Inesperado

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[JACK]

Acordei bem cedo na manhã seguinte. Os primeiros raios de sol ainda surgiam por trás das árvores. O céu estava rosa.

Mas Mikayla não estava ali.

Na noite anterior, não aguentei o que tinha feito e fui procurá-la. Ela estava escondida atrás de uma grande pedra, com os olhos inchados e vermelhos. Fui recebido com um amigável "dê o fora daqui" e alguns tapas. Deixei-a em paz, com medo de mais agressões. Ela me arranhara e ficaram marcas no meu peito. Contudo, mais à noite, ela apareceu e dormiu no mesmo lugar de sempre. Do meu lado. Como eu sabia que ainda estava magoada, não me atrevi a incomodá-la.

Esperava que hoje ela me perdoasse.

Levantei-me e fui até a árvore talhar o sétimo traço. Dia sete. Depois, fiz minhas obrigações para passar o tempo. Até a hora do almoço Mikayla não tinha dado as caras. Comecei a ficar preocupado, imaginando se ela tinha se infiltrado na mata sem mim.

Fui procurá-la.

Irritado e armado com o galho, adentrei a floresta além do limite que costumávamos ir. Eu não conseguia acreditar no ato de rebeldia daquela garota. Explorar a ilha sozinha? Francamente, como ela podia ser tão burra? Tentei me acalmar, pois a raiva não me ajudaria em nada agora. Mas depois de um tempo nem foi mais preciso. Conforme os minutos foram se passando, a preocupação preencheu todo o espaço da irritação.

Quanto mais eu entrava na floresta, mais escuro ficava, pois a vegetação ia se tornando mais densa e as copas das árvores impediam a passagem da luz. Devo tê-la procurado por meia hora, mais ou menos. A cada minuto eu ficava mais nervoso.

— Mikayla! — gritava, e formava ecos. — Mikayla, onde você está?

Nunca recebia uma resposta.

Certa hora, olhei para os lados e não soube que caminho tomar. Eu não pensava em desistir. Não mesmo. Não pararia até encontrá-la. Mas a essa altura, eu não sabia mais onde procurá-la. Até que meus olhos detectaram os cachos escuros e arrepiados atrás de uma árvore. Soltei uma lufada de ar e corri na direção deles, aliviado.

— Para trás! Não se aproxime! — disse ela, estendendo a mão espalmada sem virar o rosto.

Parei, franzindo as sobrancelhas, por um minuto, sem entender. Então me lembrei.

— Ah, você ainda está brava comigo — resmunguei, entediado.

— Não é isso, quer dizer, isso também. Mas você tem que me deixar sozinha!

— O quê? Por quê? O que está acontecendo?

— Nada. Você não precisa saber. Só me dê alguns dias.

— Dias? — exclamei perplexo. Não conseguia entender o que ela queria dizer.

— É. Você não entende...

— Então me explique.

Aproximei-me um pouco mais e Mikayla cobriu sua barriga e coxas com uma folha grande. Parei e sentei-me do lado oposto da árvore, de costas para Mikayla e encostado no tronco.

— Olha, seja o que for, você pode me contar — eu disse, da forma mais tranquilizadora que pude. — Estamos juntos nessa. Tem que aprender a confiar em mim.

Ela permaneceu quieta. Para ganhar sua confiança, eu tinha que fazer alguma coisa primeiro.

— Ok. Desculpe-me por ontem. Eu não devia ter falado daquele jeito com você.

Silêncio ainda.

— Mik? Pode me dizer o que está fazendo aqui? — Era a primeira vez que eu a chamava assim, e eu esperava que ela notasse, pois queria chamar sua atenção e convencê-la a falar comigo.

Naufrágio nas Ilhas de RochasOnde histórias criam vida. Descubra agora