[MIKAYLA]
Após algumas horas de descanso em meu quarto, uma batida forte na porta me acordou. Esfreguei os olhos e levei um susto ao notar a escuridão no quarto. Olhei para a fresta nas cortinas das portas de vidro. Já estava escuro. Muito lentamente e com todo cuidado me levantei da cama, qualquer movimento me causava dores terríveis, eu estava toda quebrada. Manquei até a porta, ainda grogue, e fui ver quem era. Era Tawã que perturbava meu sono. Também não entendi o que ele fazia ali, nem como tinha coragem depois de tudo o que eu dissera na enfermaria. Perguntei o que ele queria e minha resposta foi um pedido de desculpas sincero, de joelhos! Ele estava arrependido de, aparentemente, tudo e queria me compensar esta noite.
Agora eu penteava meus cabelos sentada em frente ao espelho da penteadeira, colocara um vestido branco não tão longo de algodão e a tornozeleira de conchas não saíra do meu pé. Sim, eu estava me arrumando para sair com Tawã. Não queria ir, na verdade, mas precisava falar com ele sobre minha volta ao continente. Depois do dia que tivera, não poderia pensar em outra coisa a não ser ir embora.
Pensei em onde aquela garota poderia estar escondida, já que não tinha para onde correr — afinal, estávamos cercados por água. Temi que ela surgisse no meu quarto de novo, mesmo com Tawã me garantindo que havia guardas pelo castelo inteiro e que eu estaria segura. A ideia de que Tina estivesse andando livremente pela ilha não me agradava. Senti um calafrio; sacudi a cabeça e afastei qualquer pensamento sobre ela.
Que tal uma música para distrair? Cantar sempre fazia eu me sentir melhor, acalmava meu espírito. Cantei Monarchy of Roses, da minha banda favorita na época — Red Hot Chili Peppers —, enquanto voltava a domar a juba. Até que um som inesperado quase me fez cuspir o coração. Virei a cabeça rapidamente para as portas de vidro e expirei de alívio. Jack estava parado do lado de fora, encostado no vidro como da última vez. Corri — ou quase isso — para abrir a porta para ele.
— Você quase me matou de susto — eu disse, arfando.
— Eu percebi — ele sorriu. — Que música era aquela?
Congelei, mas ao mesmo tempo sentindo meu rosto queimar. Odiava que alguém me escutasse cantar, era uma coisa íntima que eu só fazia quando estava sozinha. E já era a segunda vez que Jack quebrava essa regra.
— Há quanto tempo está parado aqui?
— Há bastante tempo.
Bufei e virei o rosto, envergonhada. Jack me lançou um sorrisinho provocante.
— Eu sempre chego na hora certa — zombou ele.
— O que veio fazer aqui?
— Tenho que falar com você.
Dei de ombros e deixei-o entrar. Ele olhou para a penteadeira, depois para o meu vestido.
— Vai a algum lugar?
— Vou sair com Tawã... — Então me interrompi ao ver a expressão nem um pouco surpresa de Jack, como se ele já soubesse a resposta.
— É sobre isso que vim falar. Você não pode ir.
Franzi o cenho.
— Por que não?
— É complicado. — Ele passou a mão no rosto e se sentou pesadamente na cama. — Quando eu estava preso lá embaixo, Tina me contou algumas coisas a respeito dele.
Bufei.
— Tudo que sai da boca dela é mentira.
— Boa parte pareceu verdade. Ela confessou que armou pra mim, por exemplo.
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romance"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...