Naufrágio

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PARTE 2 - ILHA ITATIBA

[MIKAYLA]

Finalmente abri os olhos, que arderam sob a luz do sol. Arrastei meus braços e mãos no chão enquanto despertava e senti-os se movimentarem sobre uma superfície áspera que arranhava minha pele. Fechei meus dedos em torno dos sedimentos.

Areia?

Uma areia molhada. Minhas roupas estavam molhadas. Tentei me levantar, mas me faltavam forças. Desisti. Senti minhas roupas se encharcarem, água me cercava em um instante, e no outro, areia de novo, depois água, e novamente areia. Consegui virar de bruços. Péssima ideia. Tive um acesso de tosse sufocante, vomitando litros de água salgada. Ergui-me sobre os braços quando me recuperei, ofegante e engasgando. Então me virei de novo para me livrar dessa sensação desgostosa.

A primeira coisa que vi foi o horizonte, e o mar, mar e ondas, ondas que se quebravam na areia e batiam em minhas pernas. Eu estava em um tipo de... praia? Analisando as rochas que compunham a paisagem, consegui me lembrar.

Chuva, chuva muito forte. Tempestade! Ondas violentas que empurravam o navio. Gritos! Rochas se aproximando e então... Meu corpo caindo no mar. Lembrava-me de perder os sentidos por um instante, de recobrá-los enquanto estava submersa e de ser empurrada pela ira de Poseidon quando cheguei à superfície. Partes do navio caídas ao meu lado. Tentei me segurar em uma delas, mas as ondas eram brutas demais. Lutei, lutei para sobreviver, para me manter perto do navio e esperar ajuda. A última cena em minha cabeça era mergulhar — ou ser forçada a submergir — e bater com força em alguma coisa. Devia ter desmaiado. E também tinha... Jack!

Arfei.

Onde ele está? Éramos os únicos na área de risco, será que ele também caiu? Ou conseguiu se salvar?

Onde eu estou?

Fiquei de pé, com muita dificuldade. Minha boca estava seca e rachada, minha garganta doía, eu estava com muita sede. O céu estava cinza, nublado, vestígios da última tempestade. À minha frente havia muita mata e árvores, uma pequena floresta. Senti medo de entrar lá — por não saber o que encontraria —, mas se quisesse sobreviver, precisava procurar comida e ajuda.

Pequenos galhos e folhas secas machucavam meus pés descalços enquanto eu andava, algumas plantas grudavam em minhas roupas e faziam rasgos. Depois de dez minutos caminhando naquele terreno desconhecido, encontrei uma mangueira. Agradeci aos bons céus e deliciei-me das frutas do pé. Algumas mangas acabaram com minha fome, mas não com minha sede. Mais dez minutos caminhando e encontrei uma bananeira, cujas folhas estavam cheias de água da chuva.

— Ah, meu Deus! Muito obrigada — enfiei-me debaixo das folhas e bebi toda água que pude. Mesmo não sendo muito, seria o suficiente para aliviar a sensação de secura da minha boca e me satisfazer por algum tempo. Havia mais água nas folhas caídas no chão. Bebi-a também.

Não sei por quanto tempo mais andei, nem para onde eu estava indo, só sei que esperava encontrar alguma ajuda. Estava quase me perdendo no meio daquela selva, por isso achei melhor voltar à praia e seguir pela orla.

Em determinada hora, uma sensação de extremo cansaço me percorreu e tive que parar. As nuvens se movimentavam rapidamente pelo céu e logo liberavam o sol. Não consegui ficar sentada na areia

sem fazer nada. Continuei meu caminho.

O cansaço, a fome, a sede, mais a insolação, me fizeram vacilar; comecei a ver coisas, tive alucinações como um andarilho no deserto. Tudo foi ficando distorcido e oscilando à medida que começava a imaginar vozes. Não me lembro de onde eu estava quando a loucura começou, só me lembro de cambalear por alguns minutos — ou segundos — até finalmente desabar na areia fina. Desacordada.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora