Gata Borralheira

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[MIKAYLA]

Dei um pulo na cama ao ouvir várias batidas na porta. Olhei ao redor totalmente desorientada e tive que me lembrar de onde estava. Havia sonhado com a praia, só eu e Jack, e me decepcionei quando reconheci a cela. O carcereiro abriu a porta e continuou batendo.

— Acorda, Bela Adormecida! Seu café já está na mesa — falou ele quase gritando. Olhei para o chão e sorri por me lembrar de que Jack me chamara da mesma coisa quando estávamos na praia. Mas esse sorriso logo desapareceu quando me lembrei da noite anterior.

Passei a mão pela trança despenteada enquanto bocejava demoradamente. Caminhei até a estranha pia de barro, onde havia um pouco de água limpa no fundo, mergulhei as mãos em forma de concha na água e lavei o rosto. Encontrei meu reflexo no espelhinho sujo e com marcas de desgaste. Meus olhos estavam inchados e minha aparência, horrível. E lavar o rosto não pareceu melhorar a situação. Com um suspiro, me retirei.

Sentei-me à mesa e tomei meu café-da-manhã em silêncio. Jack na outra, atrás de mim. Nem olhei para ele. Tivera uma péssima noite por conta de sua ignorância. Terminei de comer o pedaço de torta e o suco primeiro, logo depois, as empregadas chegaram, vestindo seus uniformes amarelos com detalhes brancos e trazendo outro nas mãos.

— Está pronta, mocinha? — perguntou Dori, uma das mulheres que haviam me dado banho.

Elas haviam pegado toda a minha roupa rasgada e me dado um vestido simples, porém limpo e novo; haviam pegado meu biquíni também porque viram a mancha de sangue no fundo e disseram que aquilo era absurdo, que eu não podia usar uma peça naquele estado. Por mais que eu tivesse discutido e brigado por ele, elas o levaram junto com minha fivela de caveira. Lembrando-me disso, olhei séria para as empregadas enquanto esperavam minha resposta.

— Estou — respondi.

— O café estava bom?

Assenti.

— Então, vamos. Temos muito o que fazer.

Rob apontou o dedo por cima do meu ombro quando me levantei.

— Você fica. Hugo já está vindo te buscar. — Felizmente, percebi que ele falava com Jack.

Dori e a outra mulher seguraram meus pulsos e me puxaram escada acima. Conduziram-me para um banheiro em um dos corredores do térreo, jogaram o uniforme em mim e me pediram para vesti-lo. Eu obedeci.

— Hmm, parece que caiu bem em você — disse Dori.

— É, ficou certinho! — disse a outra.

Eu não achava que tinha ficado certinho. O torso ficara um pouco folgado no busto, e as mangas também pareciam ter ficado grandes. Mas dei um falso sorriso às duas.

— Muito bem — disse Dori. — Agora você já está pronta para começar.

Ela saiu do banheiro e voltou com três cestas de madeira nas mãos, cada uma com produtos de limpeza dentro. Entregou uma para a outra mulher, apoiou a sua no chão e colocou a última em minhas mãos, junto com um espanador, uma vassoura, e uma pá. Fiquei desconcertada, mal conseguindo segurar tudo isso, e imóvel para não derrubar nada.

— O que devo fazer? — perguntei desajeitada.

— O que todas nós fazemos — respondeu a outra mulher. — Tarefas!

Ela parecia ser uma senhora muito simpática. Tinha o cabelo loiro grisalho e era muito pequena e delicada. Diferente de Dori, que era grande, corpulenta, de cabelos castanhos sempre presos em um coque, e que intimidava qualquer um quando cruzava os braços.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora