saiu foi terrível. As crianças gemeram e taparam os ouvidos. Eu ri.

— Ele só está desafinado. — Sentei-me novamente no banco e tentei afinar as cordas com o que eu me lembrava dos sons afinados. — Quando não está, os músicos podem fazer mágica com este instrumento.

Levei mais tempo do que de costume, mas quando toquei as cordas novamente o som saiu mais bonito.

— Viram? Já está melhor.

— Toca pra gente? — pediu Yan.

Fui pega totalmente desprevenida. Eu nunca tocava em público.

Quando demonstrei surpresa e dúvida todos começaram a gritar em coro para que eu tocasse. Olhei para a professora no fundo da sala e ela apenas assentiu, dando-me permissão.

— Eu vou tentar mostrar alguma coisa a vocês, mas nem chego perto dos verdadeiros guitarristas.

Alonguei os dedos em meio a um silêncio ansioso, e então, comecei a solar uma versão curta de Smells Like Teen Spirit — para que eu não precisasse cantar —, do Nirvana. Meus dedos se moveram com a mesma agilidade de sempre pelo violão. Sim, errei algumas notas, mas ninguém notou. Meu nervosismo diminuiu quando vi que as crianças estavam se divertindo e começavam a se balançar ao ritmo da música. Finalizei com grande estilo, uma batida em todas as cordas, e antes que o som sumisse o das palmas já preenchiam o lugar. Não queria sorrir, sorrir revelaria o alívio que eu sentia, mas tive que fazê-lo. O riso agudo era contagiante. Só depois me toquei que alguém estava parado na soleira da porta observando tudo.

Tawã.

Meu sorriso desapareceu, tão rápido quanto meu rosto começou a queimar.

— Príncipe Tawã, o que achou? Nunca tinha ouvido esse som antes! — exclamou a garota do laço animada. Tawã sorriu enquanto pegava outro banco para se sentar ao meu lado.

— Foi absolutamente incrível! Você tem talento — disse ele, olhando para mim.

— Ah, claro que não. Pode parar... — falei, e deixei uma mecha de cabelo cair para frente para esconder meu rosto.

— Ela tem ou não tem, crianças? — Tawã estendeu o braço para a meninada, que, para minha surpresa, gritou em uníssono um "Sim!". Tawã me lançou um olhar como se dissesse "Viu só?".

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora