Naufrágio nas Ilhas de Rochas

O Casamento

[MIKAYLA]

Caminhando de braços dados, saímos do salão e do castelo, em silêncio. Já não havia ninguém lá, nem no mercado, nem nos casebres; tudo estava sombriamente deserto. O que significava que a tribo inteira me aguardava no pátio da capela, amontoados e ansiosos por minha chegada. Assim que pisamos no início da trilha de terra ouvimos o sino do castelo tocar atrás de nós, três badaladas, anunciando o início do casamento. Tawã e os padrinhos já estavam entrando. Estávamos atrasadas. (Não que eu me importasse.)

Antes de sequer recomeçarmos a andar, fomos surpreendidas por duas figurinhas chorosas e saltitantes.

Adivinhe quem eram.

— Ah, meu Deus, Mikayla, dá pra acreditar? É hoje! Quer dizer, agora! Daqui a pouco! — gritou Beth, mais agudamente do que o comum.

— Você vai se casar, minha filha, se casar! COM O PRÍNCIPE, minha nossa Senhora. É a garota mais sortuda da ilha! — exclamou Dori.

Elas não nos deram tempo nem para respirar. As duas usavam vestidos simples e frescos, Beth, laranja, e Dori, azul-bebê, e estavam lindas. Dori havia feito uma rede de tranças puxadas para trás e Beth usava uma coroa de flores pequeninas. A troca dos uniformes amarelos pelos vestidos, dos usuais coques pelos cabelos soltos e a maquiagem as deixaram quase irreconhecíveis, de uma forma maravilhosamente bonita e jovial. Beth em especial havia ficado com a aparência de menininha. Eu consegui imaginar com mais facilidade o quanto ela fora bonita quando moça.

— Você está nervosa?

— Está ansiosa?

— Arrume a barra dessa saia para não tropeçar, pelo amor de...

— Não chore, não chore, não chore!

— Ei, ei, ei, madames! — intrometeu-se Rosa. — Ordem aqui! Já ouvi chororô demais por um dia. Vocês não deviam estar na capela, esperando a noiva como todo mundo?

Elas sorriram, constrangidas.

— Só viemos desejar boa sorte — disse Beth, recolocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Tudo bem, mas sejam rápidas senão vão nos atrasar. E voltem correndo para a capela o quanto antes — mandou Rosa.

— Pode deixar — respondeu Dori.

Rosa se afastou de mim, dando espaço para Beth e Dori. Elas me abraçaram apertado, uma de cada vez (o de Dori me esmagou um pouco).

— Você está tão linda... — disse Beth com a voz falhando. Dori envolveu os ombros da amiga com um braço. — Lembra-se de como nos conhecemos? Ah, parece que faz tanto tempo.

— E daqui a poucos minutos — Dori completou o que Beth não conseguiu, fungando — você está se casando com nosso príncipe.