[MIKAYLA]
Pra cima e pra baixo, pra cima e pra baixo. A corda não partiu. Retomei o fôlego mais uma vez. O rio não dava mais pé para mim, estava fundo demais. Mesmo que eu batesse minhas pernas não conseguia manter minha cabeça fora da água por tanto tempo. Já levara bastante caldo e me sentia meio tonta pela quantidade de água que havia engolido. A dor de cabeça não ajudava. Mergulhei mais uma vez, mas meu corpo boiou antes que eu conseguisse envolver uma pedra. Tossi e vomitei um pouco da água.
Uma linha grossa se encontrava mais à frente, sobre o rio. Arregalei os olhos ao ver que um enorme tronco fechava o resto da travessia fluvial. Era para isso ser bom, bastava me segurar no tronco e tentar chegar até a margem. Mas havia dois problemas: 1) minhas mãos continuavam presas atrás das costas e 2) quanto mais eu me aproximava maior e mais grosso o tronco ficava, não daria para agarrá-lo. A correnteza estava tão forte que o tronco não era capaz de impedir o fluxo, tudo estava se espremendo por baixo dele.
Não seria nada bonito bater a cara na madeira e ser sugada para o que quer que tivesse do outro lado.
Novamente mergulhei e espremi a corda ao redor da primeira pedra afiada que encontrei. Raspei, raspei, raspei a corda o mais rápido que pude, ciente de que não teria outra chance e que seria esmagada para debaixo do tronco se não me soltasse. Mais galhos perfuravam a água ao meu redor. Meu corpo já fora quase todo atingido desde que Tina me jogara no rio. E agora, eu podia contar com as batidas de algumas frutas, folhas e pinhas, contra meus ossos e músculos. Tudo machucava em alta velocidade.
Agitei minhas pernas para cima para me impedir de boiar de novo e para me manter submersa, até que finalmente, BAM!, a corda se rompeu. Não tive tempo de nadar de volta à superfície, a correnteza me puxou e fui igual a um torpedo em direção à fenda submersa do tronco. Estiquei minhas pernas e passei velozmente por debaixo dele. Logo em seguida, cravei os pés no solo e me impulsionei para cima. Tive pouco tempo para respirar. Agora o rio estava cercado de pedras, não, não era mais um rio. Transformara-se em corredeiras!
Nadar não era o mais difícil, o difícil agora era desviar das ondas e pedras. A água ricocheteava em toda parte coberta por rochas, só se via bolhas em baixo d'água. Fui empurrada de um lado para o outro pelas ondas enquanto era lançada rio abaixo, me safando de atingir algumas rochas por muito pouco. Quase me afoguei inúmeras vezes, quando finalmente conseguia voltar à superfície era como se alguma força me empurrasse de volta, e eu tinha que me manter sempre alerta para evitar os obstáculos no caminho. Parecia que essa tortura nunca fosse ter fim.
Até que, subitamente, parei.
A sensação foi de ser puxada bruscamente para a direção oposta à correnteza. Senti um tranco no braço esquerdo. Minhas pernas sacudiam com a força das ondas. Só quando isso aconteceu, consegui dar uma boa olhada a alguns metros enquanto fiquei parada. O resto do caminho estava cercado por rochas, como verdadeiras corredeiras. Se batesse em alguma delas eu poderia morrer! Mais distante ainda, não consegui ver nada. Nada mesmo. Apenas o mar. As espumas acabavam em uma linha irregular.
Percebi, com espanto, que poderia ser uma cachoeira. Sabia que não era a mesma que Tawã me
apresentara, pois a paisagem adiante era diferente, mas isso também não era motivo para comemorar. Quem saberia o que haveria na queda?
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romantizm"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...