[JACK]
Voltei à minha cabine após o café-da-manhã. Estava louco para me trocar e ir logo para a piscina. O calor era de matar! Cruzei a porta e adentrei o quarto, já indo em direção à minha mala ao pé da cama. Mal percebi que Igor também já havia voltado.
— E aí, Jack? Já tá querendo ir pra piscina, cara? - disse ele, escolhendo as roupas na gaveta do armário. Eu era o único que ainda não havia me importado em guardar as roupas?
— E você não? - Retirei duas sungas da mala e ergui-as para mostrá-las a Igor. - Qual delas você acha mais atraente? A preta ou a branca?
Analisamos as peças por alguns segundos, antes de concluir o que já era óbvio.
— A preta! — respondemos ao mesmo tempo.
Era impressionante o quanto esse cara tinha a ver comigo. Curtíamos as mesmas bandas de rock, gostávamos dos mesmos games, assistíamos às mesmas séries de TV. Antes eu lamentara ter que ficar separado dos meus melhores amigos. Cada cabine do navio era equipada para uma dupla, e, como éramos três, um teve que ficar de fora. Claro que fui eu, mas, apesar de eu ter ficado meio inseguro antes, estava satisfeito com o meu colega de quarto. Eu dera sorte de ter pego uma dupla bacana.
Fui para o banheiro me trocar enquanto Igor fazia o mesmo no quarto, atrás da porta do seu armário.
— Então, cara, o que achou da festa ontem? — ouvi-o perguntar através da porta do banheiro.
— Ah... Foi maneira.
— Eu quase não te vi lá.
— É, sabe, fiquei do lado de fora a maior parte do tempo. — Dei de ombros, abrindo a porta.
— Você tava bem?
— Ótimo — falei sarcasticamente. Mas me corrigi, porque não queria que Igor soubesse dos meus problemas. — Eu só estava cansado.
— Cansado? — perguntou confuso, após fechar a porta e começar a fazer um nó no cadarço da bermuda, unindo as grossas sobrancelhas pretas para mim. Sem ter nada para responder, dei de ombros mais uma vez. Felizmente, ele não insistiu. Terminamos de nos trocar e não vi mais motivo para ficar na cabine.
— Já vamos? — Igor perguntou quando eu já saía pela porta, olhando a hora no celular antes de guardá-lo no bolso. – Ainda são dez e meia, cara.
— Vamos nessa, Igor. Nem é tão cedo assim — eu disse, saindo para o corredor. Ao fazer o mesmo, Igor trancou a porta da cabine, e seguimos caminho lado a lado. — E, além disso, quanto mais cedo eu chegar mais tempo eu tenho para ver as garotas chegando.
Igor soltou uma gargalhada e me deu socos no braço. Não entendi a zombaria.
— Ah, fala sério, Jack. Pelo pouco tempo que conheço você já sei que não é do tipo que fica olhando rabos de saia. — Fitei-o, confuso. — Você não me engana, cara, quer ver uma garota só! — ele me lançou um olhar malicioso e eu ri para disfarçar meu constrangimento. Estava mesmo tão óbvio? — Quem é ela?
Aquela garota... Lembrava-me de tê-la visto algumas vezes no curso. Uma garota de pele parda, lindos cachos longos e castanhos, e os olhos da cor do cabelo. Eu me lembrava de por que sempre a notava nos corredores. Não era igual às outras garotas, aquelas super autoconfiantes de cabelos tingidos e lisos cheias de maquiagem que só andavam em bando por aí, as populares, as que costumavam atrair os olhares de todos por onde passavam. A beleza dela era diferente, natural, por isso chamava a minha atenção.
Eu sempre a achara bonita, e interessante, porém, nunca havia falado com ela antes da noite anterior, porque na época eu estava envolvido com outra pessoa, que era a única em quem eu prestava atenção. Se eu ainda estivesse com aquela pessoa não teria falado com a garota na festa. Pensando bem, eu não deveria ter iniciado a conversa de jeito nenhum porque tinha acabado estragando tudo no final. Além de tê-la irritado, tinha me sentido ainda pior por alguém ter percebido que eu estava de coração partido. Mas eu não parava de pensar na atitude dela de me rejeitar em respeito ao seu namorado. (Eu nem sabia que ela tinha um!) Poucas meninas que eu conhecia fariam isso.
Aquela garota... Aquela garota, não. Qual era mesmo o nome dela? Mikayla...
— Cara? — Igor me acordou dos pensamentos.
— Ah, er... Ninguém. Não tem ninguém.
— Hum, tá bom. Eu vou descobrir, você vai ver.
— Eu duvido — eu disse, desviando nosso caminho para a direita. Igor me olhou confuso. — Tenho que encontrar uns amigos. Você vem?
Ele deu de ombros.
— Ok.
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romantizm"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...