Convidada Fantasma

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[JACK]

O som da batida perdurou pelo que pareceu uma eternidade, e conforme as ondas sonoras diminuíam eu me dava conta de que estava sozinho de novo. No escuro. Em uma cela. Impedido de fazer qualquer coisa enquanto Tawã subia e fazia o que quisesse. O que quisesse...

Explodi.

Sacudi as grades, chutei os baldes, derrubei o colchão, gritando de frustração. Tudo que ocupava espaço dentro dessa cela foi acertado com a minha única tentativa de descarregar a raiva. Não havia muito que destruir nesse cubículo, por isso meus ataques aos objetos inanimados foram repetidos, mas violentos. Mal notei a barulheira que estava fazendo quando algo me fez parar de imediato.

— Isso mesmo, libere sua raiva. Mas dá pra fazer menos barulho, por favor?

Uma voz feminina. E familiar. Fiquei parado no meio da cela, olhando para todos os lados em busca de alguém.

Não havia ninguém. Eu estava sozinho.

— Acabou? Ótimo.

De novo. Olhei para a janela gradeada pensando que talvez a voz estivesse vindo do lado de fora, mas não havia ninguém ali também. A voz era alta e clara, parecia estar muito próxima de mim. Corri os olhos pelas outras celas. Todas vazias. Bati em minha própria testa e ri, sem humor algum.

— Estou delirando — balbuciei, mas comecei a ficar preocupado. E então:

— Não seja idiota, claro que não está. — A voz outra vez. Mas onde? — Você não ficou preso aqui sozinho todo esse tempo, sabia?

— Quem está aí?

— Do seu lado, idiota.

Virei a cabeça. Estava vindo de uma das celas privadas. A cela de porta de ferro na parede do fundo, ao lado da minha.

— Tina?

— Sou eu. Aqui estamos novamente, hein?

Fiquei completamente confuso. Havia mais alguém no calabouço? E esse alguém era Tina? Mas não tinha como. Eu não saía do subsolo havia mais de uma semana. Eu teria visto alguém entrando. Eu definitivamente estava delirando.

— C-co-como...? — gaguejei, me perguntando se era maluquice conversar com um fantasma. — Desde quando está aqui?

— Confuso, Jack? Acha que eu apareci aqui do nada? — Em seguida, veio aquela risada maníaca e assustadora da qual eu não sentia falta; típica de Tina. — Estou aqui há mais tempo que você, lindinho. Fui presa na noite em que fugiram.

Tudo bem, isso explicava muita coisa. Mas ainda era muito estranho.

— Então... se você esteve aqui esse tempo todo, por que só se manifestou agora?

— Porque sua explosãozinha estava me incomodando.

Fiquei em silêncio, refletindo sobre os fatos. Tina estava presa desde a noite da fuga, e fora trancada em uma das celas fechadas, isso explicava por que eu não a via. Mas por que ela preferira se esconder? Ah, não importava. Tina era louca.

Dei de ombros e comecei a caminhar pela cela, arrumando minha bagunça.

— Desculpe se exagerei. É que eu precisava fazer isso — eu disse.

— Ah, eu sei. Não se desculpe — respondeu Tina em sua voz esganiçada. — Depois de tantas noites difíceis como esta... nem eu seria capaz de suportar por tanto tempo.

Peguei o colchão fino do chão e joguei-o sobre a base de metal da cama outra vez. Olhei em volta da minha cela, meio decepcionado. Eu queria ter condições de causar uma bagunça maior. Cocei a nuca e me sentei na cama.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora