CAPÍTULO 12-MOMENTO TENSO!

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(ALERTA! ESTE LIVRO É IMPRÓPRIO PARA MENORES!)


Com o Jardel aparecendo pra mim praticamente todos os dias e às vezes mais de uma vez por dia, eu não conseguia me sentir mais um viúvo e muito menos sentia estar de luto.

Algumas pessoas poderiam supor que com o grande amor que eu senti pelo Jardel quando ele estava vivo, eu deveria estar feliz por voltar a vê-lo...mas não dava! Eu sabia que ele estava morto...eu sabia que ele não tinha corpo físico...eu sabia que ele ia e vinha entre dois mundos...eu sabia que ele parecia onipresente em minha vida! Tudo, no mínimo, surreal demais pra mim!

Pra falar a verdade, Jardel agora, em alguns momentos, estava mais presente, mais íntimo do que em vida: aparecia quando eu estava tomando banho, quando eu estava defecando, quando eu abria os olhos pela manhã e ele já estava lá deitado ao meu lado...ou mesmo quando ele montava na garupa da minha moto e lá ficava até que aparecesse algum cliente!

Ao invés de estar chorando pelos cantos pela perda do meu parceiro, eu estava era nervoso com a possibilidade dele vir interferir na minha agora extinta  vida amorosa.

_Eu tenho o cara perfeito pra você, Cabu!_disse Jardel no meu quinquagésimo dia de viuvez.

_Quem? O seu grande amigo que lhe tirou da cova e trocou as suas  roupas?_falei sem tentar disfarçar a minha contrariedade pela presença dele.

Em alguns momentos eu tinha algumas ideias meio loucas, como fazer o homem que me amava passar a me odiar...o homem que me dava tanta atenção e carinho agora começar a me rejeitar e ignorar!

Em alguns momentos eu cheguei a rezar para que Deus  ajudasse Jardel  a,  finalmente, terminar de fazer a travessia para o outro mundo!

Jardel deu aquela risada que eu amava quando ele ainda era de carne e osso e não era ainda um espectro!

_Está com ciúmes do Geraldo, Cabu? Só porque ele me viu pelado, é?_riu mais ainda._Te dou a minha palavra  que não rolou nada entre a gente!

Fiquei puto com aquilo: será que o meu falecido parceiro não respeitava os próprios restos mortais?

_Ciúmes? O cara é um herói por ter trocado as roupas de um morto enterrado há quarenta dias!_tentei fazê-lo se conscientizar da situação bizarra.

_Quarenta e cinco, não se esqueça._ele corrigiu. _Era ele ou você teria que fazer a coisa sozinho.

Senti um arrepio de repulsa só de pensar naquilo! Cenas de filmes que envolviam zumbis vieram a minha mente...tipo cair um braço deteriorado do Jardel  quando eu fosse tirar a camisa dele e tal. 

_Sabe o que eu fico pensando? Por que a gente não pode ter aquelas conversas normais entre vivos e mortos do tipo se dói pra morrer...se você viu o momento...se demorou...ou mesmo se realmente tocam harpas nas nuvens e se tem os tais campos floridos...

Ele gargalhou novamente  e aí eu fiquei mais puto  ainda: aquilo não era um anjo! Era um capeta pronto pra me infernizar!

Ele às vezes aparecia montado na minha garupa quando eu não tinha passageiro e começava a falar mal dos homens pelo caminho, como se eu estivesse no cio e a fim de trepar com todos eles!

_Aquele ali está com a cueca rasgada...aquele lá tem a boca fedendo...aquele outro  espanca o namorado...aquele mais à frente está tão endividado que  deve até a alma pro diabo...aquele do carro vermelho  vai exigir que você use calcinhas...nem pensar, amor!_falou com repulsa batendo no meu ombro para que eu continuasse andando.

QUASE UM ANJO-Armando Scoth Lee-Romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora