[JACK]
A luz quente da manhã já iluminava nosso pequeno habitat, aquecia minhas costas enquanto eu terminava de fazer o sexto traço na árvore.
Seis dias já se passaram desde que encontrei Mikayla na praia. Seis dias desde a tempestade. Seis dias perdidos em uma ilha paradisíaca. Achei importante começar a contar no tronco da árvore. Quantos dias mais até que aparecesse um resgate?
Desabei no chão, encostado ao tronco, e observei o céu. Tão limpo e azul que era difícil de acreditar na sua aparência anterior assustadora de pós-tempestade. O sol caminhava para o seu auge. E Mikayla ainda dormia, tão docemente quanto um bebê inocente em seu berço. Já passara da hora de ela levantar, mas deixei-a descansar um pouco; afinal, ela merecia. Ficara acordada até tarde da noite anterior cuidando de mim, molhando minha testa para diminuir a febre, buscando frutas e abrindo cocos sozinha para me manter hidratado. Eu sabia que fora duro para ela, e muito cansativo. Quando se está preso em uma ilha, sem ajuda e sem remédios, qualquer doença pode matar você, até mesmo um simples resfriado. Por isso ela ficara tão preocupada.
Era por causa de seus cuidados que agora eu estava bem, e não acordá-la seria uma das formas de lhe agradecer por isso.
Fiquei sentado sob a sombra da palmeira por mais alguns minutos, observando-a dormir. Até sair do transe e me lembrar de que tinha trabalho a fazer — colher frutos, abrir cocos, amolar o canivete, afiar o galho de caça, etc.
Quando Mikayla acordou, já estava no meio da tarde.
-\-/-
— Bom dia, Bela Adormecida! — Mikayla se levantou lentamente, esfregando os olhos inchados enquanto eu despejava as frutas ao seu lado. — Peguei para você.
Ela sorriu com cara de sono e esticou os braços para se espreguiçar.
— Obrigada. Sente-se melhor?
— Muito melhor.
Mikayla levou a mão até uma manga, que rolou para longe quando ela a tocou. Agachei-me diante dela, peguei a manga e a ofereci, enquanto esperava-a me olhar.
— Obrigado. Por tudo.
Ao que me pareceu, ela não esperava pela gratidão. Fitou-me por um tempo antes de esboçar um meio sorriso humilde.
— Não se preocupe — respondeu com tranquilidade, pegando a manga da minha mão.
Fui para o mar no momento em que os raios ardentes do sol deram uma brecha. Um tempo depois, vi Mikayla sair do abrigo das sombras das palmeiras, enquanto prendia seu cabelo em um coque, e se sentar na areia perto da nossa imensa fogueira. Observei-a discretamente enquanto me refrescava. Ela olhava fixamente para o horizonte, depois para a fogueira, em seguida manteve seu olhar no horizonte. Pensativa, quase alheia à realidade. Era difícil adivinhar o que se passava em sua mente.
Certo momento, não aguentei mais vê-la desse jeito. Saí da água para convidá-la a entrar.
Quando me aproximei, ela se levantou antes que eu dissesse qualquer coisa.
— Jack, precisamos sair daqui — disse de uma forma decidida e estranhamente séria.
— Isso não é possível no momento, querida. — Abri os braços, mostrando a imensidão de água ao nosso redor.
— Estou falando sério. Não sobre construir uma jangada ou algo do tipo, mas sobre explorar a ilha. Deve haver alguma coisa útil lá dentro — ela apontou para a mata.
— É perigoso. Devíamos ficar aqui mesmo e esperar um resgate, você mesma disse isso.
— Estamos aqui há seis dias, Jack, e nada! Vigiamos o horizonte o tempo todo e nada aconteceu até agora.
— E você quer que desistamos? Assim que sairmos pode aparecer um navio e perderemos a oportunidade.
— Perderemos muitas mais se permanecermos aqui! — Percebi que o volume de sua voz aumentava. Ela já devia estar bastante frustrada.
— Não acho que seja por aí. — Cocei a nuca, pensando em argumentos que pudesse convencê-la. — É uma ilha. Não deve ter muita coisa.
— Você não a explorou inteira. Ontem mesmo me disse que o único lugar que não levava a uma praia era cortado por um rio. O que pode haver depois desse rio?
— Você está depositando esperança demais nisso.
— Partiremos amanhã mesmo!
Antes que ela pudesse se virar e ir embora segurei-a pelo cotovelo. Ela me olhou com impaciência.
Alguns segundos depois, começamos a gritar um com o outro.
— Não vamos, entenda isso! É melhor ficarmos aqui. Temos água, comida, até uma piscina natural nós temos. Pode não haver nada depois daquele rio. Podemos nos perder e acabar morrendo!
— Precisamos correr esse risco, Jack! Até ontem você estava quase morrendo. Precisamos de suprimentos — ela fez uma pausa — para voltarmos para casa!
— Mikayla, preste atenção. Não vamos voltar a ver as nossas famílias tão cedo, talvez nunca! Estamos presos aqui! Você precisa pôr os pés no chão e aceitar isso.
Minha mão apertava seu braço, que já ficava vermelho.
Eu estourei, pois não aguentava mais que Mikayla pensasse que voltaríamos, que em breve apareceria um resgate e que conseguiríamos sair dali vivos. Ela sempre comentava sobre o que aconteceria quando voltássemos, e não se voltássemos. Ela não via a realidade como era. Ela era simplesmente incapaz de ver o quão ferrados nós estávamos. Estava sedenta por uma solução, e mesmo que não existisse, corria atrás de uma. As chances de escaparmos vivos dessa ilha eram mínimas e não podíamos reduzi-las mais ainda nos embrenhando na mata.
Eu podia estar sendo pessimista, mas isso não me impediu de ser realista. Será que fora tão rude com ela?
Tive minha resposta ao olhar em seus olhos castanhos. As lágrimas começavam a se formar. Pude ver dor neles. Foi nesse momento em que senti meu coração riscar. Não queria ter feito aquilo.
Mikayla soltou-se do meu aperto com grosseria e correu pela praia.
— Mikayla! — chamei, mesmo sabendo que ela não iria parar. Era tarde demais para se arrepender. O coque se desmanchou enquanto corria, e vi seus cachos desaparecerem à distância. Ajoelhei na areia, amaldiçoando-me pelas palavras ditas.
Não ouvi sua voz pelo resto do dia.
E isso me corroeu por dentro.
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Naufrágio nas Ilhas de Rochas
Romantik"Mikayla e Jack são jovens de quinze anos, com vidas completamente distintas e separadas, que embarcam - literalmente - na maior aventura de suas vidas. Com a colisão do cruzeiro de viagem em que estavam, seus destinos são unidos, e ambos terão de l...